FOI ASSIM... Jodoval Luiz dos Santos, Brasil Casual,2023,180
páginas, isbn 978-65-86316-66-7
Que Brasil é esse, que não há outro igual?
Podemos falar mal dele
para melhorar ainda mais, é um sagrado direito que temos e que ninguém hoje nos
reprime por tê-lo.
Aqui, uma criança nascida em manjedoura pode crescer na sociedade,
ocupar os píncaros inacessíveis em qualquer outro canto. Há exemplos em toda parte,
haja vista eu, que não cresci tanto em relação aos meus contemporâneos (Mendonças,
Peixotos, Barbosas de Jesus, Teixeiras, todos de minha família e de meu lugar),
mas cresci até demais em relação aos exagerados sonhos de um menino amarelo.
O Brasil não estabelece fronteiras aos filhos, todo rincão é
de quem chegar e quiser ficar. A saúde é democrática, todos tem acesso sem
barreira. O estudo é universal, desde o básico (há em toda esquina) e inclui a alimentação
que faz a pessoa digna; ao superior, que garante espaço aos jovens que a história
discriminou no passado. A comida básica, os programas de governo proveem. A
moradia, o lazer, a segurança, que evoluem pouco a pouco. Como há o advogado para defesa nas encrencas,
como o sacerdote para confortar o espírito, como a estrada para levar ao melhor
lugar de viver.
Nem tudo são flores (diriam os poetas), mas carecem espinhos para
a flor cheirar mais (ninguém duvide).
O livro “Foi Assim... “ do empresário e intelectual Jodoval
Luiz dos Santos, sergipano de Riachuelo, conta essa caminhada possível, disponível.
“Meu pai se chamava Manué, era saveirista e, aos 21 anos,
quando quis casar, possuía de seu, somente uma esteira, uma rede, uma chaleira
de ferro, duas canecas de estanho de duas panelas de barro. O casal (juntado apenas) tocou a vida como pode. Nasceu o primeiro
filho (Eu, Jodoval) e o bercinho era uma tipoia (redinha feita de pano de saco).
Depois nasceram mais 14, um a um, em condição similar.
Meu primeiro trabalho (com
meus irmãos, ainda menores) foi de lançador de tijolos na olaria de seu Nilton.
Eu era tão pequeno que não podia colocar o tijolo no chão: caía por cima. No
final de semana, íamos ao riacho do Porto de Quina (morávamos em Roque Mendes,
Riachuelo) catar pequenos caranguejos e caleixos (gorés) que meu pai usava como
isca no monzuá para pegar moréia.”
A pobreza era geral, todos em volta eram assim.
Aos oito anos, comecei a trabalhar no comércio, no armazém de
seu Ivo Souza, mas minha mãe não nos deixava largar a escola. Em busca de
melhorias (1959), meu pai vendeu a casinha em Roque Mendes e migrou para
Aracaju. Passamos a morar de favor na Olaria de Seu Nori, ele era de Roque
Mendes, no atual Jardim Centenário. Eu e Deon botávamos barro e amassava. Nininha,
Jairinho e Judei faziam tijolos. Papai batia, engradava em formas de parede
para enxugar, depois queimava. Desenfornávamos, arrumávamos no pátio para o caminhão
pegar.
Um dia, meu pai achou que já podia construir uma casinha na
rua Rio Grande do Sul, onde comprara um terreno com o dinheiro da venda do rancho
de Roque Mendes.
Porque não tinha o dinheiro para lenha (única parte que lhe
cabia na bondade de seu Nori) bateu adobos crus. Veio uma chuvarada e
desmanchou todos, nossa casa virou um mar de lama, ainda na Olaria. Começamos
então a bater tijolos de verdade. Quando os enfornamos, antes de cobrir, deu
uma trovoada que inundou a Olaria e os desmanchou. Outra vez! Mas meu pai não desistiu.
Um amigo me arrumou um emprego na Jotagê, foi aí que me
envolvi com a escrituração. Aprendi com seu
Josias Passos muitas lições: “Seu Santos, não seja velhaco, mas também não seja
bom pagador demais. E não pague antes de conferir”.
O destino me ligou ao professor José Sebastião, que possuía
um escritório móvel de contabilidade na mala de seu Gordini, ele atendia clientes
importantes. Quando concluí o curso de Técnico de Contabilidade, em 1969, recebi
de presente este escritório do professor Sebastião.
xxx
Nós conhecemos o doutor Jodoval, dono da Serteco, um dos mais
importantes escritórios Contábeis de Sergipe, tocado por alguns filhos. Ele fundou
academias de Letras, comanda associações de classe aqui e no País todo, é doutor
em Ciências Contábeis. É um dos grandes de Sergipe, autor de livros, entre os
quais, este “Foi Assim” e “Tempos Saudosos”. O primeiro são fragmentos de suas
memórias, dolorosas, entretanto, queridas, alguns revelados acima. O segundo compõe-se
de crônicas e poemas: textos saídos da
alma, resgate de momentos jocosos, heroicos, desde a infância, como se
estivesse passando a limpo a biografia revelada em “Foi Assim”
Viva o Brasil!
(Por Antônio FJ Saracura, em 01/01/2025).
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