GALO BOTA OVO?, Laura Cortez
Diniz Monteiro, Lacre, 2016,32 páginas, ilustrações, isbn 978-85-64833-24-1
Sinto-me acanhado em escrever
sobre livros, especialmente livros infantis e livros de poesia. Também romances, crônicas, contos, ensaios,
etc. E por que então me meto? É que ninguém tem feito isso por essas bandas
sergipanas... Quase ninguém. Tento despertar alguém, depois saio de fininho.
Quem escreve e publica livros quase
sempre é senhor absoluto de suas verdades. Experimentou, ensaiou e, por fim,
depois de muito melhorar e depurar, libera o filho pronto pra vida. E aí vem um
vizinho bisbilhoteiro ou mesmo um cabra intrometido que nunca viu na vida,
falar dele? Tecer considerações que podem até ser desairosas!
Falar é um verbo cheio de significados
intrínsecos. Veja o caso de mulher falada! Até falar bem, muitas vezes magoa. E
falar de livros especialmente. Requer ousadia, coragem em demasia. Livros possuem
mistérios escondidos que, muitas vezes, até o autor desconhece. Os infantis, que é o nosso caso agora, buscam encantar/informar
um povinho puro que acata silencioso (em princípio) as lições, incorporá-las ao
íntimo e, anos depois, na vida adulta, transformá-las em bons atos. Um
pouquinho de veneno pode ser remédio que cura (o milenar arsênico) ou também
pode ser o tempero de um prato delicioso (pirão de baiacu, em Viva o Povo
Brasileiro de João Ubaldo). Dependendo do contexto, a mesma lição ensina o bem
ou o mal. Uma vírgula mata o homem.
Pascoal (Domingos Pascoal de
Melo, da Academia Sergipana de Letras), meu guru tupininquim e pagé poderoso de
muitas tribos, sempre está me dando missões: leia este livro infantil: “O Galo
Bota Ovo?”, faça uma avaliação.
Boa letra, visível até a um velho
míope de óculos arranhados, o meu caso. Bonitas gravuras povoam o texto,
ilustram a narrativa com coerência, permitem leitura sem olhar as letras e que satisfaz.
O enredo é lógico, claro. Questões cabíveis, comuns à criança. Como também as
explicações evasivas dos pais, tios, avós e outros adultos, fogem ao âmago,
arrodeiam, fazem ameaças veladas (“essa menina não tem jeito”), tentam inibir a
natural curiosidade. Custava fazerem uma analogia entre a mãe (que gera e pare)
e o pai (que apenas insemina)? Mas uma
criança assim perguntadeira (incentivada pela atenção recebida sempre), há quem
aguente?
Há pontos que me deixaram
intrigado... Havia galos (mais de um) no terreiro da história. A um galinheiro,
como a uma nação, cabe apenas um galo, um mandão, ou vira uma contínua disputa...
Eram assim os terreiros de criar galinha nos sítios da Terra Vermelha. Reconheço,
entretanto, que a diversidade é uma riqueza desse imenso Brasil: costumes, usos
das palavras (choco, postura) e modos de operar o quotidiano. Até a ciência de
conseguir paz em um galinheiro doméstico.
GALO BOTA OVO?
Um instigante título, uma edição
nobre, um agradável texto até para gente grande. E gratas reminiscências, como indica
a autora (setentona, avó de Romeu com dois anos, e mais outros): “quando você
crescer vai conhecer um pouco da infância da vovó Laura”.
(Aracaju, 07/08/2016)
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