quinta-feira, 20 de junho de 2019

O SENHOR DOS ANÉIS (O RETORNO DO REI), J RR Tolkien,


O SENHOR DOS ANÉIS (O RETORNO DO REI), J RR Tolkien, Martins Fontes, 2011, ISBN 85-336-1516-1 para os três romances, total páginas 1210, este 426.


 “O mundo está dividido entre aqueles que leram O Senhor dos Anéis e Hobbit e os que não leram”, The Sunday Times.




A Comitiva se recompôs depois de descaminhos, entretanto, Frodo e Sam seguiram sós (os dois) em busca da Montanha da Perdição onde o Anel poderia ser destruído. Como chegar ao lugar se nenhum dos dois sabiam de antemão o caminho? Ali não havia estradas e nem placas. Era o meio do mundo, um ermo. Se encontrassem alguém, teriam que fugir dele; a chance de ser um Orc caçador seria grande.






O anel é o símbolo do poder, todos o querem, veladamente ou explicitamente. Os cavaleiros negros circulam nas noites farejando, escutando até conversa de bêbados nas tavernas de beira de estrada. E caçando a Comitiva que tenta escapar. Gollun busca-o alucinadamente há mais de setenta anos. Especialmente Sauron que o criou na antiguidade e o perdeu. Até os guardiões, pelo menos uma parte deles, entre os quais Boromir. Boromir é príncipe de Gondor que está em missão específica (e secreta) de roubar o anel para o Rei, que é seu pai. Ele fez parte de Comitiva até ser trucidado pelos Orcs em Emyn Muir.


A guerra dá sinais evidentes de está deflagrada. O mago Gandalf é o porta-voz do perigo. Montado na ventania Scadufax, com Pippin na garupa, corre feito um louco alertando os reis frágeis e acomodados para se organizarem e enfrentarem Sauron, que está forte como nunca esteve e quer escravizar todos os povos. Quem mandou ter sido tratado com complacência pelos vencedores das guerras antigas.

Os hobbits, Pippin e Merry, aparentemente simples agregados à comitiva, começam a ganhar importância na trama. Nem o leitor nem seus companheiros de viagem lhes deram, de início, qualquer importância.

O rei das Minas Tirity, Denethor, e o senhor dos Cavaleiros de Rohan, Theoden, mesmo na iminência da guerra, quedam-se ouvindo as aventuras contadas pelos pequenos. Ou relutam em enfrentar a situação crítica, achando que não terão chance nenhum de sobreviver. Estão enfeitiçados pela televisão(?) ou melhor, pela pedra mágica, que é controlada pelo Mal e faz as cabeças agirem conforme ela deseja.

Xxx

Por que o poder é assim insaciável? Enfeitiça qualquer um. Mesmo a simples possibilidade ou a ilusão fugaz de que o possui ou o possuirá. Até o puro Frodo, mensageiro escolhido para proteger e levar o Número Um à destruição, é contaminado. Após não sei quantos meses (teria sido anos?), enfrentando riscos imensos (e fazer seu companheiro acreditar na missão como se fosse sua também) fraqueja. Frodo não aceitou que Sam tivesse arrancando a corrente com o anel de seu pescoço mesmo sabendo que o salvou das mãos dos capitães Orcs. “Não, não, nada disso, seu ladrão”. E arrebatou o anel para si, puxando a corrente do pescoço do fiel Sam. E o agrediu com palavras duras. Depois, desconversou: Se alguém tivesse que morrer junto com o Anel, seria ele, Frodo.

E o abjeto mas simpático Gollun?
Mau desde que matou o primo na pescaria ou desde que nasceu. Perigoso, sonso, insensível. Mas é capaz de fazer uma boa ação, mesmo que não queira: Guiou, com escusas intensões, Frodo e Sam até a boca da Laracna que era o melhor caminho para entrar despercebido em Mordor. Levou a refeição ao monstro para lucrar o descarte natural: a roupa e os utensílios, entre os quais, o seu Precioso. 

