A PROCURA DE JANE, Gizelda Morais,
Scortecci,São Paulo,2008, 2.Edição,Isbn 978-85-366-1325-3
Gizelda Morais é um monstro
sagrado da literatura sergipana. Professora universitária aposentada, reclusa,
sempre adoentada, tanto que nunca havia vindo (desde quando comecei a
frequentar, há cerca de um ano) à Roda de Leitura da Biblioteca Epifânio Dórea,
que ela inventou no passado. Mas seu nome continuava figurando como
coordenadora da Roda.
A professora Maruze e a
professora Roseneide estavam sempre chamando-a, virtualmente, para justificar
medidas e incluir de escritores a debater, tratando-a como eminência emérita.
Eu lera “Ibiradiô”, um de seus
romances, e o achei muito bom.
Lá no meio íntimo, achava que
nunca a veria, também porque sempre convalescia e pessoa
idosa dificilmente escapa de doença assim demorada.
Mas, um dia, Gizelda Morais
apareceu na Roda de Leitura.
Boa aparência, bem mais nova do que eu.
Eu havia feito mau juízo.
Boa aparência, bem mais nova do que eu.
Eu havia feito mau juízo.
Deu uma aula, explicou passagens lidas, debateu
pontos de vista alheios, escutou paciente, como se ela fosse um aluno interessado ou um professor experiente que o era.
No intervalo do café, aproximei-me e perguntei-lhe se aceitava um livro meu e se prometia lê-lo. Falou que sim com entusiasmo. E quando, pouco depois, entreguei-lhe três livros, ela deu-me dois dos seus: “A Procura de Jane” e “Absolvo e Condeno”. Com dedicatória e tudo.
No intervalo do café, aproximei-me e perguntei-lhe se aceitava um livro meu e se prometia lê-lo. Falou que sim com entusiasmo. E quando, pouco depois, entreguei-lhe três livros, ela deu-me dois dos seus: “A Procura de Jane” e “Absolvo e Condeno”. Com dedicatória e tudo.
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Acabei de ler agora “A Procura de
Jane” e achei um bom livro, de escrita agradável e uma trama instigante.
Sempre anoto considerações às
margens das páginas lidas. Quase sempre as abandono. Mas hoje passo-as ao leitor
uma parte delas:
Página 24: “Descontado o famigerado
imposto chamado Lucro de Capital que não passava de perda”. Certamente seu
imóvel fora único e custara bem menos (pelo que diz o romance), então não
incide o tal imposto de que se queixa.
Página 66: “Nunca viu referência
em colunas literárias de revistas e jornais. Livro morto, sem leitores, como
tantos outros bons ou ruins produzidos no País, pois, não sendo distribuídos,
também não são vendidos. Sem mídia, sem preço, sem crítica, sem referências,
são matérias falidas obras jogadas no baú dos esquecidos”.
Eis aí algo que dói. De que adianta
escrever livros se não é lido? Algo precisa ser feito, mijha gente! Ou parar de
escrever ou achar leitores. É isso que penso à respeito de livros publicados aqui, inclusive os meus. Citei outro
dia essa colocação na Academia Sergipana de Letras, num aparte a uma palestra
ou algo parecido. Muitos não pensam assim, dizem que, ao autor, basta publicar.
Sobre o tema do livro, que é a
procura de uma pessoa que lhe roubou os rascunhos de um livro e publicou como seu, achei que a autora
dificultou sua razoabilidade. A história da busca à “pilantra” seria melhor justificada se o livro tivesse sido um sucesso de vendas. Mas não foi. Foi um
roubo inútil ao ladrão. Gizelda pensou pequeno aqui, achei.
Gostei da virada (124), quando o cavaleiro da
triste figura aparece na história. O romance levantou-se, pois já rastejava.
Achei o final preguiçoso. Inglório,
que me desculpem: a autora e os milhões de fãs de sua obra. Nada custava à
autora ter escrito mais meia dúzia de páginas justificando o título e toda a
trama.
A alternativa adotada de
encontrar a “mãe-faz-de conta”, restabelecer a boa relação com os irmãos egoístas,
é pequena demais, não justifica abandonar a busca prometida.
(Antônio Saracura, Aracaju
22/10/2012, atualizada em janeiro de 2018)
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