sábado, 14 de novembro de 2015

O ENIGMA DO CASARÃO, J. Ribeiro Neto

O ENIGMA DO CASARÃO, J. Ribeiro Neto (Luminiscata o intruso),2015, Sercore, 176p, isbn 9787-8584-13053-5)



Desde 2010, quando ganhei o prêmio Mário Cabral de Crônicas pela Secult com o livro “Minha Querida Aracaju Aflita”, conheço J. Ribeiro Neto. Seu “Luminiscata o intruso” foi premiado na categoria romance. Encontros esporádicos nos shoppings da cidade, ele fuçando os jornais e eu compulsando livros ou plantando sementes em O Escritor na Livraria. Dedico a J. Ribeiro uma simpatia especial, também pela genética admirável que tem, ele é neto de José Ribeiro Filho, criador da Casa de Leitura do Santo Antônio e um dos fundadores da Academia Sergipana de Letras, nos idos antigos.  Gerações de intelectuais de renome o antecederam e estão a seu lado, como seus irmãos Wagner Ribeiro e Marcelo Ribeiro, poetas, cronistas que engrandecem Sergipe.
Tive a oportunidade de ler “Luminiscata o intruso” (o livro premiado) e teci comentários críticos que entreguei ao autor. Não me lembro se houve contestação ou réplica.  Mas como não mudou o seu tratamento civilizado comigo, creio que os tenha assimilado. E deve mesmo ter, pois, há cerca de um ano, entregou-me uma pasta com os originais de um novo romance, “O Estigma do Casarão”. Não costumo ler obras em elaboração, temo contaminar com meus equívocos um grande livro. E essas leituras  nunca  aprofundam. E avaliação apressada é melhor nem haver. Mas ele insistiu e, duas semanas depois, devolvi-lhe o calhamaço todo pintado de vermelho. Pedi-lhe desculpa, disse-lhe que nem precisava ler minhas observações críticas (um pedido de certa forma desnecessário, devido à minha letra mastigada, intragável).
Ontem encontrei J. Ribeiro em um shopping center.  E me deu, publicado, e com uma capa linda de Bené Santana (artista plástico genial), seu novo livro, “O Estigma do Casarão”. Acontecera o lançamento no espaço cultural da Assembléia e eu nem soube. Como ando desligado! Perco eventos simpáticos como esse a cada dia. Como posso dar conta de tanta coisa acontecendo nessa Aracaju que respira arte?
- “Cito você no livro”.
- “Eu? Cuidado! Eu sou de Itabaiana!”. 
J. Ribeiro sorriu econômico, que é seu jeito de sorrir. Eu fiquei com uma pulga atrás da orelha, segui meu destino.  Sabia que era um romance policial e bem que eu poderia ter ganhado uma pontinha como suspeito dos crimes que assolaram o clã dos Molgadícios, donos do casarão estigmatizado.  Ou o detetive Guilherme, perdido, atirando a esmo, me arrolou como suspeito. Ou mesmo ter sido assassinado, como vingança (demora, mas não tarda) pela minha indelicadeza naquelas observações críticas que citei acima.
Comecei a reler a obra. Logo no começo, encontrei-me (sessão de agradecimentos, ufa!) antecedido pelos impagáveis irmãos Wagner e Marcelo Ribeiro, e pelo mestre contista Paulo Fernando Teles de Morais. “Eu não posso (escreveu o autor) omitir a decisiva colaboração do escritor Antônio Francisco, que com o mesmo entusiasmo com que faz rufarem os Tambores da Terra Vermelha demoliu as estruturas do meu primeiro casarão, sobre os escombros do qual edifiquei  este que estou trazendo a público. Valeu, Saracura!”.
Menos apreensivo, prossegui a leitura.  Confesso que ainda me perdi (avoado como sou) no emaranhado dos personagens, Maria Ruth, Rutinha, Margoth, Lisbeth, Maria Laura, Laurinha, Rosalva Corró, Rosa, Rosalva, Vó e outros nomes que nem anotei. E, apressado por natureza, dizem que tenho a bola esquipada (?), agoniei-me nos longos diálogos (da página 66 a 174, 70% do romance), envolvendo Miss Marple (Rosa) e o “meu caro Watson” (Rute), no desvendamento dos mistérios. Sherlock Holmes que perdoe a traição do fiel escudeiro.
Em compensação,  deliciei-me com a boa escrita (frases curtas e eficazes) especialmente com as tiradas que descontraem o texto e cativam o leitor sisudo: namoradeira que só! Laranjas que dificilmente se deixariam espremer, sabe-se lá mais o quê, afe!...um pedaço de sanduíche mordido,  um peixe sem muito prestígio, além dos trezentos paus, mais esperta pouquinha coisa, demais da conta, puta mesquinharia, me engana que eu gosto, santa ingenuidade,  e muitas outras.
Por fim, desculpando-me por ser avoado e apressado, arrisco dizer que o capítulo IX vale por um romance inteiro.  


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