terça-feira, 12 de novembro de 2024

MENINOS DO BENÉ RESISTÊNCIA

 

MENINOS DO BENÉ RESISTÊNCIA, Inez Resende de Jesus (organização), II Antologia de Jovens Escritores de Itabaiana, Infographics, 2024, 54 p Isbn 978-65-5730-204-0. Financiada pela Lei Paulo Gustavo do Governo Federal.   



 

Este é um livro de antologia, são textos recolhidos de estudantes pela professora Inez Resende de Jesus, antes de sua  aposentadoria na Escola Municipal Benedito Figueredo, no bairro  Cruzeiro, que hoje se chama São Cristóvão, em Itabaiana, um lugar que já foi da pesada.

Ele é aberto com uma dedicatória dura para dezoito  soldadinhos que tombaram na mão do crime, que vigiava a escola. São cruzes de um cemitério, símbolos hoje, pois a retaguarda é imensa, ninguém saiu incólume, nem a professora Inez Resende de Jesus.

Danille Chagas, Felipe Matos, Alessandra  Andrade, Valdervan Dias, Ana Paula Souza, Willian Souza Bacuri, Valdemir Barbosa, Clésia de Aquino Menezes, José Adilson Bispo, Marcos Bispo, Richardson, John Teixeira, Maycon Douglas, Luan Matheus, Daniel, Edenilson Oliveira, Eduardo Santana, Cleônio.

O pequeno grande (intelectual, doutor da Universidade Federal de Alagoas e imortal da  AIL), Anderson da Silva Almeida, outra testemunha ocular (ex professor do Bené) diz, na apresentação:

“Nossa pressão arterial sobe ao ouvir o garoto de 12 anos exclamar: sou o homem da família,  preciso trabalhar, ou, quando ficamos a par  da tortura sofrida em silêncio pela menina violentada aos nove anos de idade...”

São poemas falando mais de amor do que de dor, mas lá no fundo o poema geme sofredor. 

Como se percebe em “Minha irmã virou uma estrelinha” de Jamily dos Santos Souza:

 

“uma bala fria fez seu coração parar

E parou também todos os sonhos

que minha estrelinha queria realizar”.

São dolorosas crônicas, como “Infância Perdida”, de Alysson de Jesus, na qual há piscam lâmpadas de esperança no breu.

“Vinte horas, com o corpo dolorido pelo cansaço, faço minha última entrega. O dia foi bom, consegui juntar oitenta reais. Penso em meus irmãos famintos e corro para o supermercado antes que ele feche. Compro pão, mortadela, bolachas, manteiga, óleo, arroz e dois quilos de carne. Acomodo tudo no fundo da carroça e olho para aqueles mimos que vou levar para minha família. (...) Meus irmãos destroçam o pão, a mortadela e os biscoitos. Minha mãe deixa cair uma lágrima. Dou-lhe um beijo e a acalmo dizendo que quando as coisas melhorarem  eu voltarei  para a escola. Na manhã seguinte, bem cedinho, pego minha carroça e retorno ao  mercado. Que escola? Tenho doze anos... sou o homem da família.”

Todos os textos seguem o mesmo batido e revelam um povo que luta, que apanha, que morre, que é discriminado, mas não abre mão do sonho de viver como gente.

 

“Menino de rua...

de corpo magrinho e pé no chão

quem não te conhece, te julga

Cuidado, este moleque é ladrão!”

(É apenas uma estrofe pega ao acaso destes  “Meninos do Bené”, que tocaram o coração da professora Inez e tocam o meu também).

 

(Por Antônio FJ Saracura, Aracaju em 2024nov12)

 

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