sábado, 9 de janeiro de 2021

VIAJANTE SOLITÁRIO, Jack Kerouac

 

VIAJANTE SOLITÁRIO, Jack Kerouac,L&PM, Porto Alegre, 2010, 224páginas, tradução de Eduardo Bueno, isbn 978-85-254-1448-9

 


Livros escritos na primeira pessoa dão-me maior aconchego. É como se o autor se abrisse mais, convivesse com minha intimidade. Estabelece-se uma confraria. E juntos, saímos livro à dentro, mundo à fora, de espíritos fundidos e solidários. Eu confiante de que o autor não me colocará em caminhos de onze varas, não me jogará de precipício nenhum, pois, ele não vai querer (não é doido!) ir junto. 

Talvez por isso, é que escrevo a maior parte de meus textos (e de meus livros) na primeira pessoa. Intelectuais com quem convivo já me alertaram de que eu deveria, se pretendesse ser um escritor completo, escrever distante de mim. Dois desafios antagônicos: ser grande nas letras e mudar meu jeito de contar.

Jack Kerouac, em Viajante Solitário e em outros que tenho folheado de sua autoria, também escreve na primeira pessoa. Então há mais alguém no mundo (e que angariou sucesso, tanto que chegou até o Brasil) que faz do mesmo jeito que eu. Na verdade, há muita gente, inclusive conterrâneos, como Gilberto Amado (História da Minha Infância), para citar apenas um.

Este Viajante Solitário não é um livro fácil de ler no começo, depois nos arrebata e conquista. Os locais inóspitos de assustadora beleza logo se  transformam em familiares, um cantinho de nossa casa.  

O autor narra suas andanças pelo mundo como tripulante de  navio que corre mares da África e da Europa, como vigilante de queimadas em montanhas inóspitas, como mochileiro pela França...

Como muito mais.

O que me intriga é um cidadão culto, de siso firme, de sucesso nas letras, com base familiar sólida, sair por aí como se fosse sem-terra ou sem-teto, sobrevivendo de  esmolas. E não me pareceu que Kerouac estivesse somente colhendo material à elaboração do livro. Seguia  vocação de viajante vagabundo, que as pessoas têm.

E, por fim, citando o próprio autor (que cita  poeta Dwight Goddard no livro Bíblia Budista”):

 

“Oh, por esse raro acontecimento

Eu alegremente daria mil peças de ouro!

Um chapéu na cabeça, uma trouxa às costas,

E minha companhia, a brisa refrescante e a lua cheia”.

 

(Aracaju, 09 de setembro de 2011, recuperada em janeiro de 2021, revista em novembro de 2023).

 

Para completar meu pensamento, segue um trecho da resenha de  Viajante Solitário,  Jack Kerouac,  por Sabryna Rosa.

(...)

A felicidade consiste em compreender que tudo é um grande e estranho sonho”.

"Jack Kerouac narra suas histórias como se estivesse conversando oralmente com o leitor. Não se preocupa muito com um começo, meio e fim amarradinhos, como estamos acostumados a ver, mas apenas em “libertar” as palavras de sua cabeça, e, por incrível que pareça, com coesão e coerência. O resultado são períodos e parágrafos longos, comentários e pensamentos misturados com descrição de cenários e diálogos, tudo separado apenas por simples vírgulas, e é seu trabalho estar atento e acompanhar o ritmo." (fonte web/google).

 


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