quarta-feira, 25 de novembro de 2015

PORTO DA FOLHA FRAGMENTOS DA HISTÓRIA E ESBOÇOS BIBLIOGRÁFICOS, Manoel Alves de Souza


PORTO DA FOLHA FRAGMENTOS DA HISTÓRIA E ESBOÇOS BIBLIOGRÁFICOS, Manoel Alves de Souza, Edição do autor, 2009,413 páginas



O intelectual e historiador de escol, Pedrinho dos Santos (“A Proclamação da República na Missão de Japaratuba”, e muitos outros) que o diga. Esse Manoel Alves de Souza “não é um novato nas caminhadas da vida intelectual de Sergipe”.

E nem poderia ser, pelo que mostra a fotografia aposta na página 21 do seu livro, pelo curriculum festejado por Pedrinho, pela obra que está à venda nas livrarias da cidade. A obra transpira pesquisa, árduo trabalho, missão de vida, maturidade consciente. Eu senti isso! Denso, rico em informações, restabelece a memória de 71 personalidades do município sertanejo que se destacaram como militares, padres, donos de terras, professores, funcionários de alto nível. E ainda apresenta dados sobre a origem de Porto da Folha, e entra na segunda guerra mundial, com seus conterrâneos guerreiros. E muito mais.

Se em Porto da Folha até então eu só conhecia Antonio Carlos do Aracaju (que nem é citado no livro) e Pedro Alves de Souza, que foi seminarista comigo nos idos de 1960, tem tanta gente ilustre, o que não dizer de todo o Estado. Luiz Antonio Barreto está longe de concluir o seu trabalho (“Personalidades Sergipanas”).

Os buraqueiros tem muito é que comemorar a obra. E nós todos brasileiros, também!
Estes 71 ilustres poderiam ter sido comidos pelo cupim do esquecimento eterno. Como muitos de outras cidades com menos sorte. Mas estes estão agora eternizados, guardados numa fonte indelével e acessível (o livro) para que estudiosos busquem subsídios, escrevam desdobramentos da vida e obra de cada um, para a nossa história autêntica.

Ao lado de sobrenomes como Britto e Feitosa, outros muitos brilham (e brilharam) na vida econômica, cultural nascidos no sertão de Porto da Folha. Lendo o livro, eu conheci os heróis e as epopeias, pois o autor entranhou os fatos mais importantes por que passou cada um dos biografados. E neste ponto, o livro ganha ares de romance épico, quando fala da questão de terras, a fazenda Pilão tomada na tora pelo latifundiário Oliveira Rezende. A fazenda Araticum de Etelvino Tavares e a intervenção profícua de sinhozinho Bahia (177). As filhas do padre Gervásio e a sua teimosia em se manter padre (188). Padre Jugurta, que certamente seria bispo, como seus colegas de seminário (Mário Vilas-Boas, Avelar Brandão), se não encontrasse a bela Aristela. E o concílio Vaticano II (até nele) “dom Manoel” entra e se envolve como se fosse um cardeal. O batizado do cangaceiro Balão (199), os casamentos surpresa do padre Lima (200), o conluio entre coiteiros, cangaceiros e volantes. Padre João Lima, um ilustre buraqueiro, chegando a ser considerado prefeito (paralelo) de Frei Paulo, pelas obras que realizava (255).

Essa plêiade de buraqueiros humildes ingressou nas forças armadas, nos seminários, catados pelos franciscanos, pelos capuchinhos, pelos seculares, pelos salesianos nas várias Santas Missões. Depois foi puxando os irmãos mais novos, transformando-se todos em ilustres sergipanos, que agora nunca mais esqueceremos.

E lendo o livro eu fui reconhecendo alguns deles, como Edson Ulisses de Melo, que sempre vejo nas solenidades públicas a quem cumprimento de longe.

