sábado, 9 de janeiro de 2021

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, Lima Barreto

 

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, Lima Barreto, São Paulo, Ciranda Cultural, 2010, Isbn 978-85-380- 1428-7

 

Roberto Pompeu de Toledo publicou uma semana dessas, artigo na sua coluna da revista Veja, em que fala deste clássico da literatura brasileira. E faz, como vem acontecendo com seus textos, infelizmente cada vez mais politizados, chacota do Brasil governado pelo PT. Eu não gosto desses desvios "encomendados", mas, nem por isso, deixo de ler o genial paulistano que acompanho desde quando vivi lá, onde ele aparecer.

A obra “Triste Fim...” li no passado longínquo e se perdeu dentro de mim nas mudanças às quais a vida me submeteu. 

Outro dia, comprei um exemplar na Escariz, edição popular da Ciranda Cultura, baratinha. Comprei sem sentir que estava comprando, talvez o artigo de Pompeu tenha me levado mecanicamente a tal. 

Mas me senti bem. 

E quando me dei conta, estava relendo e relembrando as desventuras de Quaresma, vividas no começo da República Brasileira, no governo de Floriano Peixoto.

 Meu Deus?

Os administradores das pequenas cidades são corruptos e usam a lei apenas para os inimigos. Os puxa sacos e bajuladores enchem as repartições (o império da incompetência, página 63) e os livros publicados nada mais são do que cópias ou citações. Os poetas louvam os ricos e as mulheres inacessíveis... A estrutura militar é frouxa e inútil. O presidente do País, um bolha. Até a revolta da armada, que é narrada, parece uma palhaçada.

"As casas construídas eram um grande paralelepípedo de tijolos com cimalhas, janelas com sacadas de grade de ferro, puro estilo mestre de obras” (página 116). Lembraram-me as atuais casas populares, do programa “Minha Casa Minha Vida”, que está mudando de nome mais uma vez (apenas de nome). 

Na página 173, Lima descreve o intelectual do seu tempo, talvez seu concorrente nas letras, Armando Genelício.

Este intelectual compunha seu texto inicialmente ao jeito tradicional e a seguir, para mostrar soberba literária o reescrevia por inteiro assim: invertia as orações, trocava palavras do dia por inusitadas...chegava a um texto erudito digno de louvor pelos seus pares (da Academia) e pelo público encabrestado.

O amor exagerado pela pátria fez com que Quaresma (na sua loucura) propusesse que a nossa língua oficial fosse o Tupi e que cumprimentássemos as pessoas, como faziam os índios goitacazes, chorando. (Página 40 e 41). Do jeito como fazemos nessa Pandemia Covid-19 pois sempre há um novo morto sendo anunciado. Se não no início, nos despedimos chorando.

No triste fim, Quaresma é um derrotado, injustiçado, esmigalhado pela incompetência geral, ora ele chega à conclusão de que “a troco de um patriotismo dominante fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importam os rios? Se são grandes ou pequenos? Pois que fossem...” (Página 226).

xxx

Um país como este de Lima Barreto teria alguma chance de sobreviver? 

Certamente este país é um caso perdido.

E ocorre-me uma comparação macabra.

Este país no qual vivemos não seria a mesma merda que o do passado, apenas com irrelevantes enfeites? Tomado pelo espírito de Lima, não estou identificando nenhuma exceção nesses malsinados governos que temos tido o tempo todo, em todas as esferas. Sempre os mesmos florianos e deixando o o Brasil cada vez pior.

 (Aracaju, 09 de outubro de 2011, Antônio Saracura, atualizada em setembro de 2021)

 

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