segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MAIGRET E A MULHER DO LADRÃO, Georges Simenon,

MAIGRET E A MULHER DO LADRÃO, Georges Simenon, LPM pocket, 2012, 176 páginas, isbn 978-85-254-2560-7



Há personagens que ficam eternamente na nossa memória. Nem precisam ser do bem, ficam como se o fossem, uma grata lembrança. Rememorem Lisbeth Salander da saga Milenium de Stieg Larsson, um destes.

Pode-se esquecer o nome Alfred (Fred), o Triste, neste Maigret e a Mulher do Ladrão, nunca sua imagem de arrombador “honesto”, de princípios justos, que sonha como todos nós sonhamos, e os sonhos dele, também, como os nossos, não passam de sonhos.  Se possuirmos um cofre da marca Planchard, ficaremos satisfeitos em sermos roubados por Alfred. Tudo por conta da poesia e lirismo deste personagem triste. Indelével!


Neste livro, Maigret tem muito mais trabalho em pegar o criminoso. Quase escapa-lhe. Acho até que os dois comprimidos de atropina serviram como artimanha do autor para terminar com dignidade uma história que teimava em desmoralizar Maigret. A equipe da polícia judiciária já sentia pena do chefe e esperava as desculpas esfarrapadas a qualquer momento. Talvez a primeira humilhação na vida do investigador.


O bom em Simenon é que ele entra na alma de seus personagens, e, aqui e acolá, o leitor surpreende-se com trechos impagáveis, desnudando características dissimuladas, como esse trecho abaixo, no qual Maigret reencontra, dez anos depois, uma cliente de suas investigações, prostituta escrachada que tomou juízo e deixou de rodar bolsinha:  "Ele (Maigret) a reconheceu de imediato. Era como se ela não tivesse mudado com os anos na vida. Viu seu longo rosto pálido, as pupilas desbotadas, a boca larga maquiada em excesso, dando a impressão de uma ferida sangrenta. Viu, nos olhos dela, a tranquila ironia dos que viram tanto que nada mais tem importância a seus olhos."

Gostei do livro, como gosto de quase todos simenons que li. São livros curtos, servem de refrigério para o enfado de romances longos ou livros sonolentos, que consomem o juízo mas que temos que ler. Não porque haja ordem expressa externa, mas por uma questão de foro íntimo, de consciência: como não ler um livro da moda, do qual todos falam?

O simpático comissário da Polícia Judiciária de Paris topa desafios, segue pistas perdidas, capta no ar denúncias vagas e mergulha na busca incansável da solução do enigma que muitas vezes nem havia. Apenas ele sente que há. O faro do perdigueiro belga é antológico.

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