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Há dois outros livros sergipanos, “A História de Lagarto” de Adalberto Fonseca, e “Japaratuba da Origem ao Século XIX”, de Eduardo Cabral, que me causam similar satisfação como este “Porto da Folha”, do professor Manoel Alves. Estão além os três. Como se fossem, sei que não o são, obras definitivas, cabais. Elas ficarão à vista, em minha biblioteca, como santos de veneração.

O professor Pedrinho dos Santos, habitante do “Depósito Literário” da Biblioteca Epifânio Dórea (a caverna escura onde São João Apóstolo escreveu o Apocalipse), prossegue gastando latim no prefácio, útil latim. “O livro do professor Manoel Alves Souza escapa dessa visão tecnicista e inconsequente, enxerga palmos adiante e entende, sobretudo, que na história de sua gente se acha um pedaço da explicação da própria sociedade sergipana.”

Não se apoquentem, pois a escuridão aludida à caverna de são Pedrinho, é apenas virtual. Sete candeeiros de ouro alumiam de sabedoria a igreja encravada no concreto da biblioteca sergipana. Os fiéis saem pesados, prenhes, da boa e consiste informação.

Assim como os três livros e respectivos autores citados mais acima, há paróquias (igrejas e vigários) que, naturalmente, me incutem veneração idêntica: Este “Depósito Literário” do professor Pedrinho dos Santos, o apartamento-biblioteca de Jackson da Silva Lima e o Instituto Tobias Barreto de Luiz Antônio que não me sairá jamais da memória.  Para ficar no mesmo número mágico da Santíssima trindade. Já que falo de santos.







Sala de Leitura

Porto da Folha Fragmentos da História e Esboços Bibliográficos, Manoel Alves de Souza, Edição do autor, 2009 - O historiador de escol, Pedrinho dos Santos (“A Proclamação da República na Missão de Japaratuba”) que o diga. Manoel Alves de Souza “não é um novato nas caminhadas da vida intelectual de Sergipe”. E nem poderia ser, pelo que mostra a fotografia aposta na página 21 do seu livro, pelo curriculum festejado por Pedrinho, pela obra que está à venda nas livrarias da cidade. “Porto da Folha” transpira pesquisa, árduo trabalho, missão de vida, maturidade. Eu senti isso! Denso, rico em informações, restabelece a memória de 71 personalidades do município sertanejo que se destacaram como militares, padres, donos de terras, professores, funcionários de alto nível. E ainda apresenta dados sobre a origem de Porto da Folha, e também na segunda guerra mundial, com seus conterrâneos guerreiros. E muito mais. Leiam!
(Publicada na Perfil Ano 18 n. 1)


PROCURANDO O PEQUENO PRÍNCIPE, Carlos Gomes de Carvalho Leite

PROCURANDO O PEQUENO PRÍNCIPE, Carlos Gomes de Carvalho Leite, Infographics, 2013, 120 páginas, sem isbn.

  














Ao visitar o professor Carlos Leite para submeter trechos de meu livro que falava dele (Meninos que Não Queriam ser Padres) dei-lhe de presente “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, que são memórias de meu tempo de menino nos rústicos sítios de Itabaiana. Uma semana depois, retornei para pegar o seu “ok” ou “nok” e o encontrei com um livrinho na mão, último exemplar (conforme me disse) guardado com desvelo para um amigo que demorou demais a aparecer e estava ali à sua frente.  Havia uma dedicatória desenhada com letra tremida. Ele me entregou cheio de emoção:

 

— É para você, meu filho!

 

E, com jeito cúmplice, acrescentou:

 

— Eu também publiquei um livro de memórias.

 

Procurei o pequeno príncipe pela Chapada dos Índios e pela Cepa Forte, andei com os Paiaiás pelas estradas de areia de Sergipe menino, conversei com Canário, filho da cega Luiza, confessei meus pecados ao Padre Aço (que nem me deu penitência). E sinhá Laura, meu Deus! Quanta resignação! Peguei o trem da Leste e varei o mundo. Gostei demais.

