TOBIAS BARRETO, MINHA TERRA,
Elias Felipe Neto, Gráfica N.Sra. Imperatriz, de Tobias Barreto, 2010, 309
páginas
Há livros que nos marcam para o
resto da vida. E, às vezes, nem são livros badalados, não passam de edições
caseiras, feitas pela teimosia de autores iluminados. Muito bem iluminados,
pois, se não o fossem, não iriam gastar tempo e dinheiro escrevendo e publicando
um livro para pouca gente (ou ninguém) querer saber dele.
Em nosso Estado de Sergipe, posso
citar e o faço com vigor, os livros: “A História de Lagarto” (de Adalberto
Fonseca), “Japaratuba”, (de Eduardo Cabral), “Porto da Folha”, (de Manoel Alves)
e agora (pois acabo de ler), “Tobias Barreto, Minha Terra” (de Elias Felipe
Neto).
Existem outros célebres, mas
esses, apesar de praticamente desconhecidos, não lhes ficam atrás. Bem
escritos, ricos conteúdos históricos, convincentes, apaixonantes, emocionantes.
São livros de história, mas têm o gosto de espetaculares romances. Se não
quiser se apaixonar por eles, nem os procure ler!
José Padilha de Oliveira (que
chamo sempre de padre, e foi meu companheiro nas colunas do jornal “A Cruzada”
nos idos de 1960) me ligou outra semana.
Queria que eu fosse até sua casa
na Treze de Julho, ajudá-lo a encontrar um destino mais útil à sua biblioteca,
que extrapolava o espaço de que dispunha e às necessidades vigentes de um
guerreiro cansado de guerras.
Passei uma manhã inteira numa
reunião surpreendente e ditosa.
Manoel Cabral Machado recitou os
poemas e leu as crônicas de toda sua obra. Recebi a atenção especial de José
Silvério Fontes, Baltazar Góes, Ibarê Dantas, Ricardo Leite, Cezar Brito, Luiza
Maria da Costa, Maria Lígia Pina e outros que já viajaram ou vivem ainda neste
vale. Ilustres, para os quais antes nem ousava levantara vista...
Elias Felipe Neto (Tobias Barreto
Minha Terra) me levou ao passado remoto da fazenda de gado de Belchior Dias
Moreia. Ferrei garrotes no pé da Serra do Canine, apartei bezerros, curei
bicheiras...
Olá! Todos!
Robério Dias Moreia, Belchior de
Afonseca Dias, Frei Ângelo dos Reis, o itabaianense padre Amaral, que ficou 43
anos vigariando a vila de Campos pela qual lutou incessante, sem trincheiras.
Alô, Construtores da nação tobiense!
E surge o próprio Tobias Barreto,
glória do Brasil, nascido de um amor incontrolável! Eu nem sabia do livro de
Junot Silveira, “O Romance de Tobias Barreto”, que me encantou na amostra
reproduzida por Elias, descrevendo a vila de outrora, que trago um fragmento
para ilustrar meu leitor:
“À distância, bimbalham chocalhos e estalejam macacas, que se casam à
voz monótona dos tropeiros. São comboios que passam na noite silenciosa,
conduzindo cargas para as praças de Lagarto, Itabaiana e outros mercados próximos”.
Ao autor (Elias Felipe) não
escapa nada, no afã de prestar um serviço profissional ao seu povo, o que fez
com méritos. Cada vigário, cada coadjuntor, até cada sacristão, cada político,
cada visitante, cada benfeitor. Cada figura de destaque na feitura do brilho do
povo de Tobias Barreto é mostrada no lugar certo.
O livro é consistente, coerente
nas partes. Bom de se ler. Não perde tempo contando o que não precisa contar,
nem vai além do alcance de sua mãe cuidadosa. São pequenos fatos, alguns
corriqueiros, mas que dão uma vida enorme ao enredo. Sempre anda pela trilha
religiosa, no que se sente mais à vontade pelo que se depreende. Aqui e acolá o
autor, aperreado com tanta missão, delega a futuros pesquisadores maior
aprofundamento, saindo-se muito bem e buscando repartir a glória de contar a
história desse povo admirável e dessa terra abençoada..
(Aracaju, 14 de maio de 2014,
Antônio Saracura, recuperada em dezembro 2010)
Li na ASL em 18/04/2022.
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