TEMPO DE ALMAS E ANJOS, Expedito
Souza, Jandrade 2016, 298 páginas, isbn 978-85-8253-158-7
Logo de início, ao ler o título do livro,
pensei em assombração. Por causa das almas. Ver alma no meu tempo de menino, no
povoado Terra Vermelha de Itabaiana, era encontrar alguém que já morrera:
Caveiroso, nos ermos das noites. Elas zanzavam em todo lugar, mas o Cemitério
do Rumo no Pé do Veado era o rancho preferido. De arrepiar os cabelos. Deus me
livre!
Os anjos, por sua vez, também são
espíritos do além, almas de criancinhas de peito ou acessórios de santos no
altar das igrejas. E mesmo que nos apareçam, não assombram quase nada. Para
mim, tanto as almas com os anjos, que fiquem no limbo, no céu ou onde
for. Prefiro encontrar com gente viva, mesmo correndo perigo, quando
estes vivos são malfazejos, cada vez mais comuns.
Então vou deixar para ler o livro à luz do
dia... Um intenção fátua que veio por engano e se foi na mesma hora.
Não tenham medo dos casos (contos,
crônicas, simples relatos ou notícias) que estão no livro de Expedito Souza.
São Almas e Anjos do bem, não assustam ninguém. São tão reais e bons que podem
ser considerados anjos da guarda de um grato passado. A sua aparição, mesmo nas
lúgubres madrugadas, agradam, emocionam e mexem com os sentimentos mais nobres
que habitam o ser vivente, mesmo que este seja um pecador como eu.
Singelas histórias, infantis até.
Poderiam, na sua maioria, receberem gravuras e povoarem bibliotecas de jardins
de infância. E provavelmente povoarão, após lidas, o jardim de nossa infância
longínqua, tenhamos tido ou não a ventura de ter nascido o Riachão do Dantas de
Expedito Souza. Histórias que revelam, com humor, o cotidiano de uma família
comum, de um povo inteiro, na modorra de uma cidadezinha perdida nos cafundós ou
na progressista capital. Algumas aparentemente fúteis, mas todas cheias de
lembranças que jamais poderão se perder. Lembranças que sustentam a nossa boa
essência humana.
“Tempo de Almas e Anjos” são tempos
revelados e oferecem momentos de enlevamento. Impagável enlevo! É assim que
fluem as páginas fagueiras, às vezes surpreendendo, às vezes divertindo, e
sempre mostrando uma época cara. Honra e glória à infinidade de personagens que
o autor destaca: amigos de infância, pessoas ilustres, tipos folclóricos, chefes
bons e outros nem tanto, pais de família, serviçais, irmãos, primos. Até eu, se
bem que, desta vez, nas sutis entrelinhas dissimuladas. E também honra e glória
aos lugares sagrados onde o autor passou a vida toda ou um rápido momento, no
tempo de infância ou na idade madura, como foi o livro anterior “Relógio do
Tempo”, que faz e fará sempre sucesso.
À uma resenha cabe muito mais do que
escrevi até agora, como a engenharia e a geografia da obra. Para não perder o
leitor que chegou até aqui, digo apenas que são 294 páginas de boa leitura, 80
títulos, mais ou menos 300 personagens, muitas locações... tiradas
inteligentes. Muito gozo e pouquíssima dor, ainda por cima, pequena.
(Antônio Saracura, Aracaju, 04 08 2016)
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