O SENHOR DOS ANÉIS (O RETORNO DO
REI), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três
romances, total páginas 1210, este 426.
O anel é o símbolo do poder, todos o querem, veladamente ou explicitamente. Os cavaleiros negros circulam nas noites farejando, escutando até conversa de bêbados nas tavernas de beira de estrada. E caçando a Comitiva que tenta escapar. Gollun busca-o alucinadamente há mais de setenta anos. Especialmente Sauron que o criou na antiguidade e o perdeu. Até os guardiões, pelo menos uma parte deles, entre os quais Boromir. Boromir é príncipe de Gondor que está em missão específica (e secreta) de roubar o anel para o Rei, que é seu pai. Ele fez parte de Comitiva até ser trucidado pelos Orcs em Emyn Muir.
A guerra dá sinais evidentes de
está deflagrada. O mago Gandalf é o porta-voz do perigo. Montado na ventania Scadufax,
com Pippin na garupa, corre feito um louco alertando os reis frágeis e
acomodados para se organizarem e enfrentarem Sauron, que está forte como nunca
esteve e quer escravizar todos os povos. Quem mandou ter sido tratado com complacência
pelos vencedores das guerras antigas.
Os hobbits, Pippin e Merry,
aparentemente simples agregados à comitiva, começam a ganhar importância na
trama. Nem o leitor nem seus companheiros de viagem lhes deram, de início,
qualquer importância.
O rei das Minas Tirity, Denethor,
e o senhor dos Cavaleiros de Rohan, Theoden, mesmo na iminência da guerra,
quedam-se ouvindo as aventuras contadas pelos pequenos. Ou relutam em enfrentar
a situação crítica, achando que não terão chance nenhum de sobreviver. Estão enfeitiçados
pela televisão(?) ou melhor, pela pedra mágica, que é controlada pelo Mal e faz
as cabeças agirem conforme ela deseja.
Xxx
Por que o poder é assim
insaciável? Enfeitiça qualquer um. Mesmo a simples possibilidade ou a ilusão
fugaz de que o possui ou o possuirá. Até o puro Frodo, mensageiro escolhido
para proteger e levar o Número Um à destruição, é contaminado. Após não sei
quantos meses (teria sido anos?), enfrentando riscos imensos (e fazer seu
companheiro acreditar na missão como se fosse sua também) fraqueja. Frodo não
aceitou que Sam tivesse arrancando a corrente com o anel de seu pescoço mesmo
sabendo que o salvou das mãos dos capitães Orcs. “Não, não, nada disso, seu
ladrão”. E arrebatou o anel para si, puxando a corrente do pescoço do fiel Sam.
E o agrediu com palavras duras. Depois, desconversou: Se alguém tivesse que
morrer junto com o Anel, seria ele, Frodo.
E o abjeto mas simpático Gollun?
Mau desde que matou o primo na
pescaria ou desde que nasceu. Perigoso, sonso, insensível. Mas é capaz de fazer
uma boa ação, mesmo que não queira: Guiou, com escusas intensões, Frodo e Sam
até a boca da Laracna que era o melhor caminho para entrar despercebido em
Mordor. Levou a refeição ao monstro para lucrar o descarte natural: a roupa e
os utensílios, entre os quais, o seu Precioso.
Como disse Gandalf: “um traidor
pode trair-se a si mesmo e fazer o bem que não pretende”. Obcecado, capaz de todo
simulacro para botar as mãos no Anel, que lhe pertencera no romance anterior
(Hobbit). Para ele a esperança é a última que morre. Quando viu seu Precioso na
boca do vulcão, imaginou que o perderia para sempre. Entendeu mal o momento e, desesperado,
encheu-se de poderes que nem deveria possuir, e arrancou o dedo de um homem
invisível, o dedo exato do Anel. E com tanta gana, que se desequilibrou e caiu
com Anel e tudo no magma da boca aberta do vulcão.
Gollun poderia ter esperado um
pouquinho... Frodo estava apenas escapando de Samwise e de todos, com o Anel no
dedo, resolvera ser o poderoso que todo queriam ser. “Não vou realizar este
feito (destruir). O Anel é meu!”
Justo na hora, Sauron tremeu nas
bases, seu olho mágico captou o Anel na boca do vulcão, o único lugar onde poderia ser destruído. Abandonou as estratégias de guerra e mandou seu
exército de morcegos, nazgul e espectros resgatar o Anel. Mas já era. Gollun virara
torresmo agarrado ao dedo decepado de Frodo.
Os dois hobbits conseguiram
escapar por improváveis caminhos e, depois, foram encontrados pelos amigos (remanescentes
da Comitiva), agora vitoriosos.
Sauron e seu reino (Mordor) virou pó. Talvez o espírito do mal tenha escapado, como de outras vezes. E deve mesmo ter escapado,
senão, por que estamos atravessando uma fase tão calamitosa. Pelo menos, no Brasil
de hoje.
Xxx
Guerras fratricidas entre os
guardas de Mordor (orcs) apenas pelo privilégio de levar o prisioneiro (Frodo)
à Sauron. Não há mal que não gere um bem. Como Sam resgataria Frodo da prisão e
o levaria ao local de destruição do Anel Um que nem sabia onde era? “Com suas
desculpas, sr. Frodo, mas o senhor tem alguma noção de quanto tempo ainda
teremos que caminhar?”. Frodo não sabia.
Vales profundos, montanhas
nevadas entrando no céu, fantasia e realidade em luta insana. Arte e feitiçaria
de braços dados. O Bem tímido e o Mal agressivo, como é comum até aqui. Bólidos
arremessados por catapultas que caíam na praça e não explodiam: eram cabeças
dos guerreiros amigos. Efeito devastador! Rios degradados de águas fétidas e córregos
destilando a morte.
Recrutamento de Orcs à chicotadas
para compor os pelotões de zumbis sanguinários, como acontece em todas as
guerras. O soldado (e até o comandante) é um mercenário (luta por dinheiro) ou
um escravo (luta por medo). As bandeiras (o idealismo) são apanágios
dos poetas. A artimanhas do Mal e o espanto do Bem. Batalhas ensandecidas,
mortes aos montes e seletivas e até mortes seguidas de ressurreição...
Tudo junto nos capítulos, no
livro, numa única palavra. E cada link ativado pode abrir-se em outro romance
maior ainda.
Ainda bem que o Bem venceu.
Eu
fiquei preocupado que isso não acontecesse.
A moça casou com o mocinho e havia
uma princesa que não a percebi antes, reservada a Aragorn, o rei.
O Senhor dos Anéis é um romance sem
fim. Dom Sebastião retornou e começou uma nova era.
(Aracaju, 20 de junho de 2019,
Antônio FJ Saracura)
Agora eu sou um dos 170 milhões
de leitores de O Senhor dos Anéis (sou um grão de areia).