 

O velho professor (“uma mãe”, conforme digo lá no meu livro) acrescentou mais algumas crônicas ao acervo anteriormente publicado e está nos dando, agora, em segunda edição, um presente inestimável no seu aniversário de noventa anos (quando deveria receber). Um livro como esse não poderia morrer na primeira edição.Tem que permanecer disponível sempre, para ser lido pelos filhos da Chapada dos Índios (Cristinápolis) e da Cepa Forte (Jandaíra-BA) e por todos nós que nos atiçamos com reminiscências de nossa gente.

 

Depois da festa de aniversário em família e da missa de Ação de Graças na Igreja de Nossa Senhoria Menina, onde cada presente recebeu um exemplar, doutor Carlos mandou dezenas de exemplares aos párocos de Cristinápolis e Jandaíra, para que os paroquianos das duas cidades pudessem saborear também as histórias dos antepassados. 

 

Eu fiquei encarregado de levar exemplares às bibliotecas Clodomir Silva e Epifânio Dórea, ao Instituto Histórico Geográfico e à Academia Sergipana de Letras.

Talvez o autor ainda disponha de um ou dois, não dou certeza, caso você se interesse. (Publicada na revista “Perfil” ano 16, número 03)

 

(Aracaju, dezembro de 2012, por Antônio FJ Saracura)

 

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Nota:

A seguir, está a mensagem da família publicada nas Redes Sociais, em janeiro de 2023, comemorando (em 20 de fevereiro de 2023) cem anos de vida do escritor e advogado Carlos Gomes de Carvalho Leite, in memoriam.

 

 





 










ANO DO CENTENÁRIO DE CARLOS GOMES DE CARVALHO LEITE
20/02/1923
20/02/2023



Em 20 de fevereiro de 1923 nascia Carlos Gomes de Carvalho Leite, filho mais novo de Dr. Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Dona Maria Delmira de Faria Leite.
Carlinhos como era chamado por seus irmãos nasceu e foi criado numa grande família, tão grande que já nascera tendo alguns sobrinhos e sobrinhas.
Como se dizia antigamente, foi a raspa do tacho, pois sua mãe já o teve com seus 44 anos de idade e seu pai às vésperas de completar 50 anos. Pois sim, o Dr. Leonardo Gomes de Carvalho Leite completa neste ano de 2023 os seu 150 anos, pois este nasceu aos idos dos anos de 1873.
Apesar de ser a raspa do tacho, teve uma vida mais duradoura que seus pais. Dona Marocas, como era conhecida sua mãe, morreu aos 60 anos e seu pai aos 80 anos, já o caçula da família chegou aos 94 anos, falecendo de em 2017.
Carlos Gomes de Carvalho Leite, Dr. Carlos para uns, Professor Carlos para outros ou simplesmente Carlinhos para muitos, foi uma criança feliz e essa felicidade está descrita em seu livro "Memórias de Infância", um adolescente responsável com suas obrigações e um homem digno, respeitoso e temente à Deus.
No pós guerra foi cursar direito na faculdade de direito em Maceió onde conheceu sua futura consorte.
Casou-se com D. Maria Luiza Lessa de Carvalho Leite com quem teve dois filhos, Luiz Leonardo Gomes de Carvalho Leite e Miguel Carlos Lessa de Carvalho Leite, convivendo com a esposa por quase 57 anos até o falecido desta em 2007.
Por onde passou foi respeitado e adorado por seus pares da justiça ou por seus alunos.
Depois de passar 10 anos longe de sua querida esposa na resistiu as saudades e atirou-se de volta aos braços da amada que o esperava saudosa na casa do Pai.
No momento de sua partida só lhe faltou o ar tão necessário para vida, uma simples parada cardiorrespiratória. Assim como Deus lhe deu Ele tirou.
De resto nada lhe faltou e nesse momento em que festejamos seu centenário, quero agradecer todo o carinho que os patentes lhe deram em vida, agradeço aos verdadeiros amigos, aos eternos alunos e por fim agradecer a alguns estranhos que cuidaram com dedicação e carinho nos seus últimos anos de vida, estranhos que marcaram sua passagem e que hoje consideramos parte da família.
Procurei não citar nomes para não ser ingrato com alguém.


