TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, Lima Barreto, São Paulo,
Ciranda Cultural, 2010, Isbn 978-85-380- 1428-7
Roberto Pompeu de Toledo publicou uma semana dessas, artigo na sua coluna da revista Veja, em que fala deste clássico da literatura brasileira. E faz, como vem acontecendo com seus textos, infelizmente cada vez mais politizados, chacota do Brasil governado pelo PT. Eu não gosto desses desvios "encomendados", mas, nem por isso, deixo de ler o genial paulistano que acompanho desde quando vivi lá, onde ele aparecer.
A
obra “Triste Fim...” li no passado longínquo e se perdeu dentro de mim nas
mudanças às quais a vida me submeteu.
Outro
dia, comprei um exemplar na Escariz, edição popular da Ciranda Cultura,
baratinha. Comprei sem sentir que estava comprando, talvez o artigo de Pompeu
tenha me levado mecanicamente a tal.
Mas
me senti bem.
E
quando me dei conta, estava relendo e relembrando as desventuras de Quaresma,
vividas no começo da República Brasileira, no governo de Floriano Peixoto.
Meu
Deus?
Os
administradores das pequenas cidades são corruptos e usam a lei apenas para os
inimigos. Os puxa sacos e bajuladores enchem as repartições (o império da
incompetência, página 63) e os livros publicados nada mais são do que cópias ou
citações. Os poetas louvam os ricos e as mulheres inacessíveis... A
estrutura militar é frouxa e inútil. O presidente do País, um bolha. Até a
revolta da armada, que é narrada, parece uma palhaçada.
"As
casas construídas eram um grande paralelepípedo de tijolos com cimalhas,
janelas com sacadas de grade de ferro, puro estilo mestre de obras” (página
116). Lembraram-me as atuais casas populares, do programa “Minha Casa Minha
Vida”, que está mudando de nome mais uma vez (apenas de nome).
Na
página 173, Lima descreve o intelectual do seu tempo, talvez seu concorrente
nas letras, Armando Genelício.
Este
intelectual compunha seu texto inicialmente ao jeito tradicional e a seguir,
para mostrar soberba literária o reescrevia por inteiro assim: invertia as
orações, trocava palavras do dia por inusitadas...chegava a um texto erudito
digno de louvor pelos seus pares (da Academia) e pelo público encabrestado.
O
amor exagerado pela pátria fez com que Quaresma (na sua loucura) propusesse que
a nossa língua oficial fosse o Tupi e que cumprimentássemos as pessoas, como
faziam os índios goitacazes, chorando. (Página 40 e 41). Do jeito como fazemos
nessa Pandemia Covid-19 pois sempre há um novo morto sendo anunciado. Se não no
início, nos despedimos chorando.
No
triste fim, Quaresma é um derrotado, injustiçado, esmigalhado pela
incompetência geral, ora ele chega à conclusão de que “a troco de um
patriotismo dominante fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importam
os rios? Se são grandes ou pequenos? Pois que fossem...” (Página 226).
xxx
Um
país como este de Lima Barreto teria alguma chance de sobreviver?
Certamente
este país é um caso perdido.
E
ocorre-me uma comparação macabra.
Este
país no qual vivemos não seria a mesma merda que o do passado, apenas com irrelevantes
enfeites? Tomado pelo espírito de Lima, não estou identificando nenhuma exceção
nesses malsinados governos que temos tido o tempo todo, em todas as esferas. Sempre
os mesmos florianos e deixando o o Brasil cada vez pior.
(Aracaju,
09 de outubro de 2011, Antônio Saracura, atualizada em setembro de 2021)
li na ASL em 22/11/2021
ResponderExcluirpublicada no jornal Zona Sul em 31/10/2023
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