MENINOS EU CONTO, Antônio Torres,
2015, Galera Junior, 3.edição, 80 páginas, isbn 978-85-01-10378-9
Ouvi palestra (live no
youtube) promovida pela Universidade de Feira de Santana, na qual o autor
falava de sua obra. E especificamente sobre este livro, citou o que lhe disse um
leitor: “Torres, seu livro é pequeno, tem apenas três contos. Mas você acertou no
alvo em cada um.”
E eu concordo.
Além de ser um livro leve, de
leitura rápida, de escrita afável, tirada a infantil, é um livro maduro e bom, isto é,
os três contos são tiros certeiros. Falam de infância, de sobrevivência, de sonho,
de preparação para a vida em um laboratório singular. Junco é cidadezinha
atrasada em todos os sentidos, socada no sertão nordestino, o que não a impede
de produzir um grande escritor brasileiro e que pertence a Academia
Brasileira de Letras. Porque Antônio Torres (o autor) nasceu e se criou nesse
lugar. E os contos são imagens vivas de sua infância, se não vistas enquanto lá
morava, criadas à imagem e semelhança das que viu.
No primeiro conto, “Segundo Nego de Roseno”, o menino ensaia ser gente grande. Dá ordem ao bêbado, tem dinheiro no
bolso pelo trabalho executado, compra bens, como um pão e uma camisa. E conversa
com adultos como se o fosse também. Tem o vigário, o bêbado, o dono da padaria,
Nego de Roseno que possuía um armarinho, e o marceneiro Ascendino que conforta o menino e sonha com ele estudando no seminário, tendo um futuro digno. E
há o pai que o espera com a enxada pois a capina precisa ser feita. Pai duro,
mas aberto ao que o povo da rua fala de seu filho.
“Por um Pé de Feijão” o segundo
conto, é doloroso. Todos os sonhos são enfeixados em uma roça boa de feijão. E que vira cinza por conta de um criminoso incêndio. O mundo vai se acabando
mas renasce na forma de pezinhos de feijão de corda nascidos no quintal, três pés
de milho e algumas bananeiras. Deus tira os anéis, mas deixa os dedos. De
qualquer jeito, o inverno viria outra vez e a roça de feijão seria de novo
plantada. Quem sabe não fosse tão boa como a perdida!
E “O Dia de São Nunca” revela uma
cidadezinha modorrenta pela cabeça de um menino que acredita que esse Nunca é um
santo real e este dia chegará. E nesse dia ficará são de suas perninhas de lagartixa e andará como todo mundo, graças as rezas da mãe que faz milagres. E o
santo roubado do oratório pelos três reis magos retornará na festa da Padroeira
com muitos presentes. O Junco pega fogo com seu povo singelo praticando a cidadania.
A mãe do menino, delegado acuado, o palpiteiro, o carpinteiro fazedor de santos,
a turba insensata...
Como diz Aleilton Fonseca (Jornal
da Tarde) “são histórias com início, meio e fim, aparentemente simples e despretensiosas,
mas ricas de significados”.
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