VIAJANTE SOLITÁRIO, Jack Kerouac,L&PM, Porto Alegre, 2010, 224páginas, tradução de Eduardo Bueno, isbn 978-85-254-1448-9
Livros
escritos na primeira pessoa dão-me maior aconchego. É como se o autor se
abrisse mais, convivesse com minha intimidade. Estabelece-se uma confraria. E
juntos, saímos livro à dentro, mundo à fora, de espíritos fundidos e
solidários. Eu confiante de que o autor não me colocará em caminhos de onze
varas, não me jogará de precipício nenhum, pois, ele não vai querer (não é
doido!) ir junto.
Talvez
por isso, é que escrevo a maior parte de meus textos (e de meus livros) na
primeira pessoa. Intelectuais com quem convivo já me alertaram de que eu
deveria, se pretendesse ser um escritor completo, escrever distante de mim. Dois
desafios antagônicos: ser grande nas letras e mudar meu jeito de contar.
Jack
Kerouac, em Viajante Solitário e em outros que tenho folheado de sua autoria,
também escreve na primeira pessoa. Então há mais alguém no mundo (e que
angariou sucesso, tanto que chegou até o Brasil) que faz do mesmo jeito que eu.
Na verdade, há muita gente, inclusive conterrâneos, como Gilberto Amado
(História da Minha Infância), para citar apenas um.
Este
Viajante Solitário não é um livro fácil de ler no começo, depois nos arrebata e
conquista. Os locais inóspitos de assustadora beleza logo se transformam em familiares, um cantinho de
nossa casa.
O
autor narra suas andanças pelo mundo como tripulante de navio que corre mares da África e da Europa,
como vigilante de queimadas em montanhas inóspitas, como mochileiro pela
França...
Como
muito mais.
O
que me intriga é um cidadão culto, de siso firme, de sucesso nas letras, com
base familiar sólida, sair por aí como se fosse sem-terra ou sem-teto, sobrevivendo
de esmolas. E não me pareceu que Kerouac
estivesse somente colhendo material à elaboração do livro. Seguia vocação de viajante vagabundo, que as pessoas
têm.
E,
por fim, citando o próprio autor (que cita poeta Dwight Goddard no livro Bíblia
Budista”):
“Oh,
por esse raro acontecimento
Eu
alegremente daria mil peças de ouro!
Um
chapéu na cabeça, uma trouxa às costas,
E
minha companhia, a brisa refrescante e a lua cheia”.
(Aracaju,
09 de setembro de 2011, recuperada em janeiro de 2021, revista em novembro de
2023).
Para completar meu pensamento, segue um trecho da resenha de Viajante Solitário, Jack Kerouac, por Sabryna Rosa.
(...)
“A felicidade consiste em compreender que tudo é um grande
e estranho sonho”.
"Jack Kerouac narra suas histórias como se estivesse conversando oralmente com o leitor. Não se preocupa muito com um começo, meio e fim amarradinhos, como estamos acostumados a ver, mas apenas em “libertar” as palavras de sua cabeça, e, por incrível que pareça, com coesão e coerência. O resultado são períodos e parágrafos longos, comentários e pensamentos misturados com descrição de cenários e diálogos, tudo separado apenas por simples vírgulas, e é seu trabalho estar atento e acompanhar o ritmo." (fonte web/google).
Lido na ASL em 11/04/2022
ResponderExcluirPublicado no jornal Zona Sul, em 07 (uma parte) e 14/11/2023
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