O PÓ DA ESTRADA e LEITOR A ESCRITOR,
Enéas Atanázio, 2015, volume 2, Nova Letras, 160 páginas, isbn 978-85-7682-966-9
Querido escritor Enéas,
Permita-me chamá-lo assim, quero
muito bem ao senhor!
Acabo de receber o livro “Enéas Athanázio:
de Leitor a Escritor”, autoria de Guilherme Queiroz de Macedo.
Obrigado pela lembrança.
Li rapidamente. A obra faz justiça ao
grande escritor, incansável cronista do povo catarinense e brasileiro. O Brasil
precisa conhecê-lo.
Enéas tem uma vasta bibliografia, 42 dois
anos na estrada literária, 62 obras publicadas, desde “O Peão Negro”, em 1973.
Nasceu na cidade de Campos Novos no planalto Catarinense em 1935. Ele mesmo
fala sobre sua extensa obra literária: “Aquela Campos Novos (do passado) só existe
mesmo dentro de mim e de alguns que escreveram e viveram lá naquela época mais
intensamente. Eu olhava os fatos que aconteciam, as questões políticas, aqueles
coronéis com seus latifúndios, aquela vida, e me decidi: vou tentar o registro,
já que ninguém se habilita, E comecei a escrever meus contos.”
Escreveu uma obra eterna, para todos nós,
pois somos também de Campos Belos.
E sobre “O Pó na Estrada”, o motivo dessa
mal traçada resenha?
Eu fui premiado, sou um dos personagens,
misturados com gente da Paraíba (Terra do Nego), de Campos Novos, Canoinha e Calmon.
Gente de São Paulo e do Ceará, pois a viagem continua lá. A chuva nos
pegou a todos, a família de Enéas e a minha imaginação no Planalto
Catarinense: Rio Negrino onde já naveguei; Catei relíquias de guerra nos
campos destruídos do Contestado e depois boas lembranças nas alterosas de Minas
Gerais.
Enéas e Jandira, o casal peregrino... Não
convém ao homem andar só, e nem à mulher também.
O capitalismo criou espaços de lazer:
Salinas do Maragogi só para começar. Eu bem que gostaria também de me salinizar.
Recife e Olinda, trilhas sangrentas dos holandeses invasores. São
Salvador da Bahia, a religiosidade, as palavras eternas de Jorge Amado que
ressoam sonoras.
O homem não para, como se o Brasil inteiro fosse o caminho de Santiago em loop fechado e contínuo. Pernambuco, Rio Grande do Norte
e Piauí. Direto, voo longo, ao chão de Nheçu, uma viagem complicada.
Enéas publicou o “Mundo Índio" (2003) resgatando a história heroica deste
cacique guarani, líder inconteste da resistência à invasão europeia na região
Santo Ângelo, que nos proteja de tanta injustiça desde o descobrimento.
Também São Miguel Arcanjo e todo santo disponível, pois precisamos de
proteção.
Finalmente Sergipe dos caciques guerreiros
Serigy, Baopeba, Japaratuba, Surubim e muitos heróis massacrados. Estância,
Lagarto e Itabaiana com a singular casa de farinha: beijus, pés de moleque,
amendoim torrado. O restaurante do Pirata em pleno oceano verde. Os Falcões
nos paredões da serra lendária de Belchior Dias das minas de prata escondidas,
e de saracuras solitárias nas manhãs orvalhadas e estardeceres sanguinolentos.
“Dia 10 de outubro, sexta-feira. Dia
dedicado à procura de amigos. Após o café, rumamos à Avenida Ivo do Prado para
localizar a morada da jornalista Ilma Fontes. Não tardamos a encontrar. Ela nos
recebeu e batemos um longo papo. Edita o jornal “O Capital” que tem publicado
muita coisa minha e a meu respeito”.
E Clarêncio Martins Fontes que ninguém
encontra! Correspondente volátil, fugidio...
“Dia 13 de outubro, 2 feira, 10 horas –
rumamos para a sede da Associação Sergipana de Imprensa... Clarêncio
Martins Fontes está a espera. Apareceu então o escritor Antônio Francisco de
Jesus, o Saracura, e entrou na roda. Ofereceu-nos um de seus livros (Os Tabaréus
do Sítio Saracura)”.
Foi nessa rápida referência que conheci
Enéas Athanázio. Clarêncio havia me convidado, por isso eu
apareci. Não sou assim sortudo para ganhar rifa sem manha.
Acabou a viagem com retorno a Camboriú,
terra de belas mulheres, onde Enéas escreve belos livros e recarrega as
baterias para botar, outra vez, o pé na estrada levantando pó perfumado.
(Antônio Saracura, Aracaju 11/08/2016)
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