terça-feira, 7 de abril de 2020

O CAPOTE (E O RETRATO), Nicolai Gogol


O CAPOTE (E O RETRATO), Nicolai Gogol, Edição LPM Pocket, 178 páginas , 17 cm, tradução de Roberto Gomes, Isbn 978- 852541032-2

Instigado por um leitor de meus livros (e de outros autores também), que é gerente da Casa Santa Rosa da avenida Canal em Aracaju (José Reginaldo Dias, um intelectual), voltei a Gogol, que há muito não fazia. Reginaldo me disse que estava lendo “Almas Mortas” e, entusiasmado, em dois ou três minutos, enquanto eu escolhia os produtos de minha lista, me contou as surpresas que teve e fez colocações que apenas um grande livro pode provocar no leitor, se esse, lê além da primeira vista.

Achei, na hora, que havia “Almas Mortas” em minha biblioteca, queria ler também. Chegando em casa, de Gogol, só achei “O Capote”, mofando na fila de espera para leituras.


 “Se só tem tu, vai tu mesmo.”

“O Capote” é um grande obra de apenas 60 páginas (na edição tamanho bolso), mas está vivo, mesmo após 170 da morte do autor. E, para minha surpresa, dento da edição, ao final, estava outra obra clássica de Gogol, “O retrato”, este um pouco mais volumoso, com 104 páginas. Ambos, “O Capote” e “O Retrato” são tidos como contos e, como tal, até parrudinhos.  

“Tracei os dois”.

Mas vou falar bem pouquinho (até me assustei agora (2020), na recuperação da resenha (escrita em 2014) com a exiguidade do texto, pois me acho um tanto prolixo, do que estou sempre tentando me corrigir. Ninguém hoje tem saco de ficar lendo extensas verborreias, mesmo que elas digam coisa com coisa. Quanto mais... as que nada dizem.

“O Capote”

Em época e lugar em que o baixo funcionário público vivia de penúrias (os romances russos tratam muito disso, talvez seus escritores o fossem) Akaki Akakiévitch vive seu drama malvado. Pois seu capote, em Petesburgo gelada, está se delindo. Aqui a roupa é a defesa do corpo e também da alma.

Sofremos ou desfrutamos momentos de pânico, de gratidão, de imensa ânsia, de desespero. O autor consegue palavras vivas para descrever esses sentimentos de modo a nos fazer senti-los integralmente. Teria que ser Nicolau Vassilievitch Gogol, considerado do realismo fantástico na literatura russa.

A perseguição do ladrão cria uma imagem indelével. Jamais se apagara da mente do leitor. Perigo! Se o leitor for escritor, este corre sérios riscos de plágio, mesmo inconsciente.

Vou concluir “O Capote”, citando um trecho da resenha publicada em (autor não citado): http://www.opoderosoresumao.com/livros/resenha-o-capote: “Gogol nos apresenta em 50 páginas uma Rússia burocrática, superficial e hipócrita. Tudo isso com um senso de humor ácido (meu preferido) e certeiro. A história dá reviravoltas interessantes e fantasiosas. É um conto rápido para apresentar um autor que muitos consideram o fundador da literatura russa moderna.”


“O Retrato”


Quando vejo telas/pinturas nas lixeiras (ou mesmo em sebos pobres) jogadas ou mal empilhados, viro o rosto e passo adiante. Evito bater meus olhos naquela pintura que me segure, domine, me tome para si. Não me interessam os prováveis (improváveis) tesouros escondidas sob capas da tela ou em reentrâncias na madeira. Dispenso! Deus me livre de que uma noite qualquer, estando o quadro na parede de minha casa, o retratado pisque um olho pra mim. Mesmo que seja para confidenciar o local do tesouro escondido, eu não quero nem saber. Saio correndo de casa e a coloco à venda com tela e tudo.

Há trechos, na segunda parte do conto, não sei se por conta de que, talvez da tradução, que me pareceram deslocados (estranhos enxertos).

Esse sentimento já tive em Dom Quixote de La Mancha. Ao final, acabada a história da Triste Figura, quando bastava um ponto final, estão outros escritos de Cervantes (entendi que fossem), tratando de temas alheios ao contexto (pelo meu ponto de vista). Então pensei: Os editores devem ter aproveitado que o Rei pagou a edição e botaram alguns parentes para viajar junto ao futuro.

Mas, retorno a “O Retrato”.

A imagem do retrato vivo hipnotizante permanecerá indelével na minha mente enquanto eu viver.

E, para equiparar as forças com "O Capote", citarei um pequeno trecho de resenha publicada na web (autoria de Aline Teodoro), https://www.skoob.com.br/livro/resenhas/96582/edicao:259751: “O pintor aqui inicialmente achava que a arte deveria estar em primeiro lugar. Mas sucumbiu ante à corrupção do quadro demoníaco. Isso nos faz refletir também sobre as nossas prioridades. Trabalhar para nos sentirmos realizados ou para ganhar dinheiro? A fama e o luxo são finalidades dos nossos esforços? O que realmente nos move? A satisfação do conhecimento ou o conforto que o dinheiro pode nos oferecer?”.

(Antônio Saracura, 17 de janeiro de 2014, revisão abril 2020).

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