quarta-feira, 6 de abril de 2016

O MAIOR GUARDA-SOL DA CIDADE e outras crônicas, Juraci Costa,

O MAIOR GUARDA-SOL DA CIDADE e outras crônicas, Juraci Costa, J.  Andrade, 220p, 21 cm, 2015, isbn
978-85-8253-106-8


Esparsamente, ouvia falar desse cronista de Itabaianinha, sempre bem, elogiavam sua escrita interessante. Recentemente, Artur Oscar de Oliveira Deda citou-o de passagem, ao me apresentar (de longe) seu novo livro sobre os bastidores da justiça sergipana que estava para sair (talvez já tenha saído e eu nem soube, dar nisso não pertencer ao “jet society” da cidade!)..

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Nunca havia lido nada escrito por Juraci nem o vira jamais, mas ele não era um desconhecido para mim.  Habitava algum canto de minha mente devido à essas esparsas notícias. Qualquer escritor precisa dessas sementinhas plantadas, pequenas referências.  Por causa disso, eu parei diante do livro de JuracI exposto em uma prateleira da livraria Escariz. Outros livros o encobriam parcialmente, mas o nome Juraci mostrava-se por uma fresta. Afastei os espelhos sem luz e descobri o Maior Guarda-sol da Cidade.

Folheei-o, querendo comprovar a boa expectativa que me habitava. Depois fui ao caixa e comprei o livro. Também porque gostei do zoar das folhas, dos trechos que bisbilhotei rapidamente, da capa cor de caramelo crocante...  Porque já era, mesmo sem eu saber, um livro esperado por mim.

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Bom, vamos ao autor e ao livro. Juraci já andou bastante, publica livros desde 1997, quando estreou com a novela Urucumã. Depois vieram Contos da Província em 1999; Um Homem de Negócios em 2001; História de Itabaianinha em 2003; Zé Belo e outras figuras em 2005; Portas Abertas em 2009.
Não é nenhum noviço, é quase bispo. Se não, um velho pároco escolado.  

Ele é oficial de Justiça em Itabaianinha, sua terra natal, e a maioria das crônicas acontecem em sua terra (Taquarana) e falam do seu ofício. Artur Deda, juiz em várias cidades de Sergipe, deve ter convivido com esse ermitão introspectivo, daí tê-lo citado naquele dia que o visitei.

A meia centena de crônicas (ou casos) são contatos naturalmente, com uma escrita suave, fácil de entender. Seriam reais ou criados pela mente pródiga do autor? O que importa é que são, na sua maioria, cheios de vida e que seguram leitor até a última página.  Mostram um povo alegre, irônico, sagaz, até atônito e submisso ante a Lei implacável da qual o autor é o agente do medo. A visita de um Oficial de Justiça é sempre temida. Ou quase sempre.

Andei me perdendo nas primeiras crônicas, como em Apelo em Vão, a Velhinha, e na Última Visita, esta que abre o livro.  Mas fui em frente. A partir de Cinemas já me ambientara e os casos correram macios, batendo-me com pérolas aqui e acolá. 

Ouso dizer que os causos mereciam um melhor tratamento no fecho, no encerramento. Sempre é recomendável deixar algo no ar, evitar o óbvio, como a derradeira frase de O Mirante do Bom Lucrar. A última impressão é a que fica. Penso que um bom texto pode cair no esquecimento logo-logo, se for abandonado apenas, nas últimas linhas; não for bem terminado. Como os sonetos, como os discursos.   

Livros às Mancheia é pequeno e doloroso. Um poema. O Parque da Sementeira levou-me assustado à Minha Querida Aracaju Aflita. Há algum link misterioso entre Saracura e Juraci?
Velhos termos pularam à minha frente, quase vou abraçá-los nunca mais os ouvira e sempre foram meus também, como “Pé estrompado” em Um Homem Escolado.

Juraci Costa escreve sobre nossa gente e nos leva ao seu mundo real ou imaginado. Pungamos na sua motocicleta ligeira e vamos atrás dos indiciados perdidos nas brenhas de Taquarana. Ninguém nos escapa, nem os que se envultam atrás de portas ou se apagam sob apelidos bizarros; mesmo que tenham corrido para Aracaju, um sem fim de veredas se cruzando, andando lado a lado e até sobrepondo-se, agora com o Vlt do prefeito querendo ser reeleito. O azul vai suspender o tráfego do chão. Ou não?

Gostei de ter encontrado seu livro, Juraci!

Desculpe-me alguma indelicadeza, escapou sem querer, a idade avariou o rigor dos filtros por onde flui minha escrita nevoada.

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