sábado, 4 de abril de 2020

CONTOS AMAZÔNICOS, Inglês de Souza


CONTOS AMAZÔNICOS, Inglês de Souza, Editora Martin Claret, 2005, 149 páginas, ISBN 979 – 85 – 7232 – 631 – 6



Inglês de Souza faleceu em 1918 e tem ligação com Sergipe, na época do império: foi presidente da província de Sergipe de 17 de maio de 1881 até 28 de janeiro de 1882. Ficou aqui menos de um ano. Era casado com uma sobrinha de José Bonifácio de Andrada e, logo em seguida, assumiu o governo do Espírito Santo.

Além de político, publicou livros, quase todos tratando da Amazônia e sua gente, como este “Contos Amazônicos”, de 1893.

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Eu encontrei essa pequena resenha em meus alfarrábios virtuais, escrita por volta de 2014. Poderia apagá-la simplesmente. Mas não pude. Há um conto no livro que nunca esqueci, “Voluntário”, pelos motivos que exporei abaixo.  

É provável que eu não tenha lido todos os contos e, agora, depois desses anos todos, não vou investigar e nem reler. Localizei o livro esta semana em uma biblioteca auxiliar que mantenho na Coroa do Meio, em um sótão, numa casa que nem me pertence mais. Tenho um prazo para sair de lá que eu mesmo me dei. Por isso, de quando em quando, vou buscar livros para as bibliotecas de escolas e para a Geloteca que a Academia Itabaianense de letras instalou no Shopping Peixoto de Itabaiana. Esta semana, fui lá e trouxe um braçado de livros, entre os quais estava “Contos Amazônicos”, que nem sabia que ainda estava comigo. Também por isso,  resolvi recuperar a resenha.

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“Cada história contada traz o jeito de ser do povo da região, suas crendices (feitiços), seus tabus e sua cultura nativa baseada em ervas e em fé. 

No conto “Amor de Maria” ... O narrador explica quão perniciosa é a crença de nosso povo em feitiços e feiticeiros. O tajá, que o povo chama Amor de Maria, “inculcado à pobre moça como infalível elixir amoroso, é um dos mais terríveis venenos vegetais do amazonas”.

E o “Voluntário” revela a face ingrata das guerras, no caso, a do Paraguai. Caboclos rudes eram pegos na marra (recrutados), arrancados de sua vida ingênua e levados para a frente de batalha nos chacos do estrangeiro. Tia Rosa possuía, de tudo na vida, um único filho (Pedro), tapuia como ela, que a mantinha, pois ela era doente. Seu guerreiro foi caçado e levado, junto com outros índios, à ferro, de navio, ao campo de batalha, servir de alvo fácil aos irmãos guaranis comandados por Solano Lopes. No caso específico de Pedro, um advogado se condoeu da mãe doente e tentou anular o recrutamento. O motivo era justo mas a autoridade local, para não manchar o prestígio do recrutador, autorizou o embarque. Nas guerras, a lei não vale nada. Um juiz se curva ante qualquer um que se diga preposto do mandatário (no caso o imperador Pedro II).

Como quase todos caboclos amazônicos, o tapuia Pedro jamais retornou.

“Ainda há bem pouco tempo vagava pela cidade de Santarém uma pobre tapuia doida (tia Rosa, mãe de Pedro). A maior parte do dia passava-o a percorrer a praia, com o olhar perdido no horizonte, cantando com a voz trêmula e desenxabida a quadrinha popular:

Meu anel de diamantes
Caio na água e foi fundo
Os peixinhos me disseram:
Viva Dom Pedro Segundo!”

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E o conto me fez recordar de tio Omero, falecido há poucos anos, que foi recrutado para lutar na Segunda Mundial. Ele foi arrancado das Flechas (ele e mais outros) para uma guerra estranha no outro lado do mundo. As famílias protestaram e não houve jeito.  E os ferreiros rezaram tanto que, dois ou três meses depois, um rapaz alto e loiro bateu à porta do sobrado do sítio. Era tio Omero, fora dispensado, escapou de morrer na Itália, como morreram seus amigos agricultores que não tiveram a sorte de ter o coração virado para o lado direito.

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Apenas para cumprir o cerimonial, são os seguintes os contos que compõem o livro:

Voluntário (citado acima)
A feiticeira
Amor de Maria (citado)
Acauã
O donativo do capitão Silvestre
O gado do Valha-me-Deus
O baile do Judeu
A quadrilha de Jacó Patacho
O rebelde (uma novela)”

Aracaju,11 de maio de 2014, revisão para o blog em 2020abr03)

Post scriptum:
O livrinho pertence a uma coleção que fica nas gôndolas de livros populares nas livrarias (inclusive Escariz Aracaju), lá atrás.


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