sábado, 22 de agosto de 2020

MENINOS EU CONTO, Antônio Torres

 

MENINOS EU CONTO, Antônio Torres, 2015, Galera Junior, 3.edição, 80 páginas, isbn 978-85-01-10378-9

 

Ouvi palestra (live no youtube) promovida pela Universidade de Feira de Santana, na qual o autor falava de sua obra. E especificamente sobre este livro, citou o que lhe disse um leitor: “Torres, seu livro é pequeno, tem apenas três contos. Mas você acertou no alvo em cada um.”

E eu concordo.

Além de ser um livro leve, de leitura rápida, de escrita afável, tirada a infantil, é um livro maduro e bom, isto é, os três contos são tiros certeiros. Falam de infância, de sobrevivência, de sonho, de preparação para a vida em um laboratório singular. Junco é cidadezinha atrasada em todos os sentidos, socada no sertão nordestino, o que não a impede de produzir um grande escritor brasileiro e que pertence a Academia Brasileira de Letras. Porque Antônio Torres (o autor) nasceu e se criou nesse lugar. E os contos são imagens vivas de sua infância, se não vistas enquanto lá morava, criadas à imagem e semelhança das que viu.

No primeiro conto, “Segundo Nego de Roseno”, o menino ensaia ser gente grande. Dá ordem ao bêbado, tem dinheiro no bolso pelo trabalho executado, compra bens, como um pão e uma camisa. E conversa com adultos como se o fosse também. Tem o vigário, o bêbado, o dono da padaria, Nego de Roseno que possuía um armarinho, e o marceneiro Ascendino que conforta o menino e sonha com ele estudando no seminário, tendo um futuro digno. E há o pai que o espera com a enxada pois a capina precisa ser feita. Pai duro, mas aberto ao que o povo da rua fala de seu filho.

“Por um Pé de Feijão” o segundo conto, é doloroso. Todos os sonhos são enfeixados em uma roça boa de feijão. E que vira cinza por conta de um criminoso incêndio. O mundo vai se acabando mas renasce na forma de pezinhos de feijão de corda nascidos no quintal, três  pés de milho e algumas bananeiras. Deus tira os anéis, mas deixa os dedos. De qualquer jeito, o inverno viria outra vez e a roça de feijão seria de novo plantada. Quem sabe não fosse tão boa como a perdida!

E “O Dia de São Nunca” revela uma cidadezinha modorrenta pela cabeça de um menino que acredita que esse Nunca é um santo real e este dia chegará. E nesse dia ficará são de suas perninhas de lagartixa e andará como todo mundo, graças as rezas da mãe que faz milagres. E o santo roubado do oratório pelos três reis magos retornará na festa da Padroeira com muitos presentes. O Junco pega fogo com seu povo singelo praticando a cidadania. A mãe do menino, delegado acuado, o palpiteiro, o carpinteiro fazedor de santos, a turba insensata...

Como diz Aleilton Fonseca (Jornal da Tarde) “são histórias com início, meio e fim, aparentemente simples e despretensiosas, mas ricas de significados”.

 (Por Antônio FJ Saracura, em 2020ago22 em Aracaju).

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