JAPARATUBA DA ORIGEM AO SÉCULO XIX, Eduardo Carvalho Cabral,
464 pág., tamanho: 20 cm, Triunfo,2007,
sem IBSN.
É por isso que me esforço tanto a divulgar meus livros.
Estou em todo lugar, com minha mochila, mostrando as capas, oferecendo
marcadores de página. Vou à televisão, aos jornais, à rádios. Peço para ser
entrevistado. Imploro até! E dou livros à pessoas que me parecem ser fazedoras
de opinião: “ler, comentar, divulgar e recomendar (se achar que devem!)”.
E quanto aos lançamentos?
Faço vários!
Onde houver um espaço e gente passando, negocio a exposição
dos livros, se possível organizo uma festinha desde que eu possa servir o tira-gosto,
meus livros.
Muitas vezes, fico uma tarde inteira e ninguém se dispõe a
parar, olhar o produto, negociar. Sim, porque também negocio. Já vendi livros pela
metade do preço ou dei de graça, porque o comprador relutante me disse que não
podia pagar e estava morrendo de vontade de ler. Ou apenas olhava de olhos vidrados, pidões. Há
quem resista?
Mesmo agindo assim, divulgando ferozmente, assusto-me quando
chego a um ajuntamento, e ninguém, ali, ouviu falar de “Os Tabaréus do Sítio
Saracura”, de “Meninos que Não queriam ser Padres”, de “Minha Querida Aracaju
Aflita, de “Tambores da Terra Vermelha”, de “Os Ferreiros”.
É por isso (pegando o fio da meada), pelo que senti ao ler
“JAPARATUBA – da origem ao século XIX”, de autoria de Eduardo Carvalho Cabral, que
me esforço ainda mais. Como pode um
livro desse (publicado em 2007) não ter chegado antes a meus ouvidos, sempre
atentos à tudo que se produz na terra?
Japaratuba caiu em minhas mãos por um acaso.
Corujava a biblioteca de Euclides Oliveira e vi o lombo. Uma
mão empurrou minha mão e puxaram o livro. Euclides tinha ido lá dentro,
acompanhar um leite que ferveria a qualquer momento. Abri o livro e li uns
pedaços aqui e acolá. Sentei-me, esqueci o mundo. Ainda bem que o leite não
estava na minha conta! Mais tarde,
trouxe Japaratuba para casa.
E pensei, retomando a questão inicial dessa resenha maluca: Por
melhor que seja o livro, de que servirá se nunca for lido por alguém? E como poderá
ser lido, se os leitores não souberem dele? Bibliotecas como essa de Euclides são
raras. Momentos como o que vivi, mais ainda.
Por isso saio por aí, como Antônio Conselheiro, pregando a
doutrina da boa literatura. Aproveito e louvo os meus santos dos quais citei os
nomes (em vão espero que não) acima. Narro milagres... Quem sabe consiga
devotos. Leitores. Para ter valido a pena escrevê-los.
xxx
Mesmo os não iniciados em história (como eu) vão se deliciar
viajando ao passado, seja filho de Japaratuba ou de qualquer lugar do mundo,
como é o meu caso, filho de Itabaiana. (...)
(Escrito em algum dia de 2009)
Eu havia rabiscado alguns garatujas aí acima; resolvi deletá-los,
em vista do que escreveu agorinha, 01 de junho de 2016, no face “Academia
Itabaianense de Letras”, o historiador José de Almeida Bispo, imortal da tal Academia,
cadeira 27, sobre o livro de Eduardo Cabral.
Diz muito mais do que consegui.
Peço sua permissão a José de Almeida Bispo para apendar sua
resenha aqui:
“Encantado.
Ontem, finalmente consegui terminar de ler o livro
“Japaratuba, da origem ao século XIX”, do amigo Eduardo Carvalho Sobral,
(Gráfica Triunfo, Aracaju, 2007). Um grande passeio! Como encimei, encantado.
O autor discorre sobre sua cidade com grande maestria, exibindo uma pesquisa,
substancialmente em fontes primárias, de excelente nível. Prefaciado pelo
saudoso Luiz Antônio Barreto, que também colabora no corpo do livro, traz
informações valiosíssimas sobre a História de Sergipe, além, pois, da velha
Missão de São João da Japaratuba, montada pelos capuchinhos ainda no início do
século XVII, como uma excelente observação de grande lucidez do Ariosvaldo
Figueiredo (p.116), ao comentar sobre a República: “O 15 de novembro de 1889
apenas transferiu, sem data marcada, a solução da crise estrutural da sociedade
brasileira, que o Império não soube e a República não quis resolver.” A
narrativa é recheada desse nível de questionamentos, e mais se agiganta quando Eduardo Cabral toca num tema que, como bem entende dez em cada dez pensadores sérios
do Brasil, é o calcanhar de Aquiles de todos os nossos problemas: a escravidão.
Notário em sua cidade, Japaratuba, Eduardo não somente é o escrivão tabelião; é
um pesquisador arguto que, além de examinar o dia a dia vai fundo no passado
mais longínquo possível que o seu Ofício lhe permite, arrancando das folhas
amareladas dos velhos livros da segunda metade do século XIX um raio X
fidelíssimo daquela desgraça humana nominada escravidão. Os processos de
compra, venda e administração de gente como se bois ou cavalos fosse. Crianças
arrancadas de suas mães; pais separados de seus filhos, a troca de gente pra lá
e pra cá... terrivelmente fantástico! Repito: uma radiografia profunda da
desgraça nacional, resumido ao distrito, a seguir município de Japaratuba, mas
que é um fiel retrato de tudo aquilo que amalgamou o país, e contra o que tanto
temos nos debatido nos últimos 80 anos.
Aí, ao também abordar as querelas políticas dos coronéis do açúcar, contexto em
que Japaratuba esteve no ápice como um dos maiores produtores de açúcar da
segunda metade do século XIX, uma demonstração da pequenez de alguns ante, por
exemplo, a luta titânica de um Antônio da Silva Travassos, espécime raro por
estas plagas de tantos sinecuras e agiotas porque um homem de visão, um
empreendedor. Bebe magnificamente na fonte da professora Terezinha Oliva ao
abordar os ecos da luta desesperada de Fausto Cardoso em tentar o impossível:
dar forma civilizada a um grupo de coronéis interesseiros e egoístas... até
mesmo supostos prosaicos assuntos, como o ventilado na sessão da Câmara
Municipal de Japaratuba, de 3 de fevereiro de 1869, acerca da construção de uma
cacimba, é um claro rastro a ser seguido quando se analisa a terrível seca que
se abateu sobre todo o Nordeste naquele momento, desarrumando toda a sua
economia, como foi o caso de Sergipe; um nefasto complemento à maré de má sorte
daquelas duas décadas que começou com a terrível epidemia de cólera de 1855,
repetida em 1863.
Os costumes do Império, herdados dos tempos coloniais de, por exemplo, não se
empossar coletores de impostos que não tivessem bens disponíveis para cobrir
eventuais prejuízos pelos cobrador, trazido pelo Eduardo na página 95 nos leva
direto a um drama vivido por Itabaiana em 1672, com a nomeação de Luiz Pereira,
segundo capitão de Infantaria da Ordenança nomeado para Itabaiana, que foi
demitido do cargo por não ter bens.
Enfim, um grande livro. Meu muito obrigado ao amigo Eduardo Cabral pela
cortesia e pelo privilégio a mim dado de ser presenteado com uma obra desse
quilate.”
ir
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