POESIA E PENSAMENTO, João Lover, Infographics 186p;
21cm,2013, isbn 978-85-916182-0-0
Este é o quarto livro de poesias de João Lover,
sinal claro de que tem agradado aos
leitores. Nenhum autor, por melhor que seja, resiste ao silêncio absoluto dos
leitores. Um livro, uma peça de teatro, uma canção e outras expressões do belo
são produzidos para o público. Se não enlevam, o público os ignora (muitas
vezes nem reclama) e afasta-se. Resta ao autor, numa contrapartida justa, depois
de entender o duro cenário, resignar-se e procurar outro afazer.
Conheço João Lover de pouco tempo, mas suficiente
para saber da consciência que tem sobre o valor de sua arte. E briga por ela, para
que seja lida, pois julga que vale a pena. Na II Bienal do livro de Itabaiana,
que aconteceu em outubro de 2013, na qual lançou este livro, encontrei-o
cuspindo maribondos, pois mandaram parar a recitação que fazia a uma pequena plateia,
num dos corredores. O governador chegava para uma visita. Mandaram parar, como se
recitar poemas fosse inadequado à presença de uma autoridade em uma Bienal de
livros! Acolhi alguns daqueles maribondos,
multipliquei-os na minha usina. Mais adiante, cuspi um enxame inteiro. Eles
zoam ainda dentro de mim, querendo morder os que envergonham a literatura ao se
envergonharem dela.
Sinto algo diferente na poesia de João Lover. Seus
poemas parecem duros, diretos: “Pau, cacete, madeira de quina de sucupira,
por cima dessa moleira”. Posso estar equivocado (o que não é de estranhar), mas
sinto-os como prédios no concreto bruto, estruturas formidáveis porem desnudas
de aviamentos. O valor está à mostra, evidente, não cabe suposições. Como a mulher
nua na exuberância das suas formas, desprovida dos adornos que lhe permitem o
acesso aos salões sociais e que a fazem menos bela na sua essência.
Usando o pensamento do próprio autor, digo que os
poemas de João são flechas de letras-luzes disparadas por um visionário que
carrega as cruzes da arte. Os poemas têm o lirismo romântico, mas sem lero-leros:
“passar dez minutos de amor com ela vale mais do que a vida inteira sem amar
ninguém” ou “teu sorriso por um segundo é a beleza do mundo”. Ou quando canta a amada: “Vejo esse jeito que
tens e penso em mais de cem coisas para fazer: uma vontade de morder, outra de
abraçar...”
Precisa de mais?
Leia o livro!
O arrulhar de um livro sendo lido, motiva o poeta a
escrever e publicar novos poemas.
E assim, a vida ficará melhor para todos.
(Publicada na revista Perfil 17/4)
(Resenha escrita em 2013)
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