quarta-feira, 17 de agosto de 2016

OS TRES SANTOS JUNINOS, Luzia Maria da Costa Nascimento

OS TRES SANTOS JUNINOS, Luzia Maria da Costa Nascimento, J. Andrade, 2015, 2. Edição, 267pa, isbn 978-8584-13051-0



Cadê São José das plantações de milho?

O livro Os Três Santos Juninos trata de Santo Antônio dos namorados (dia 13 de junho), de São João do compadrio (dia 24) e de São Pedro dos viúvos e porteiro do Céu (dia 29). 

“Santo Antônio casa, / 
São João batiza / 
Pra entrar no céu / 
São Pedro é quem autoriza”. 

Três santos das fogueiras às portas das casas, dos fogos de artifício, do milho assando, da canjica, das pamonhas e manuês, das comidinhas saborosos que Luzia Nascimento ensina a fazer.




Também Santa Isabel, a inventora das fogueiras, esposa de Zacarias, o criador das bombinhas de salão, pais de São João?  O dia de Santa Isabel é 08 de julho e, no meu passado no sítio Saracura, acendíamos a última fogueira, fechando o ciclo festeiro. Uma fogueira mais singela, a fogueira saideira.

E ainda Santa Ana, esposa de São Joaquim e avó de Jesus? A padroeira das viúvas merecia uma beirinha, pois seu dia é 26 de julho e alguma fogueira é acesa nos sítios de Sergipe; mas não me lembro de que na Terra Vermelha  a gente acendia.  

Quanto à São José?

19 de março é lá no passado, longe demais de junho. Tive pena dele. Mais essa privação! O pobrezinho criou o filho do Divino Espírito Santo como se fora seu sem reclamar de nada; plantou todo milho para junho colher. Também tem fogueira no seu dia, uma ou outra. E na hora do banquete, nem comparece, fica no trabalho duro na oficina de carapina.  

Fiz essas considerações para começar a conversa...
Puxei o saco do time santificado, puxei brasas para mais gente, tentei recompensar meus pecados cometidos e ganhar mais simpatia dele, importante na hora do julgamento final. 


O livro é denso, fala amiúde dos três nomeados acima e das tradicionais festas que ocorrem em Sergipe, no Nordeste e no Brasil em seu louvor.  Dedica 149 páginas a Santo Antônio, 27 a são João e 36 a São Pedro. As 35 páginas finais tratam de culinária, das boas comidinhas que são servidas no período, a maioria a partir do milho ou da mandioca puba,

Para cada santo é contada a história (rica biografia), fatos relativos à religiosidade, lendas, as tradições populares em torno do mesmo no mundo todo.  Há rezas fortes, simpatias. Há curiosidades.
Santo Antônio “é amado preferencialmente pelo povo humilde, que vislumbra nele o distribuidor dos tesouros celestiais e o promotor decidido dos interesses dos pobres” (Leão XII citado no livro).  Foi feito Santo em apenas onze meses e dezessete dias após sua morte pelo papa Gregório IX. Em vida já o era com sobras. Santo Antônio escreveu livros de sermões, mas o povo canta-o todo dia em prosa e verso:

"Santo Antônio Pequenino,
Mansadô de burro brabo
Vem e mansa minha sogra
Que é levada do diabo”.

São João é o promotor dos compadrios, especialmente nos lugares remotos onde o padre pouco aparece.  E os casamentos de fogueira também, de maneira eficaz e rápida:

“São João dormiu
São Pedro acordou
Zefa é minha muié
Que são João casou”.

E vem São Pedro, o chaveiro do céu, aquele que pode fechar a porta bem na nossa hora.  Convém celebrá-lo com muita devoção. 

“Corre, corre cavaleiro
Vai a porta de são Pedro
Dizer à santa Luzia
Que venha tirar este argueiro
Com a ponta de seu lenço”.

Você sabia que as fogueiras seguem formatos específicos: a São João deve ter uma base arredondada, já a de Santo Antônio deve ser quadrada e a de São Pedro, triangular? 

Por essas e outras estradas, o livro de Luzia Maria Costa Nascimento fala (e bem) dos santos Juninos. É a segunda edição. A primeira saiu em 2015 e João Oliva Alves, um jornalista acima de qualquer outro, recebeu-o com uma crônica publicada no Jornal Cinform, que assim termina: “Os Três Santos Juninos” de Luzia Costa Nascimento repercute como um excelente acontecimento literário   editorial que atrairá a atenção dos leitores e turistas de toda parte de nosso Estado” (publicada no livro Mural de Impressões, página 119). 

Uso, com licença do mestre João, as mesmas palavras para encerrar minhas mal traçadas linhas.

(Aracaju, Antônio Saracura, julho de 2016).








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