quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O QUADRADO DE PIRRO, Renato Conde Garcia

 


O QUADRADO DE PIRRO, Renato Conde Garcia, Sercore Artes Gráficas,260p, 16x23,classificação:Romance, literatura sergipana.


 

 

“O Quadrado de Pirro” é um livro vistoso, vestido de branco como as noivas puras e com uma capa chamativa, mostrando Aracaju nascendo nos idos de 1855, com os contornos do Quadrilátero de Pirro em um vermelho vinho ao gosto dos olhos e do paladar. E lá por detrás, no miolo da obra, letras de bom tamanho, espaços amplos, diagramação transpirando opulência.

 

E o autor?

 

Eduardo Conde Garcia, sobrenome respeitável, pelo menos para mim que admiro quem galgou as cristas das melhores posições da nossa hierarquia política, econômica e social. Aonde todos deveríamos tentar chegar com trabalho e com empenho. E onde ninguém permanece sem dignidade e honradez, conforme penso e quero continuar pensando.

 

O livro é precedido por um artigo de Luiz Antônio Barreto (nosso maior nome nesse cenário do saber) como se fosse um prefácio móvel. Arauto do rei, anunciando a novidade que espera ser do agrado dos súditos.

 

Quem não se sentiria tentado a conhecer a obra?

 

Afonso da Eletrohidro e meu amigo (amante da boa literatura, já leu e comentou “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”, só para citar os livros de minha autoria) me emprestou o exemplar que recebera autografado do autor em algum lançamento de que não ouvi falar.

 

Li livro de leitura agradável e tem valor inestimável para nossa bibliografia, honrando-a e a enriquecendo. Destaco em especial a Parte V, que começa com o Barão João Afonso indo para a Corte. Entranha-se nas cartas (tanto a de João Afonso como a de João Pedro) que desenharam, com cores claras, o Brasil de então. E termina com o doutor Silva (um tipo que instiga e levanta qualquer livro frouxo) e com as usinas engolindo os engenhos e os negros heroicos mostrando seu brio.

 E finalizo dizendo que o próprio Afonso (não o João, mas o que me emprestou o livro) disse-me que gostou muito. E eu sei como ele é exigente e o tenho na conta de um juiz justo, de quem nunca discordo, especialmente sobre esse “Quadrado”.

Para conhecer melhor o tema do livro, leia excerto de publicado pelo intelectual Osvaldo Ferreira Neto Expressão Sergipana

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 Aracaju, 08 de junho de 2011, por Antônio FJ Saracura, resenha recuperada em dezembro de 2020).

 Post Escriptum:

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OS PRIMEIROS PASSOS DO CENTRO

O Centro tem seu surgimento quando a cidade do Aracaju começou a emergir dos charcos, lagoas, mangues e dunas da antiga Praia da Olaria, que existia no povoado Santo Antônio do Aracaju. Essa região já estava sendo ocupada administrativamente desde de novembro de 1854. O recém chegado presidente da província, o carioca Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais. Ele tinha os mais claros desejos de prosperidade econômica para Sergipe. Criaram-se mais tarde uma Agência dos Correios e uma Sub-Delegacia Policial. Todos esses prédios públicos situando-se a margem direita do Rio Sergipe, na região da atual Praça Gal. Valadão.

O objetivo era o escoamento da produção açucareira provincial. Necessitava-se de um porto, pois já não se encontrava estrutura adequada e suporte em São Cristóvão. Todo o processo de transferência da capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413(94) que elevava essa região inóspita a condição de capital da Província de Sergipe del Rey.

Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.

O TABULEIRO DE XADREZ

O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.

Além dos primeiros prédios administrativos que ficariam situados nas proximidades da Alfândega ou nas margens do Rio. Em 1856 é erigida a primeira igreja católica de Aracaju, a Casa de Oração São Salvador (Larajeiras com João pessoa) e a Assembleia Provincial (Escola do Legislativo da Alese). Nesse mesmo ano era colocado em prática as Posturas Municipais, que determinavam os primeiros passos das diretrizes urbanísticas que não contemplava os pobres e determinava 100 palmos de largura as ruas.

O IMPERADOR PASSOU POR AQUI

Em 1860 o Centro recebia a visita do Imperador D.Pedro II, a Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. Desembarcaram no pequeno atracadouro de madeira que viria a levar o nome de Ponte do Imperador. Eles participaram de uma celebração na Igreja São Salvador e passaram uma noite hospedados no então Palácio do Governo (hoje a atual Delegacia da Receita Federal, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Av. Rio Branco). Foi nessa visita que a obra de construção do Palácio Provincial do Governo, que estava sendo erguido, foi vistoriada por Dom Pedro. A obra foi projetada pelo engenheiro Francisco Pereira da Silva, que tinha sido contratado por Inácio Barbosa para ajudar no projeto de Pirro. No ano 1863 o Palácio ficou pronto.

A CIDADE SE PREPARA PARA O SÉCULO XX

Outros prédios públicos também começavam a ocupar o Centro. Em 1869 a Cadeia Pública (atual Palácio Serigy, onde localiza-se a Secretaria Estadual da Saúde); em 1875 a Matriz da Conceição (atual Catedral Metropolitana); em 1890 o Tribunal da Relação (atual Memorial do Judiciário). Com esse conjunto de prédios, em estilo neoclássico, dava-se ao traçado de Pirro feições de uma cidade provinciana. A região se desenvolvia cada vez mais para o século XX que se aproximava e trazia novos ecos da modernidade.

Nesses últimos anos do século XIX, o Centro recebia novas definições do disciplinar Código de Posturas, aprovado pela Lei Provincial n°968 de abril 1871. A lei dificultava e segregava ainda mais o Quadrado de Pirro para os pobres. Eles eram empurrados para os “arrabaldes”, como dizia Fernando Porto em seus estudos. Cada vez mais o Centro era destinado aos mais ricos e poderosos.

No ano de 1873, a Câmara Municipal define as nomenclaturas das ruas do Tabuleiro. Capela, Santa Luzia, Arauá era incluídas no mapa como novos logradouros públicos. Já a rua dos Músicos vira Pacatuba; a rua Jabotiana se torna Itabaiana; Independência vira Santo Amaro; rua da Assembleia muda para Itaporanga; rua Pirro é alterada para Socorro e a rua da Conceição vira Japaratuba (hoje Rua João Pessoa). Enquanto as ruas da Aurora (a popular Rua da Frente), São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância conservaram os nomes desde a fundação da cidade. A partir dessa alteração as ruas do Centro levaria os nomes dos principais municípios sergipanos até os dias atuais (Excerto de: https://www.brasildefato.com.br/2017/11/09/especial-expressao-sergipana-or-quadrado-de-pirro-nosso-eterno-centro-parte-1/)

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