Alguns comentários na Rede Social: 

Francisco Augusto Ramos (Morávamos nas mesmas pensões em Estância, quando ele era Promotor Público. A última foi a de Dona Iaiá Ralin. Devo-lhe favores que jamais terei com que pagar. Era meu conselheiro. Mas nem sempre seguia os seus nobres e leais ensinamentos).

Paulo Amado Oliveira (Grande homem! Bom e do bem).

Francisco Augusto Ramos (Paulo Amado Oliveira verdade. Tivemos sorte de convivermos com ele).

Paulo Fontes Fontes (Que bela estória! Os povos dignos e civilizados sempre reverenciaram os seus familiares e heróis. E mesmo aqueles simples cidadãos e cidadãs, de todas as épocas, merecem o nosso carinho e as nossas homenagens. Parabéns).

Ana Maria Medina (Grande homem, dotado de valores éticos e morais, muito caridoso, deixou saudades).

Francisco Augusto Ramos (Ana Maria Medina poucos procederam como foi o comportamento dele).

Francisco Augusto Ramos (Filho do Advogado que recebeu a carteira número 1 da OABSE, guardada hoje na Seccional como relíquia entregue pelo filho).

Ana Maria Medina (Concordo plenamente).

Antônio Saracura (Meu professor quando estudei no seminário e um dos personagens do romance que escrevi: "Meninos que não Queriam ser Padres". Grande amigo de todo seminarista e, especialmente, meu amigo da vida toda).

OS MAIS ADMIRADOS (revista), Araripe Coutinho

OS MAIS ADMIRADOS (revista), Araripe Coutinho, revista, 2012.


Trata-se de uma homenagem a personalidades daqui da terra e também do envolta. O destaque é para meu conterrâneo José Cunha, o mega construtor. Minha mãe conta que o pai dele, quando em menino na Matapoã, ia à tenda de meu avô Totonho Bernardino (nas Flechas). Era gordinho, e meu avô, apontando sua barriga, perguntava: “Ô Luiz, isso é barriga ou pança?” E ele defendia-se: “Ô Totonho, e isso aí é ferro ou ferrugem?”. Referia-se à barra que meu avô moldava na forja.
Há vários outros ilustres considerados na revista: Paulo Barreto, Zé Peixe, Joubert Uchoa, Excelsa Machado (esposa de Expedito Souza das Memórias de Aracaju), Hamilton Maciel (república de Pão de Açúcar), Jozailto Lima (Viagem na Argila, muito bom).

Depois desse número, não vi mais a revista circulando. Teria morrido como o autor (Araripe), que deixou um vazio na cidade?

(Publicada na edição perfil 16/03)




RASGANDO O VERBO, Lilian Rocha

RASGANDO O VERBO, Lilian Rocha,InfoGraphics,2010,páginas:90 il. 20cm, ibsn (não anotado)