Como disse Gandalf: “um traidor pode trair-se a si mesmo e fazer o bem que não pretende”. Obcecado, capaz de todo simulacro para botar as mãos no Anel, que lhe pertencera no romance anterior (Hobbit). Para ele a esperança é a última que morre. Quando viu seu Precioso na boca do vulcão, imaginou que o perderia para sempre. Entendeu mal o momento e, desesperado, encheu-se de poderes que nem deveria possuir, e arrancou o dedo de um homem invisível, o dedo exato do Anel. E com tanta gana, que se desequilibrou e caiu com Anel e tudo no magma da boca aberta do vulcão.
Gollun poderia ter esperado um pouquinho... Frodo estava apenas escapando de Samwise e de todos, com o Anel no dedo, resolvera ser o poderoso que todo queriam ser. “Não vou realizar este feito (destruir). O Anel é meu!”

Justo na hora, Sauron tremeu nas bases, seu olho mágico captou o Anel na boca do vulcão, o único lugar onde poderia ser destruído. Abandonou as estratégias de guerra e mandou seu exército de morcegos, nazgul e espectros resgatar o Anel. Mas já era. Gollun virara torresmo agarrado ao dedo decepado de Frodo.

Os dois hobbits conseguiram escapar por improváveis caminhos e, depois, foram encontrados pelos amigos (remanescentes da Comitiva), agora vitoriosos. 

Sauron e seu reino (Mordor) virou pó. Talvez o espírito do mal tenha escapado, como de outras vezes. E deve mesmo ter escapado, senão, por que estamos atravessando uma fase tão calamitosa. Pelo menos, no Brasil de hoje.

Xxx

Guerras fratricidas entre os guardas de Mordor (orcs) apenas pelo privilégio de levar o prisioneiro (Frodo) à Sauron. Não há mal que não gere um bem. Como Sam resgataria Frodo da prisão e o levaria ao local de destruição do Anel Um que nem sabia onde era? “Com suas desculpas, sr. Frodo, mas o senhor tem alguma noção de quanto tempo ainda teremos que caminhar?”. Frodo não sabia.
Vales profundos, montanhas nevadas entrando no céu, fantasia e realidade em luta insana. Arte e feitiçaria de braços dados. O Bem tímido e o Mal agressivo, como é comum até aqui. Bólidos arremessados por catapultas que caíam na praça e não explodiam: eram cabeças dos guerreiros amigos. Efeito devastador! Rios degradados de águas fétidas e córregos destilando a morte.

Recrutamento de Orcs à chicotadas para compor os pelotões de zumbis sanguinários, como acontece em todas as guerras. O soldado (e até o comandante) é um mercenário (luta por dinheiro) ou um escravo (luta por medo). As bandeiras (o idealismo) são apanágios dos poetas. A artimanhas do Mal e o espanto do Bem. Batalhas ensandecidas, mortes aos montes e seletivas e até mortes seguidas de ressurreição...

Sempre o anão barbudo de conversa cavernosa, um machado amolado e a força concentrada de um batalhão inteiro. Todos são personagens úteis, nenhum é abandonado. E ao final de tudo, como nos livros puros, contas são prestadas sobre o que de desgraça ou que de glória recaiu sobre cada um. Menos os Orcs! Onde se socaram afinal? Eram tantos, que as fogueiras acesas queimaram quase nada. As duas centenas que se instalaram no Condado sob as ordens de Saruman, dos quais o romancista fala, dão um nadinha.

Tudo junto nos capítulos, no livro, numa única palavra. E cada link ativado pode abrir-se em outro romance maior ainda.
Ainda bem que o Bem venceu. 
Eu fiquei preocupado que isso não acontecesse. 
A moça casou com o mocinho e havia uma princesa que não a percebi antes, reservada a Aragorn, o rei.

O Senhor dos Anéis é um romance sem fim. Dom Sebastião retornou e começou uma nova era.

(Aracaju, 20 de junho de 2019, Antônio FJ Saracura)

Agora eu sou um dos 170 milhões de leitores de O Senhor dos Anéis (sou um grão de areia).

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