MENINOS DO BENÉ RESISTÊNCIA, Inez Resende de Jesus
(organização), II Antologia de Jovens Escritores de Itabaiana, Infographics,
2024, 54 p Isbn 978-65-5730-204-0. Financiada pela Lei Paulo Gustavo do Governo
Federal.
Esta é uma antologia e compõe-se de textos recolhidos de estudantes pela professora Inez Resende de Jesus, antes de sua aposentadoria na Escola Municipal Vice-governador Benedito Figueredo, no bairro Cruzeiro do Século, que hoje se chama São Cristóvão, em Itabaiana, um lugar que já foi da pesada. Cruzes de um cemitério, símbolos hoje, pois ninguém saiu incólume desta fase dura. A chegado do IFS, do Lar Cidade de Deus, do Seminário Arquidiocesano, os gritos dos Meninos do Bené e de suas famílias, exigiram um cuidado especial do Poder Público.
O livro de 54 páginas somente é aberto com uma dedicatória dura aos dezoito estudantes que tombaram na mão do crime, no entorno da escola: Danille Chagas, Felipe Matos, Alessandra Andrade, Valdervan Dias, Ana Paula Souza, Willian Souza Bacuri, Valdemir Barbosa, Clésia de Aquino Menezes, José Adilson Bispo, Marcos Bispo, Richardson, John Teixeira, Maycon Douglas, Luan Matheus, Daniel, Edenilson Oliveira, Eduardo Santana, Cleônio.
O doutor da Universidade Federal de Alagoas e imortal da Academia Itabaianense de Letras, Anderson da
Silva Almeida, outra testemunha ocular, pois atuou como professor do Bené, diz na
apresentação: “Nossa pressão arterial sobe ao ouvir o garoto de 12 anos
exclamar: sou o homem da família, preciso trabalhar, ou, quando ficamos a
par da tortura sofrida em silêncio pela
menina violentada aos nove anos de idade...”
Os textos são poemas falando mais de amor do que de dor, mas lá no
fundo gemem sofredores.
“Uma bala fria fez seu coração parar /E parou também todos os
sonhos / que minha estrelinha queria realizar” ( “Minha irmã virou uma estrelinha” de
Jamily dos Santos Souza).
São dolorosas crônicas, nas quais piscam lâmpadas de
esperança no breu. “Vinte horas, com o corpo dolorido pelo cansaço, faço
minha última entrega. O dia foi bom, consegui juntar oitenta reais. Penso em
meus irmãos famintos e corro para o supermercado antes que ele feche. Compro
pão, mortadela, bolachas, manteiga, óleo, arroz e dois quilos de carne. Acomodo
tudo no fundo da carroça e olho para aqueles mimos que vou levar para minha
família. (...) Meus irmãos destroçam o pão, a mortadela e os biscoitos. Minha
mãe deixa cair uma lágrima. Dou-lhe um beijo e a acalmo dizendo que quando as
coisas melhorarem eu voltarei para a escola. Na manhã seguinte, bem
cedinho, pego minha carroça e retorno ao
mercado. Que escola? Tenho doze anos... sou o homem da família.” (
“Infância Perdida”, de Alysson de Jesus).
Todos os textos seguem o mesmo batido e revelam um povo que
luta, que apanha, que morre, que é discriminado, mas não abre mão do sonho de
viver como gente.
Por fim, mais uma estrofe
de Silmara de Jesus no poema “Menino de Rua”, que dispensa qualquer comentário.
“Menino de rua...
de corpo magrinho e pé no chão
quem não te conhece, te julga
Cuidado, este moleque é ladrão!”
(Por Antônio FJ Saracura, Aracaju em 2024nov12)
Li na Academia em janeiro 2025
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