Sempre escrevo mais sobre o autor do que sobre a obra. Ninguém espere uma crítica literária, à moda de Vieira Neto ou Ezequiel Monteiro (para citar apenas dois e daqui). Terão de mim apenas considerações sobre a literatura produzida e, algumas vezes, aspectos do livro que me marcaram para o bem ou para o mal. O meu intuito é atrair os leitores para os livros que valem a pena e afastá-los daqueles que podem matá-los. Matá-los se não fizerem como eu, abandoná-los.
Eu conheci a escritora Lilian Rocha, autora de “Rasgando o Verbo”, primeiramente, pela leitura de “O do Bilhete” (gostosas e inspiradas crônicas revelando a vida íntima do grande Colégio Arquidiocesano de Aracaju. Nem o Colégio nem nós jamais vamos conseguir pagar o bem que este livro nos fez). Depois, deliciei-me com “O Chá das Oito” (o bate papo com objetos que estão a nossa volta destilando ensinamentos que nunca mais se apagarão de minha mente). Na sequência, mergulhei em “Antes da Escuridão” (tateando pelas veredas dos nervos óticos e me embasbacando diante da panorâmica retina, engolfado no drama intenso da personagem em preservar abertas as janelas para esta natureza bela).
Pensam que acabou?
Prossegui conhecendo e me deliciando com a professora Lilian Rocha. Agora invertidos os papéis. Ela aceitou ler os manuscritos (?) de meu livro “Meninos que não queriam ser Padres” (no lugar do Reitor e a seu pedido) oportunidade em que me ensinou segredos da criação literária, e eu, atento e embriagado, tentava desesperadamente aprender.
Finalmente “Rasgando o Verbo”, irmão gêmeo de “A Conquista da Oração”, que também tive o prazer de conhecer,  (ambos da coleção “Língua Solta”), cai em minhas mãos. Revi meus “calos” de estudante jovem e assustado, quando não atinava por que os tempos e os modos verbais possuíam nomes tão esquisitos. Custava chamarem o “Indicativo”, de “Certezas”; o “Subjuntivo ou “Conjuntivo”, de “Dúvidas”; o “Pretérito”, de “Passado”? Também o “Gerúndio” (ação que está se realizando) e “Particípio” (ação já realizada), têm apelidos que assustam ainda mais o aluno assustado.
Os gramáticos vestem roupas de monstros em inofensivos espantalhos.
E Lilian Rocha tenta, através da dramatização armada na sua obra, amansar até os espantalhos. Enferrujado, precisei me apoiar numa listagem da conjugação do verbo “Amar”, trazida, no desespero, da Internet. Se não...
(publicada na Perfil nn/nn)


REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A TOLERÂNCIA E A INTOLERÂNCIA,Cleiber Vieira,

REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A TOLERÂNCIA E A INTOLERÂNCIA,Cleiber Vieira,InfoGraphics Gráfica e Editora,2011,128páginas,21cm,Isbn:  978-85-909511-1-7



Cleiber Vieira, economista de formação e profissão, parece-me  um prior  de  monastério, pelo seu tipo circunspeto e solene. Conheci-o há pouco tempo (algum mês de 2009), em um evento nos “Correios”,  quando eu divulgava meu livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura”.  Ele estava lá e, de relance,  fez-me  lembrar também o diretor espiritual do seminário (padre Urso), personagem de outro livro que escrevi, “Meninos que não queriam ser Padres”.  

 Depois desse encontro ligeiro e difuso, vi-o mais duas ou três vezes, quando tentei entabular conversa, com meu jeito irreverente, e tive que recuar cuidadoso. Percebi que ele transitava por uma camada bem acima da que costumo arrastar minhas alpercatas rotas. Eu teria que descobrir o atalho certo à  seus sítios protegidos.

Só bem recentemente, depois de sua posse na presidência da Associação Sergipana de Imprensa é que, finalmente, consegui (acho) alcançar a sua nuvem e sentar-me na beiradinha, ainda um tanto  relutante e  com medo de escorregar.  

Este seu novo livro “Reflexões Filosóficas sobre a Tolerância e a Intolerância” (já publicou anteriormente dois outros, “O Peregrino da Fé” e “A Crise Existencial do Morgado”) atesta parte de meu julgamento apressado. Cleiber Vieira transpira filosofia e a sua obra  busca nos alertar dos perigos na vida, tecendo considerações sobre as dúvidas, as posturas,  os  tropeços que afetam o nosso dia a dia. Muito mais isso do que nos ensinar a aplicar os tostões adequadamente para que não  virem pó, como faria um economista, que o sou também.

Confesso que me assustei (talvez não tenha captado o real sentido, o que não é de admirar!) com algumas colocações, como a da  página   81, que diz que “até mesmo o adúltero  é um viciado, um violento, um intolerante”.  Ora! Adúltero (salvo melhor juízo) é  o homem ou a  mulher que comete infidelidade conjugal (adultério), que é uma  prática  antiga e cada vez mais comum, difundida  em novelas inocentes da televisão. Até incentivada! E os adjetivos “viciado, violento, intolerante” cheiraram-me aos sermões dos frades capuchinos nas santas missões no Pé do Veado, de minha velha Itabaiana de moleque acanhado.

