quinta-feira, 28 de novembro de 2024

AINDA ESTOU AQUI, filme de Walter Salles,

 

AINDA ESTOU AQUI, filme de Walter Salles, 2024, em exibição comercial.

 



Em meados de 1972, eu trabalhava na Espal/Petrobras, no sétimo andar do edifício Anhanguera, na Barão de Itapetininga, 151, centro de São Paulo. Em uma manhã de um dia comum, na portaria, fui recebido por um pelotão de militares com metralhadoras e cães. O capitão examinou minha documentação e me trancou em uma sala, onde já estavam colegas, sob a mira de armas e sendo interorogados. 

No final da manhã, fomos liberados e subimos ao Escritório, mas um analista recém admitido não estava conosco. Foi levado para o DOI-Codi, as pessoas falaram. Depois, a família veio do Ceará e não o achou em canto nenhum.

 Nunca mais tivemos noticia dele.

 

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“Ainda Estou Aqui” é um filme brasileiro de 2024, do gênero drama biográfico, dirigido por Walter Salles, roteiro de Murilo Hauser e protagonizado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro e com Selton Mello no papel de Rubens Paiva. Baseia-se  na autobiografia homônima, de 2015, escrita por Marcelo Rubens Paiva (filho de Rubens).

Sua estreia no Festival de Veneza aconteceu em 1º de setembro de 2024, tendo sido aplaudido por dez minutos consecutivos pelo público. O filme foi premiado com a Osella de Ouro de Melhor Roteiro e foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema, como representante do Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2025.

Foi lançado oficialmente nos cinemas brasileiros, em 7 de novembro de 2024 e imediatamente se tornou um sucesso de bilheteria. Já foi visto por mais de 1,8 milhão de espectadores

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“Ainda estou aqui” acontece no início da década de 1970. O Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar.  No Rio de Janeiro, a família Paiva (Rubens, Eunice e seus cinco filhos) vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens, que fora deputado cassado em 1964 pelo golpe militar e, anistiado, retornara ao Brasil, é levado por militares à paisana  e desaparece. A esposa e uma filha também são presas, mas liberadas.

O filme é o retrato violento deste período por que muitos de nós passamos. Traça um paralelo entre a vida normal e feliz de uma família e o terror da perseguição política truculenta e arbitrária.

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Eu o assisti esta semana aqui em Aracaju. Mesmo nas cenas aparentemente triviais, há o punhal do torturador generalizando o castigo injusto: O gerente do banco, com má vontade, exige a presença do cliente morto para liberar o saque que manterá a família dele. O amigo e sócio de Rubens vende o terreno filé mignon por uma bagatela, quando poderia aceitá-lo como garantia de sucessivos empréstimos. O cachorrinho da família  é atropelado e morto pelo milico, apenas porque  vigiava pacificamente sua agressiva e contínua  presença em frente à casa da família.

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Eu convivo hoje (60 anos depois da dita revolução) com pessoas que esperam pelo retorno da ditatura militar. Que prestam continência a coronéis golpistas, e os têm como heróis. Que, secretamente ou não, ouvem discursos inflamados gravados  pregando o genocídio dos mais fracos e dos mais livres,  e babam de prazer, como se ouvissem belas peças de Mozart ou Chopin.   

Um importante líder político muçulmano disse outro dia na Televisão que os campos de concentração do nazismo são ficção. Que as famílias judias, as ciganas, as de minorias raciais, as de não arianos, dizimadas, são inventadas, são personagens de romances apenas.

Um presidente do Brasil recente, até antes de ser presidente, homenageou publicamente como “herói nacional”, Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), major Tibiriçá de má fama, coronel do Exército, comandante do DOI-Codi entre setembro de 1970 e janeiro de 1974 e o primeiro torturador condenado pela Justiça.

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“Ainda estou aqui” lembra-nos dos que foram torturados pela ditatura militar  para que não permitamos que aconteça de novo, e não sermos torturados outra vez. Que tenhamos cuidados com os novos torturadores, que estão de prontidão, aguardando ordens, são alunos aplicados da Escola das Américas, que ensina a submissão incondicional aos Estados Unidos.

Recomendo o filme, dou-lhe "bonequinho viu" aplaudindo em pé, critério de avaliação  do jornal O Globo de filmes exibidos desde 1938. 

E para quem  ainda gosta de ler livros, recomendo “A Casa dos Espíritos” da peruana Isabel Alende, que chora a mesma dor no Chile de Pinochet.. 

(Por Antonio FJ Saracura, em 28 de novembro de 2024).


 ANEXOS

https://documentosrevelados.com.br/tpos-de-tortura-usados-durante-a-ditadura-civil-militar/

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/08/08/bolsonaro-chama-coronel-ustra-de-heroi-nacional.ghtml

https://cinemarcoblog.net/2020/12/17/o-bonequinho-vai-ao-cinema-em-o-globo/



 

 

 

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