SACO DO RIBEIRO (RIBEIRÓPOLIS)
PEDAÇOS DE SUA HISTÓRIA, José Gilson dos Santos, Bompreço indústrias gráficas,
1987, 104 páginas, sem isbn
Já havia escutado falar desse livro,
mas, até ontem, quando o encontrei num sebo da rua de Lagarto e o
comprei na hora, ele era apenas uma remota referência. Remota e boa referência...
As duas ou três pessoas que me falaram dele diziam que eu devia ler, certamente
gostaria.
Li de ontem para hoje e estou
gratificado. Tanto pela organização da obra, dissecando aspectos da cidade, um
a um, condensando-os em blocos, o que me pareceu um método interessante. Gratificado
também pela lisura das informações: concisas, essenciais, conclusivas. Até no que
tange à última parte: a política e administração municipal satisfez-me.
O que José Gilson dos Santos
conta são fatos que eu sempre quis saber, desde menino, com dez anos por aí. Eu
passava com meu pai nas ruas der Ribeirópolis, no carro de boi, indo ou vindo
do Riachinho ou de outra fazenda que vendia esterco, e via aquelas casas depredadas,
queimadas, pichadas de negro...
Meu pai sempre falou pouco. Ante a insistência, concedia-me
apenas: eram casas dos Cearás, um povo valente e pessedista (meu pai também o
era), perseguido injustamente, acusado da
morte do prefeito da UDN, Josué Passos.
Eu queria saber mais...
Em outra viagem, menos econômico,
deixava escapar que as fazendas dos Cearás haviam sido assoladas, o gado
roubado ou morto à bala. As famílias, expulsas do povoado Cruz do Cavalcante
onde moravam. E também a família do verdadeiro matador de Josué (uma vingança
justa), Zeca da Barra, sofria feroz perseguição. O governador do Estado,
Leandro Maciel, assumiu a perseguição aos Cearás e Barras, à seu punhal e fuzil.
Esse povo da Barra mantinha algum
relacionamento com meu pai, pois um deles, acho que se chamava Domingos,
vendera-nos um pasto na beira do rio Jacaracica onde nossas vacas de leite babujavam pelo dia.
Agora, com o livro de José Gilson,
fiquei sabendo de tudo que passei a vida me perguntando. Um bom negócio ter entrando
naquele sebo da rua de lagarto e, mais ainda, comprando o livrinho publicado
por José Gilson nos idos de 1987.
Post Scriptum:
A resenha acima foi escrita em
algum dia do ano de 2010 (talvez). Na semana passada, no dia (06.06.2016)
do lançamento do livro “Três Santos Juninos”, segunda edição, de Luzia Nascimento,
fui apresentado a José Gilson. Na verdade, já nos encontráramos em alguma livraria
nos finais de tarde das quintas-feiras (O Escritor na Livraria). Eu lembrei
vagamente da fisionomia, mas ele garantiu que já falara comigo antes. É que me perco no meio de
tanta gente que passa rápido, conversa quase nada e se vai com algum livro que ofereço,
ou não.Tive que me desculpar. Certamente, naquela oportunidade
anterior, em O Escritor na Livraria, não o vinculei ao livro “Saco do Ribeiro”.
Se tivesse feito, jamais esqueceria. O livro pertence ao panteão particular
onde mantenho os santos de minha devoção.
Sempre que me desculpo fico
confuso, talvez recriminando-me pelo erro que provocou a desculpa. E faço
confusão... e misturo os argumentos, desqualifico-os. Botei o prefeito assassinado,
Josué, como um dos Cearás sacrificados. Pode uma coisa dessa? E a vingança
teria sido por quê, então? Na minha cabecinha de pouco miolo, aventei como
causa, o fato dos cearás serem do PSD, partido adversário do novo governador do
Estado. E rolou dentro do meu mundo desconexo até “O Sargento Getúlio” de João
Ubaldo Ribeiro. Quem mandou Getúlio passar
pelo Saco do Ribeiro com sua encomenda!
Afirmar que o assassinato de Josué Passos foi "uma vingança justa" é coisa de admirador dos atos de pistolagem de Zeca da Barra.
ResponderExcluirAssassinaram Josué por questões políticas. O único ero dele foi vencer a eleição para Prefeito.