CASA-DE-FARINHA E OUTROS ESCRITOS, Cléa Maria Brandão, J.
Andrade (2005), 180 páginas, sem isbn.

Casa-de-Farinha é uma viagem interessante, ilustrativa e
bucólica ao povoado Pedro Gonçalves, em General Maynard, uma cidadezinha de
nada aqui da zona açucareira sergipana. O povoado parece ser o berço da autora
ou de seus ancestrais, alguns ainda morando lá.
São vinte capítulos tratando de um Brasil singelo e bonito
que funciona.
As chaminés fumacentas dos fogões de lenha lembraram-me os sítios
de Terra Vermelha do meu tempo de menino, quando o fogão a gás ainda não
chegara.
Há os quiabos, ainda tenros, quebradinhos no pé; há dona
Rosa perdendo os dedos no rodete porque teimava em ficar ouvindo as conversas das
raspadeiras de mandioca; há a faquinha marinheira afiada que descascava a
mandioca e escalavrava os dedinhos inocentes; há o defunto que suspira (que me
lembrou o conto “O Testemunho do Tropeiro Morto”); há a simpatia para mudar a
direção da fumaça das castanhas assando; há a tapagem da casa no sopapo (em um
dia nascia uma nova casa - por que não foge logo outra moça?); há o velório
viaje Vasp; há a manipueira venenosa, se ingerida mata, a menos que que o
envenenado tome um copo de mijo de Sancho preto... Que horror!
O livro, nesta parte que fala da Casa de Farinha, é
adereçado com exclamações fechando os textos: que horror! Uma fera! Imaginem!
Coitada! Piedade! Essa é incrível! A minha mãe que o diga! A cachacinha no
estilo! Acepipes! Eu não ia ficar sozinha, claro! Fica a lição!..
Elas dão um sabor especial de intimidade. Como se o autor
não se contivesse e deixasse escapar sua emoção, saindo do formal e caindo de
vez no jeito do povo falar, no meu jeito de ler conversando com meus
personagens: brigando, aplaudindo, considerando. Ora como o narrador formal, ora
como autor mesmo, saindo de seu gabinete e entrando na história para dar palpite.
Casa-de-farinha me permitiu uma viagem agradável ao passado,
que é meu também... Agora é! E saborear um estio despojado, coloquial, com o
compromisso exclusivo de mostrar esse povo do povoado Pedro Gonçalves vivendo
decentemente. E viver momentos mágicos que jamais esquecerei.
“Outros Escritos” é composto por segmentos estanques:
Discursos; Crônicas; Ensaios; Poesias; Perfis, Tipos inesquecíveis e contribuições.
Destaco as crônicas publicadas em jornais e que falam de pessoas e instituições
e que me reavivaram a lembrança ou me ensinaram coisas de que não sabia.
Aracaju dez/2010, ajustes em 04 de abril de 2020)
LI NA ASL em 2020/2021
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