segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA

 

TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA, Elias Felipe Neto, Gráfica N.Sra. Imperatriz, de Tobias Barreto, 2010, 309 páginas



Há livros que nos marcam para o resto da vida. E, às vezes, nem são livros badalados, não passam de edições caseiras, feitas pela teimosia de autores iluminados. Muito bem iluminados, pois, se não o fossem, não iriam gastar tempo e dinheiro escrevendo e publicando um livro para pouca gente (ou ninguém) querer saber dele.

Em nosso Estado de Sergipe, posso citar e o faço com vigor, os livros: “A História de Lagarto” (de Adalberto Fonseca), “Japaratuba”, (de Eduardo Cabral), “Porto da Folha”, (de Manoel Alves) e agora (pois acabo de ler), “Tobias Barreto, Minha Terra” (de Elias Felipe Neto).

Existem outros célebres, mas esses, apesar de praticamente desconhecidos, não lhes ficam atrás. Bem escritos, ricos conteúdos históricos, convincentes, apaixonantes, emocionantes. São livros de história, mas têm o gosto de espetaculares romances. Se não quiser se apaixonar por eles, nem os procure ler!

José Padilha de Oliveira (que chamo sempre de padre, e foi meu companheiro nas colunas do jornal “A Cruzada” nos idos de 1960) me ligou outra semana.

Queria que eu fosse até sua casa na Treze de Julho, ajudá-lo a encontrar um destino mais útil à sua biblioteca, que extrapolava o espaço de que dispunha e às necessidades vigentes de um guerreiro cansado de guerras.

Passei uma manhã inteira numa reunião surpreendente e ditosa.

Manoel Cabral Machado recitou os poemas e leu as crônicas de toda sua obra. Recebi a atenção especial de José Silvério Fontes, Baltazar Góes, Ibarê Dantas, Ricardo Leite, Cezar Brito, Luiza Maria da Costa, Maria Lígia Pina e outros que já viajaram ou vivem ainda neste vale. Ilustres, para os quais antes nem ousava levantara vista...

Elias Felipe Neto (Tobias Barreto Minha Terra) me levou ao passado remoto da fazenda de gado de Belchior Dias Moreia. Ferrei garrotes no pé da Serra do Canine, apartei bezerros, curei bicheiras...

Olá! Todos!

Robério Dias Moreia, Belchior de Afonseca Dias, Frei Ângelo dos Reis, o itabaianense padre Amaral, que ficou 43 anos vigariando a vila de Campos pela qual lutou incessante, sem trincheiras.

Alô, Construtores da nação tobiense!

E surge o próprio Tobias Barreto, glória do Brasil, nascido de um amor incontrolável! Eu nem sabia do livro de Junot Silveira, “O Romance de Tobias Barreto”, que me encantou na amostra reproduzida por Elias, descrevendo a vila de outrora, que trago um fragmento para ilustrar meu leitor:

“À distância, bimbalham chocalhos e estalejam macacas, que se casam à voz monótona dos tropeiros. São comboios que passam na noite silenciosa, conduzindo cargas para as praças de Lagarto, Itabaiana e outros mercados próximos”.

Ao autor (Elias Felipe) não escapa nada, no afã de prestar um serviço profissional ao seu povo, o que fez com méritos. Cada vigário, cada coadjuntor, até cada sacristão, cada político, cada visitante, cada benfeitor. Cada figura de destaque na feitura do brilho do povo de Tobias Barreto é mostrada no lugar certo.

O livro é consistente, coerente nas partes. Bom de se ler. Não perde tempo contando o que não precisa contar, nem vai além do alcance de sua mãe cuidadosa. São pequenos fatos, alguns corriqueiros, mas que dão uma vida enorme ao enredo. Sempre anda pela trilha religiosa, no que se sente mais à vontade pelo que se depreende. Aqui e acolá o autor, aperreado com tanta missão, delega a futuros pesquisadores maior aprofundamento, saindo-se muito bem e buscando repartir a glória de contar a história desse povo admirável e dessa terra abençoada..

 

(Aracaju, 14 de maio de 2014, Antônio Saracura, recuperada em dezembro 2010)

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