sábado, 13 de agosto de 2016

O PÓ DA ESTRADA e LEITOR A ESCRITOR, Enéas Athanázio

O PÓ DA ESTRADA e LEITOR A ESCRITOR, Enéas Atanázio, 2015, volume 2, Nova Letras, 160 páginas, isbn 978-85-7682-966-9



 
Querido escritor Enéas,

 Permita-me chamá-lo assim, quero muito bem ao senhor!

Acabo de receber o livro “Enéas Athanázio: de Leitor a Escritor”, autoria de Guilherme Queiroz de Macedo.   Obrigado pela lembrança.




Li rapidamente. A obra faz justiça ao grande escritor, incansável cronista do povo catarinense e brasileiro. O Brasil precisa conhecê-lo.

Enéas tem uma vasta bibliografia, 42 dois anos na estrada literária, 62 obras publicadas, desde “O Peão Negro”, em 1973. Nasceu na cidade de Campos Novos no planalto Catarinense em 1935. Ele mesmo fala sobre sua extensa obra literária: “Aquela Campos Novos (do passado) só existe mesmo dentro de mim e de alguns que escreveram e viveram lá naquela época mais intensamente. Eu olhava os fatos que aconteciam, as questões políticas, aqueles coronéis com seus latifúndios, aquela vida, e me decidi: vou tentar o registro, já que ninguém se habilita, E comecei a escrever meus contos.”


Escreveu uma obra eterna, para todos nós, pois somos também de Campos Belos.





E sobre “O Pó na Estrada”, o motivo dessa mal traçada resenha?
Jack Kerouac ajude-me a acompanhar Enéas, impetuoso deambulatório, como ele mesmo se chama. Cada viagem é seguida de forte ímpeto escrevinhatório.




Eu fui premiado, sou um dos personagens, misturados com gente da Paraíba (Terra do Nego), de Campos Novos, Canoinha e Calmon. Gente de São Paulo e do Ceará, pois a viagem continua lá.  A chuva nos pegou a todos, a família de Enéas e a minha imaginação no Planalto Catarinense:  Rio Negrino onde já naveguei; Catei relíquias de guerra nos campos destruídos do Contestado e depois boas lembranças nas alterosas de Minas Gerais.

Enéas e Jandira, o casal peregrino... Não convém ao homem andar só, e nem à mulher também.

O capitalismo criou espaços de lazer:  Salinas do Maragogi só para começar. Eu bem que gostaria também de me salinizar.  Recife e Olinda, trilhas sangrentas dos holandeses invasores. São Salvador da Bahia, a religiosidade, as palavras eternas de Jorge Amado que ressoam sonoras.

O homem não para, como se o Brasil inteiro fosse o caminho de Santiago em loop fechado e contínuo. Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí. Direto, voo longo, ao chão de Nheçu, uma viagem complicada.  Enéas publicou o “Mundo Índio" (2003) resgatando a história heroica deste cacique guarani, líder inconteste da resistência à invasão europeia na região Santo Ângelo, que nos proteja de tanta injustiça desde o descobrimento.  Também São Miguel Arcanjo e todo santo disponível, pois precisamos de proteção.

Finalmente Sergipe dos caciques guerreiros Serigy, Baopeba, Japaratuba, Surubim e muitos heróis massacrados. Estância, Lagarto e Itabaiana com a singular casa de farinha: beijus, pés de moleque, amendoim torrado.  O restaurante do Pirata em pleno oceano verde. Os Falcões nos paredões da serra lendária de Belchior Dias das minas de prata escondidas, e de saracuras solitárias nas manhãs orvalhadas e estardeceres sanguinolentos. 

“Dia 10 de outubro, sexta-feira. Dia dedicado à procura de amigos. Após o café, rumamos à Avenida Ivo do Prado para localizar a morada da jornalista Ilma Fontes. Não tardamos a encontrar. Ela nos recebeu e batemos um longo papo. Edita o jornal “O Capital” que tem publicado muita coisa minha e a meu respeito”.

E Clarêncio Martins Fontes que ninguém encontra! Correspondente volátil, fugidio...

“Dia 13 de outubro, 2 feira, 10 horas – rumamos para a sede da Associação Sergipana de Imprensa...  Clarêncio Martins Fontes está a espera. Apareceu então o escritor Antônio Francisco de Jesus, o Saracura, e entrou na roda. Ofereceu-nos um de seus livros (Os Tabaréus do Sítio Saracura)”.

Foi nessa rápida referência que conheci Enéas Athanázio.  Clarêncio havia me convidado, por isso eu apareci. Não sou assim sortudo para ganhar rifa sem manha.

Acabou a viagem com retorno a Camboriú, terra de belas mulheres, onde Enéas escreve belos livros e recarrega as baterias para botar, outra vez, o pé na estrada levantando pó perfumado.

(Antônio Saracura, Aracaju 11/08/2016)





    

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