CAUSOS DE ITABAIANA
GRANDE, José Augusto Machado (Baldock),Infographics,2004),Páginas 169 (sem
ibsn)
Minha mãe (hoje, maio
de 2016, está com 95, e não lê mais nem a Bíblia) leu o livro de um fôlego.
Logo que chegou a minhas mãos, alguns anos após a publicação, em 2009. Ela isolou-se na sua rede, não aceitava apartes, mal resmungava respostas às bênçãos
pedidas pelos filhos enjoados.
Quando concluiu a
leitura, eu estava junto. Concluiu e ficou pensativa, viajando longe. E eu à
sua frente sem saber se a inquiria ou se aguardava o desenlace do transe.
Quando já me armava para lhe perguntar o que achara, pois não aguentava mais a
espera, ela truncou minha intenção.
— Gostei
demais! Obrigada pelo presente! Revi pessoas de quem nem me recordava mais. Parentes
de minha vida toda. O escritor só pode
ser gente dos ferreiros... se não, não contaria do jeito cativante que contou!
E
enlevada, prosseguiu:
— João
Marcelo é filho de tio Nonô. As irmãs Graça
de Rosendo e Maria de Guedes eram as donas da loja de tecidos que Zé Crispim
comprou. De meu povo. Zé Crispim não é
parente mas sua esposa, Lourdes, é minha prima de sangue dobrado. Marcelino Mecânico criou-se lá em casa, é
filho de tia Ana e Chiquinho Gordo. Pedro de Anita é irmão de Marcelino
Mecânico. Maceta é filho de Zé Bigodinho e de Irene, ambos da minha família. Já Arrojado é do povo de seu pai, do Cajueiro,
Congo e Terra Vermelha. E Zentonho Ferreiro?
Meu tio, quase um primo, vivia lá em casa, nas Flechas. E Samarone é Antônio Fernandes de Maria
Lourdes minha irmã. (...).
Talvez
ela exagerasse um pouco (achei) contaminada pelo sangue da família que fervia
não teria vantagem nenhuma. Qualquer são-tomé-espírito-de-porco
(sempre há!) pode tirar a limpo em dois minutos. Basta chegar ao Santo Antônio e bater palmas à porta de uma singela e
determinada casinha na rua Rosário.
Mas
deixando mamãe de lado (o quê, filho ingrato? cuidado com o veneno da língua!),
“Causos de Itabaiana Grande” é uma das boas obras sobre nosso jeito de ser.
Histórias contadas como quem fofoca, como quem segreda. Sem verborreia e sem empolação mas com
empolgação e simplicidade. Todos os causos tem visgo que só os bons escritores
conseguem botar. Pelo menos, só encontro neles.
Quem
conhece José Augusto Baldock sabe que ele tem pronta uma coletânea de causos
ainda mais sensacionais, precisando apenas publicar.
Publique
logo, Baldock!
Minha
mãe, Florita, agora com quase noventa (2009, quando escrevi essa crônica) não entende por que você está demorando
tanto. Ela precisa ler a nova epopeia dos ferreiros, dos saracuras e dos demais
sobrenomes que cobrem de glória o nosso povo e que só você sabe contar do jeito
certo. Antes que seja tarde, para ela!
(Publicada
na Perfil 15/06/2009)
PS:
Depois Baldock publicou:1) Itabaiana Grande Seus Causos e Mais, em 2013 - Mamãe ainda leu.
2) Cartilha de Itabaiana, em 2017 - apesxarf de viva, mamãe não lia mais. Faledceu em abril de 2018
Li na ASL em 14/02/2022
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