quinta-feira, 4 de agosto de 2016

TEMPO DE ALMAS E ANJOS, Expedito Souza,

TEMPO DE ALMAS E ANJOS, Expedito Souza, Jandrade 2016, 298 páginas, isbn 978-85-8253-158-7



Logo de início, ao ler o título do livro, pensei em assombração. Por causa das almas. Ver alma no meu tempo de menino, no povoado Terra Vermelha de Itabaiana, era encontrar alguém que já morrera: Caveiroso, nos ermos das noites. Elas zanzavam em todo lugar, mas o Cemitério do Rumo no Pé do Veado era o rancho preferido. De arrepiar os cabelos. Deus me livre!

Os anjos, por sua vez, também são espíritos do além, almas de criancinhas de peito ou acessórios de santos no altar das igrejas. E mesmo que nos apareçam, não assombram quase nada. Para mim, tanto as almas com os anjos, que fiquem no limbo, no céu ou onde for.  Prefiro encontrar com gente viva, mesmo correndo perigo, quando estes vivos são malfazejos, cada vez mais comuns.

Então vou deixar para ler o livro à luz do dia... Um intenção fátua que veio por engano e se foi na mesma hora. 

Não tenham medo dos casos (contos, crônicas, simples relatos ou notícias) que estão no livro de Expedito Souza. São Almas e Anjos do bem, não assustam ninguém. São tão reais e bons que podem ser considerados anjos da guarda de um grato passado. A sua aparição, mesmo nas lúgubres madrugadas, agradam, emocionam e mexem com os sentimentos mais nobres que habitam o ser vivente, mesmo que este seja um pecador como eu.

Singelas histórias, infantis até. Poderiam, na sua maioria, receberem gravuras e povoarem bibliotecas de jardins de infância. E provavelmente povoarão, após lidas, o jardim de nossa infância longínqua, tenhamos tido ou não a ventura de ter nascido o Riachão do Dantas de Expedito Souza. Histórias que revelam, com humor, o cotidiano de uma família comum, de um povo inteiro, na modorra de uma cidadezinha perdida nos cafundós ou na progressista capital. Algumas aparentemente fúteis, mas todas cheias de lembranças que jamais poderão se perder. Lembranças que sustentam a nossa boa essência humana.

“Tempo de Almas e Anjos” são tempos revelados e oferecem momentos de enlevamento. Impagável enlevo! É assim que fluem as páginas fagueiras, às vezes surpreendendo, às vezes divertindo, e sempre mostrando uma época cara. Honra e glória à infinidade de personagens que o autor destaca: amigos de infância, pessoas ilustres, tipos folclóricos, chefes bons e outros nem tanto, pais de família, serviçais, irmãos, primos. Até eu, se bem que, desta vez, nas sutis entrelinhas dissimuladas. E também honra e glória aos lugares sagrados onde o autor passou a vida toda ou um rápido momento, no tempo de infância ou na idade madura, como foi o livro anterior “Relógio do Tempo”, que faz e fará sempre sucesso.

À uma resenha cabe muito mais do que escrevi até agora, como a engenharia e a geografia da obra. Para não perder o leitor que chegou até aqui, digo apenas que são 294 páginas de boa leitura, 80 títulos, mais ou menos 300 personagens, muitas locações... tiradas inteligentes. Muito gozo e pouquíssima dor, ainda por cima, pequena.


(Antônio Saracura, Aracaju, 04 08 2016)




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