quarta-feira, 29 de maio de 2019

ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt


ARMADILHA MORTAL, Roberto Arlt, L&PM Pocket, 98 páginas, isbn 978-85-254-0613-2



Sempre me liguei em filmes e livros policiais A série com um zanôio chamado Columbo (Peter Falk) preencheu minhas tardes monótonas quando ainda não pensava em escrever livros. Hercule Poirot e Miss Marple de Agatha Cristhie, Inspetor Maigret de Simenon, Sherlock Holmes e meu Caro Watson de Conan Doyle, Smiley de Jonh leCarré...

Em minha exígua biblioteca ainda resistem ao tempo e aos visitantes gatunos alguns exemplares, jóia raras, que mantenho como sinal de fidelidade e veneração.


Bem recentemente, mantive contato com Roberto Arlt, um argentino que viveu pouco, apenas 42 anos (eu já tenho 70) e morreu quando eu ainda nem era nascido (1942). O livro que me apresentou a Roberto é Armadilha Mortal, uma coletânea de contos policiais (ou criminais quase perfeitos) de dá um gosto de sangue na boca. Escrita leve sem esnobismo, quase uma reportagem. Prende, surpreende, fixa-se na memória de quem ler.

“A Pista dos Dentes de Ouro” narra um crime de vingança em que o criminoso cobre um dente com papel dourado: uma pista falsa. Quando desfaz o disfarce, um fiapo do papel ficou encravado e na gengiva causando-lhe desconforto a ponto de procurar um dentista. E o dentista torna-se cúmplice do crime. Não há detetives, e nem precisa. O crime foi uma vingança justa e o assassino e o dentista selam um pacto de silêncio.

 “Um Argentino entre os gângsters” é surpreendente apesar de o desenlace previsível, como se isso fosse possível. Afinal, para que serve o domínio da arte?

“A Vingança do Macaco” mostra o ladrão, senhor de si, em ação roubando um escritório à noite.  De repente, experimenta uma sensação desconfortável: alguém o observa. Trepado na escrivaninha, com o chapéu do ladrão na mão, um pequeno macaco o observa em silêncio. No chapéu estão as iniciais do ladrão gravadas em uma brincadeira. Um descuido bobo. Pronto! O conto muda o rumo. Agora não é um predador recolhendo jóias e dinheiro, mas a caça a um macaco esperto, matreiro.

“A Dupla Armadilha Mortal” termina com Estela escapando no para-quedas, que não abriu. E Ferrain cantando vitória por um instante apenas, pois a bolsa esquecida no avião, por Estela, era uma bomba, e explodiu. Conto logo o fim!

“O Mistério dos três Sobretudos” mostra que não é necessário nada espetacular para se construir um ótimo conto. Vale tudo para pegar o ladrão comprometedor que usa duas pernas postiças, uma honesta e outra nem tanto.

“O Enigma das três Cartas” tem um final sem sal e aqui e acolá frases sem nexo. Botei a culpa no tradutor. Um grão chocho de feijão no meio do bom cozinhado.   

“Um Crime quase Perfeito”...

É melhor você ler o livro. É quase perfeito. Se encontrar em alguma livraria ou sebo.

(Aracaju, 16 de janeiro de 2016, Antônio Saracura)

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