O MAIOR GUARDA-SOL DA CIDADE e outras crônicas, Juraci Costa, J. Andrade, 220p, 21 cm, 2015, isbn
978-85-8253-106-8
Esparsamente, ouvia falar desse
cronista de Itabaianinha, sempre bem, elogiavam sua escrita interessante. Recentemente, Artur Oscar de Oliveira
Deda citou-o de passagem, ao me apresentar (de longe) seu novo livro sobre os
bastidores da justiça sergipana que estava para sair (talvez já tenha saído e eu nem soube, dar nisso não pertencer ao “jet society” da cidade!)..
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Nunca havia lido nada escrito por
Juraci nem o vira jamais, mas ele não era um desconhecido para mim. Habitava algum canto de minha mente devido à essas
esparsas notícias. Qualquer escritor precisa dessas sementinhas plantadas, pequenas
referências. Por causa disso, eu parei diante
do livro de JuracI exposto em uma prateleira da livraria Escariz. Outros livros
o encobriam parcialmente, mas o nome Juraci mostrava-se por uma fresta. Afastei
os espelhos sem luz e descobri o Maior Guarda-sol da Cidade.
Folheei-o, querendo comprovar a
boa expectativa que me habitava. Depois fui ao caixa e comprei o livro. Também
porque gostei do zoar das folhas, dos trechos que bisbilhotei rapidamente, da capa cor
de caramelo crocante... Porque já era,
mesmo sem eu saber, um livro esperado por mim.
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Bom, vamos ao autor e ao livro.
Juraci já andou bastante, publica livros desde 1997, quando estreou com a
novela Urucumã. Depois vieram Contos da Província em 1999; Um Homem de Negócios
em 2001; História de Itabaianinha em 2003; Zé Belo e outras figuras em 2005;
Portas Abertas em 2009.
Não é nenhum noviço, é quase
bispo. Se não, um velho pároco escolado.
Ele é oficial de Justiça em
Itabaianinha, sua terra natal, e a maioria das crônicas acontecem em sua terra (Taquarana)
e falam do seu ofício. Artur Deda, juiz em várias cidades de Sergipe, deve ter
convivido com esse ermitão introspectivo, daí tê-lo citado naquele dia que o visitei.
A meia centena de crônicas (ou
casos) são contatos naturalmente, com uma escrita suave, fácil de entender. Seriam
reais ou criados pela mente pródiga do autor? O que importa é que são, na sua
maioria, cheios de vida e que seguram leitor até a última página. Mostram um povo alegre, irônico, sagaz, até atônito
e submisso ante a Lei implacável da qual o autor é o agente do medo. A visita
de um Oficial de Justiça é sempre temida. Ou quase sempre.
Andei me perdendo nas primeiras
crônicas, como em Apelo em Vão, a Velhinha, e na Última Visita, esta que abre o livro. Mas fui em frente. A partir de Cinemas já me ambientara e os casos
correram macios, batendo-me com pérolas aqui e acolá.
Ouso dizer que os causos mereciam
um melhor tratamento no fecho, no encerramento. Sempre é recomendável deixar
algo no ar, evitar o óbvio, como a derradeira frase de O Mirante do Bom Lucrar. A última
impressão é a que fica. Penso que um bom texto pode cair no esquecimento logo-logo,
se for abandonado apenas, nas últimas linhas; não for bem terminado. Como os
sonetos, como os discursos.
Livros às Mancheia é pequeno e doloroso. Um poema. O Parque da Sementeira levou-me assustado
à Minha Querida Aracaju Aflita. Há algum link misterioso entre Saracura e
Juraci?
Velhos termos pularam à minha frente,
quase vou abraçá-los nunca mais os ouvira e sempre foram meus também, como “Pé
estrompado” em Um Homem Escolado.
Juraci Costa escreve sobre nossa gente
e nos leva ao seu mundo real ou imaginado. Pungamos na sua motocicleta ligeira
e vamos atrás dos indiciados perdidos nas brenhas de Taquarana. Ninguém nos escapa,
nem os que se envultam atrás de portas ou se apagam sob apelidos bizarros; mesmo
que tenham corrido para Aracaju, um sem fim de veredas se cruzando, andando
lado a lado e até sobrepondo-se, agora com o Vlt do prefeito querendo ser reeleito. O azul vai suspender o
tráfego do chão. Ou não?
Gostei de ter encontrado seu
livro, Juraci!
Desculpe-me alguma indelicadeza,
escapou sem querer, a idade avariou o rigor dos filtros por onde flui minha
escrita nevoada.
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