Mas garanto que os sustos foram irrelevantes diante das lições ensinadas por esse  filósofo sergipano, Cleiber Vieira,  em sua aula magna ,  “Reflexões Filosóficas Sobre a Tolerância e a Intolerância”. 

Uma honra desfrutá-la, com todo o respeito.

(publicada na Perfil 14/08)



terça-feira, 24 de novembro de 2015

NÚMERO ZERO, Umberto Eco

NÚMERO ZERO, Umberto Eco, Record, 2015, 207 páginas, isbn 978-85-01-10467-0



Tive a impressão de ter, finalmente, entendido o motivo da bronca de Umberto Eco em Dan Brown, quando foi publicado, dois anos atrás, “O Inferno”. Não sei onde guardei o recorte do jornal ou o endereço do site (se é que li mesmo). Pareceram-me resquícios, rebarbas de uma briga velha, vinda de livros anteriores, desde “O Código da Vinci” e “O Pêndulo Foucault” e, agora, continuada. Umberto dizia que Dan teria sido “irresponsável” ao apresentar no seu romance uma sociedade secreta poderosa (Consórcio) ramificada em vários países. Dan não podia, não tinha dados, a não ser que tivesse espionado os originais de Eco, ainda em elaboração. Ou fosse adivinhão, como diriam no meu povoado de Itabaiana. Ou uma improvável coincidência, dois raios caindo no mesmo lugar ao mesmo tempo.

É desalentador ao escritor (Eco) ver seu grande segredo (trunfo) furado por outro (Dan) assim sem mais nem menos. Teria, agora, que apresentar sua Stay-behind (Gládio) como matéria requentada, ou rasgar seu romance. Optou pela primeira hipótese.

Acabo de ler “Número Zero”, como li “O Inferno”.  Há uma linha de coincidências em ambos por conta, obviamente, do poder onipresente e até certo ponto absoluto do Consórcio e da Gládio. O livro de Eco, lido depois, pareceu parcialmente inspirado no de Dan. Que injustiça para o professor de Alexandria!

“Número Zero” é um livro curto, mas denso. Cada frase é um link para a cultura acumulada pelo romancista de “O Nome da Rosa”, “Baudolino” e muitos outros. Cito dois exemplos, apenas para ilustrar: “Na universidade as coisas andam ao contrário do mundo normal, não são os filhos que odeiam os pais, mas os pais que odeiam os filhos (que progridem).” “Quem quiser vencer deverá saber uma única coisa e não perder tempo sabendo todas, o prazer da erudição é reservado aos perdedores.”

Eco analisa amiúde as malandragens da imprensa. O jornal não foi feito para divulgar, mas para encobrir notícias. Quando for de seu interesse. Sem omitir o fato crítico, cria cortinas de fumaça para menosprezá-lo: uma manchete que prenda a atenção, futilidades em volta, plantações de inutilidades. E não é isso que acontece no facebook, nas redes sociais?

Quando o administrador se depara com uma postagem que o agride, dispara dez postagens tapias, empurrando a agressora ao fundo do fosso, fora da vista. E se ameaça cresce, há as armas de defesa a serem ensarilhadas, entre aos quais, os dossiês. Concordo (quem não concorda?) que um dossiê assusta até pela suspeita de que ele existe. A palavra tem força própria, basta-se para apavorar a quem deve. E há quem melhor assuma o perfil de construtor dessa bomba relógio, senão o jornal, senão a imprensa?

Nem um grande romancista, como Eco, escapa ao ingrediente fatal para o sucesso de um livro: a sedução, a alcova tórrida. Maia cai no papo de Collona: casa de campo, a alcova de praxe, o tempero bem-vindo à árida leitura. E mesmo que não fosse tão árida assim!

