O CAPOTE (E O RETRATO), Nicolai
Gogol, Edição LPM Pocket, 178 páginas , 17 cm, tradução de Roberto Gomes, Isbn 978-
852541032-2
Instigado por um leitor de meus
livros (e de outros autores também), que é gerente da Casa Santa Rosa da
avenida Canal em Aracaju (José Reginaldo Dias, um intelectual), voltei a Gogol,
que há muito não fazia. Reginaldo me disse que estava lendo “Almas Mortas” e,
entusiasmado, em dois ou três minutos, enquanto eu escolhia os produtos de
minha lista, me contou as surpresas que teve e fez colocações
que apenas um grande livro pode provocar no leitor, se esse, lê além da primeira
vista.
Achei, na hora, que havia “Almas Mortas” em minha biblioteca, queria ler também. Chegando em casa, de Gogol, só achei “O Capote”, mofando na fila de espera para leituras.
“Se só tem tu, vai tu mesmo.”
“O Capote” é um grande obra de
apenas 60 páginas (na edição tamanho bolso), mas está vivo, mesmo após 170 da
morte do autor. E, para minha surpresa, dento da edição, ao final, estava outra
obra clássica de Gogol, “O retrato”, este um pouco mais volumoso, com 104 páginas.
Ambos, “O Capote” e “O Retrato” são tidos como contos e, como tal, até
parrudinhos.
“Tracei os dois”.
Mas vou falar bem pouquinho (até
me assustei agora (2020), na recuperação da resenha (escrita em 2014) com a exiguidade
do texto, pois me acho um tanto prolixo, do que estou sempre tentando me
corrigir. Ninguém hoje tem saco de ficar lendo extensas verborreias, mesmo que
elas digam coisa com coisa. Quanto mais... as que nada dizem.
“O Capote”
Em época e lugar em que o baixo funcionário
público vivia de penúrias (os romances russos tratam muito disso, talvez seus escritores
o fossem) Akaki Akakiévitch vive seu drama malvado. Pois seu capote, em Petesburgo
gelada, está se delindo. Aqui a roupa é a defesa do corpo e também da alma.
Sofremos ou desfrutamos momentos
de pânico, de gratidão, de imensa ânsia, de desespero. O autor consegue palavras
vivas para descrever esses sentimentos de modo a nos fazer senti-los integralmente.
Teria que ser Nicolau Vassilievitch Gogol, considerado do realismo fantástico
na literatura russa.
A perseguição do ladrão cria uma imagem indelével. Jamais se apagara da mente do leitor. Perigo! Se o leitor for escritor, este corre sérios riscos de plágio, mesmo inconsciente.
Vou concluir “O Capote”, citando
um trecho da resenha publicada em (autor não citado): http://www.opoderosoresumao.com/livros/resenha-o-capote:
“Gogol nos apresenta em 50 páginas uma
Rússia burocrática, superficial e hipócrita. Tudo isso com um senso de humor
ácido (meu preferido) e certeiro. A história dá reviravoltas interessantes e
fantasiosas. É um conto rápido para apresentar um autor que muitos consideram o
fundador da literatura russa moderna.”
“O Retrato”
Quando vejo telas/pinturas nas lixeiras (ou mesmo
em sebos pobres) jogadas ou mal empilhados, viro o rosto e
passo adiante. Evito bater meus olhos naquela pintura que me segure, domine, me
tome para si. Não me interessam os prováveis (improváveis) tesouros escondidas sob
capas da tela ou em reentrâncias na madeira. Dispenso! Deus me livre de que uma
noite qualquer, estando o quadro na parede de minha casa, o retratado pisque um
olho pra mim. Mesmo que seja para confidenciar o local do tesouro escondido,
eu não quero nem saber. Saio correndo de casa e a coloco à venda com tela e
tudo.
Há trechos, na segunda parte do
conto, não sei se por conta de que, talvez da tradução, que me pareceram deslocados
(estranhos enxertos).
Esse sentimento já tive em Dom
Quixote de La Mancha. Ao final, acabada a história da Triste Figura, quando bastava
um ponto final, estão outros escritos de Cervantes (entendi que fossem), tratando
de temas alheios ao contexto (pelo meu ponto de vista). Então pensei: Os editores
devem ter aproveitado que o Rei pagou a edição e botaram alguns parentes para
viajar junto ao futuro.
Mas, retorno a “O Retrato”.
A imagem do retrato vivo
hipnotizante permanecerá indelével na minha mente enquanto eu viver.
E, para equiparar as forças com "O Capote", citarei um pequeno trecho de resenha publicada na web (autoria de Aline Teodoro),
https://www.skoob.com.br/livro/resenhas/96582/edicao:259751:
“O pintor aqui inicialmente achava que a
arte deveria estar em primeiro lugar. Mas sucumbiu ante à corrupção do quadro
demoníaco. Isso nos faz refletir também sobre as nossas prioridades. Trabalhar
para nos sentirmos realizados ou para ganhar dinheiro? A fama e o luxo são
finalidades dos nossos esforços? O que realmente nos move? A satisfação do
conhecimento ou o conforto que o dinheiro pode nos oferecer?”.
(Antônio Saracura, 17 de janeiro
de 2014, revisão abril 2020).
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