sábado, 30 de janeiro de 2021

OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

 OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES/ A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO/ A RAINHA DO CASTELO DE AR, Stieg Larson, coleção Milenium, Edição econômica da Companhia das Letras,2009.


Quando me dispus a escrever resenhas dos livros lidos (para informar outros leitores e prestigiar autores) pensei em apenas escrever sobre livros sergipanos e os brasileiros especiais.

Que autor de fora iria ler meus textos, se nem os sergipanos liam?

Mas como resistir a um livro bom, seja de onde for? E assim fui abrindo a guarda. E hoje escrevo sobre os livros de que gosto, seja de onde for. Mas uma resenha leva quase o tempo da leitura e há em casa uma fila de livros esperando. E eu gosto muito mais de ler do que de escrever. Então sempre haverá bons livros “esquecidos”, esperando a resenha que jamais farei.

Sobre livros estrangeiros... 

Quando um livro desses chega até nós vêm forrado de marketing, elogiado, endeusado. E minha resenha, mesmo que influencie algum leitor a comprar o livro, pouco mexe nos milhões de exemplares vendidos. Se eu escrevo sobre ele é porque não consegui “esquecê-lo” de jeito nenhum. ***

Retornando à coleção Milenium (Os homens que não amavam as mulheres/ A menina que brincava com fogo/ A rainha do castelo de ar)...

Como um espaço pequeno pode acomodar notas sobre três livros, três parrudos livros, cada um com cerca de 600 páginas?

Os três livros são espetaculares. Têm ação, suspense, terror. Ritmo alucinante. Adrenalina absoluta. Não sinto pejo em sair gritando pelas ruas da intelectualidade, o meu sentimento. Como eu fazia, em adolescente, ao sair do cinema “Pálace”, após assistir a um filme muito bom, correndo o risco de ser chamado de doido. Como fui algumas vezes por convidar desconhecidos na rua João Pessoa para a próxima sessão que ia começar.

O autor (Stieg Larsson) faleceu ao concluir o último livro desta trilogia. Era jornalista e ativista político. Suas reportagens denunciavam organizações neofacistas e racistas que atuavam (e ainda atuam) no seu país e na Europa. Recebeu ameaças de morte, mas morreu de morte morrida (ataque cardíaco), aos 54 anos, no meio da escada escura (faltou energia naquela noite) do prédio onde morava. 

Os seus três livros serão lidos por todos que experimentarem as primeiras linhas. Como se fossem um livro curtinho. Impossível abandoná-los. 

Eu me entristecia ao perceber as folhas se esgotando, chegando ao fim de cada tomo. E estancava melancólico, tentando economizar a leitura. Retrocedia capítulos, para sentir por mais tempo a grandiosidade do enredo manobrando ricos e bem definidos personagens, do bem e do mal. Narrativa ágil, surpreendente. Parte de mim queria ver logo o desenlace de cada trama, e a outra parte, embevecer-se mais um pouco com o que acontecia agora aqui.

Jamais esquecerei Lisbeth Salander. 

“Larson é o grande noir da Suécia e Lisbeth Salander, uma heroína diferente de todas as outras. O clímax é um festim sangrento” (The Times).

Outro autor sueco, David Lagercrantz, está publicando romances em continuação, enriquecendo a série “Milenium”. Aqui em casa (minha esposa os devora sôfrega) temos os três já publicados: “A garota na teia de aranha”, “O homem que buscava sua sombra” e “A garota marcada para morrer”.

“São bons demais!”, Cida grita lá da sala em resposta à pergunta que lhe fiz.

***

E tem gente que nem abre um livro! Nem entra numa exposição de obras de arte! Passa pela beira do rio Sergipe e nem consegue ver, lá do outro lado, a Barra dos Coqueiros tremeluzindo! Ou sequer percebe o rio fluindo.

Muita gente nem vai ligar se o apartamento onde Lisbeth Salander está escondida foi localizado e arrombado pelo tutor pedófilo.

 É possível uma coisa dessas?

(Aracaju, fevereiro de 2010, Antônio FJ Saracura, recuperada em janeiro de 2021, na pandemia do Corona).

 



 


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