E dentro do romance nasce, cria-se e toma conta do romance original, outro romance, desta vez histórico ou aparentado. Os últimos dias de Mussolini, no final da guerra e quarenta anos depois dela. Bragadócio, o jornalista investigativo, morre esfaqueado. O Stay-behind ou o Gládio (se é que não sejam a mesma sociedade secreta) ressurge das cinzas e age como agiu o Consórcio em Dan Brown, sem medo de punir.

Eu pouco sabia sobre Mussolini. Ocupei-me, em toda a vida, com Hitler e as atrocidades alemãs. Perdi muito, todos perdemos. Pelo menos foi a impressão que retive após a leitura de “Número Zero”.
Mussolini tinha seu valor e não poderia jamais ser relegado ao esquecimento.

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Aqui eu posso falar sobre o que quiser e não preciso, depois, me esconder em um local incógnito, pois “Sobre Livros Lidos” é um ótimo esconderijo.
Quem lê as resenhas que construo? Quem lê os livros que indico? Talvez nem os autores resenhados. “Olhando certos livros, parece que nem os autores os leram.”
Se não leem os livros (sejam autores ou não) quanto mais as resenhas sobre eles.

(por Antônio Saracura, 25 de novembro de 2015)

De “Antônio Saracura sobre livros lidos” para a Revista: Enforcadense de Literatura (Janeiro de 2020)







  
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             


sábado, 21 de novembro de 2015

RIACHUELO PASSADO DE RIQUEZAS, Antônio Martins Bezerra

RIACHUELO PASSADO DE RIQUEZAS, Antônio Martins Bezerra, textopronto, 2012, 432p isbn (sem)  



Aproveitem a rara oportunidade e conheçam o livro e o autor. Duas surpresas espetaculares. Sobre o livro, está no mesmo panteão de Japaratuba (de Eduardo Cabral), História de Lagarto (de Adalberto Fonseca) e Porto da Folha (de Manoel Alves).  Dos bons que tratam de nossos municípios. Riachuelo mostra-se inteiro: os engenhos de açúcar, os jogadores de futebol, os políticos, os intelectuais (tirem o chapéu para Santo Souza), os médicos, os empresários, os vigários, etc. etc. Com sucintos e bons textos e fotografias raras. O acerco fotográfico é espetacular. Tiramos o chapéu para Santo Souza duas linhas atrás e aqui reverenciamos outros filhos ilustres de Riachuelo: Augusto Cezar Leite, João Pires Winne, João Sapateiro, Silvio Cezar Leite, Clara Leite Rezende, Manoel Pascoal Nabuco D’Ávila e muitos outros.

Antônio Martins é teólogo, formado pelo Seminário Teológico do Norte do Brasil. Tem desempenhado sua missão de pastor de almas em cidades de Sergipe e Alagoas. Formou-se em Pedagogia e atualmente, além de pastor da Terceira Igreja Batista de Aracaju, é professor do colégio Barão de Mauá.  Um pesquisador e historiador admirável.
Lamentável:
As folhas do livro estão se soltando, talvez a cola foi inadequada para o papel usado off set 75 gramas ou para as 432 páginas.

Sala de leitura -Passado de Riquezas” (Textopronto), 2012, de Antônio Martins Bezerra. Aproveitem a rara oportunidade e conheçam o livro e o autor. Duas surpresas espetaculares. Sobre o livro, está no mesmo panteão de Japaratuba (de Eduardo Cabral), História de Lagarto (de Adalberto Fonseca) e Porto da Folha (de Manoel Alves).  Riachuelo mostra-se inteiro: os engenhos de açúcar, os jogadores de futebol, os políticos, os intelectuais (tirem o chapéu para Santo Souza), os médicos, os empresários, os vigários,  etc. etc. Cada um pela escrita responsável  de Antônio Martins e pela rica iconografia que conseguiu disponibilizar. Gostei.

(Publicada na revista Perfil  ano 16 número 03, um resumo)