REDEMOINHOS, José Lima
Santana,São Paulo, Scorteci, 2015, isbn 978-85-366-4375-5.
“Antigamente
minha avó dizia
Que
o diabo brincava nos redemoinhos” (página 119)
Vivo correndo, como
todos comigo. Como se a vida fosse redemoinho a nos levantar do chão, revolver,
derrubar de volta, arrastar, enterrar, partir em mil pedaços, recompor, ressuscitar. A paz é escorregadia.
Os raros bons momentos, fogem sem me darem adeus.
Obrigações, redes
sociais, pestes, pragas, cobranças, discriminações, despeitas, invejas.
Relembro feliz os
retiros espirituais do meu tempo de seminário, que não acabavam nunca, e nos
quais sobrava tempo até para divagar, plainar por mundos misteriosos e
desconhecidos. Como foram confortantes.
A boa poesia é aquela
que não preciso reler (e nem entender). Na primeira corrida de olhos vejo seu
íntimo. Sua alma se mostra. Para que conhecer as profundezas? Basta fazer-me sentir
bem. Mesmo dentro desse redemoinho.
É pouco?
José Lima Santana é um
homem sereno, meio caminho andado para bom poeta. Seu porte de bandeira branca,
seu pensamento lúcido, sua voz cordata viram poemas fáceis de entender,
companheiros de paz para momentos atribulados da vida.
Ele sabe a palavra
adequada. Sabe amadurecer a ideia essencial. Como o vinho envelhecido, que é
melhor porque soube se conter, esperar a vez. Me lembra o matador de tocaia,
que pode passar um mês afiando a pontaria, desfrutando a paciência,
sedimentando as intenções, manufaturando mil asas para a bala a ser disparada.
E tiro assim caprichado
cumpre a sina de matar. Ou de salvar. Ou de pacificar.
xxx
Meu
querido poeta, José Lima Santana.
Estou
lendo seus poemas, devagar, conhecendo cada caminho enveredado, cada picada pisada.
E me admiro pelo seu jeito de narrar sentimento. Você não precisa de
artimanhas, enigmas, subterfúgios. Tem palavras definitivas para
expor sentimento e difundir serenidade.
Se
não, veja “Alvorecer” (página 13), o primeiro poema do livro:
“Da janela
Eu vi
Sonolento
A aurora
Sangrando
O mundo”.
E “Tardio”
(página 19):
O frio tardio de Buenos Aires
Penetra lancinante em minha roupa,
Atravessa minha carne surrada pela vida
E alcança meus ossos com pouco cálcio.
E frio tardio de Buenos Aires
Convida-me a beber vinho.
O vinho tinto enche a taça
E eu me encho de tangos e de magia.”
Também
“Estupidez” (Página 68):
O tempo espeta,
Insensivelmente,
Espinhos na pedra.
O vento lambe
Voluptuosamente,
A face da pedra.
E a pedra, a pedra,
Estupidamente,
Permanece agachada.
Difícil alguém não gostar de algum desses mais de cem
redemoinhos. Tempestades que fazem a bonança imediata nessa vida louca.
(Aracaju, 2016, 09 de fevereiro 2016, por Antônio
Saracura, recuperada em dezembro de 2020).
Li da Asl em 05 de abril de 2021
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