quarta-feira, 11 de novembro de 2015

RELÓGIO DO TEMPO, José Expedito de Souza

RELÓGIO DO TEMPO, José Expedito de Souza, 2014, 282p, isbn 978-85-8253-077-1


Fui colega de Petrobrás, nos anos sessenta, de José Expedito de Souza.
E ficamos amigos.
Jamais  vou esquecer seu orgulho em ter servido o exército brasileiro, deixando-me triste por ter cavado a minha dispensa. Também o  orgulho com o qual exibia um diploma de torneiro mecânico, quando éramos apenas auxiliares de escritório. E de suas piadas inteligentes e curtas que destruíam (e destroem) qualquer empedernido mau humor.
Quando a Petrobrás me transferiu para São Paulo, ele foi meu embaixador na faculdade onde meu curso fora interrompido, criando condições para concluí-lo mesmo à distância. Depois que me formei, sabe lá Deus como, deu-me conta de uma medalha de honra ao mérito que me coubera. Sem o seu empenho, eu jamais saberia dela, minha única medalha na vida toda. No meu retorno para Sergipe, após mais de 12 anos fora, Expedito  me puxou o quanto pode para mais perto dele, tentando me integrar no meio que já me considerava estranho.  Abriu-me as portas da Câmara de Arbitragem da Associação Comercial, da Codise, da sua indústria chamada Steel e da Associação de Empresários Cristãos (ADCE).  Não entrei porque não quis.

XXX

Por que nenhum pároco quis casar Maria Alice?
Morri de pena da pobrezinha, de cidade em cidade, montada em um jipe duro, batendo em portas fechadas ou recebendo fechadas de portas e, mesmo assim, querendo prosseguir mais e mais, na busca de realizar um sonho tão simples de realizar.
A tripa grande engolindo a tripinha e causando a morte da criança que recusa a comida gostosa que alimenta a tripa grande.
O umbigo, que nada mais é do que a cabeça de um parafuso estratégico, e que sustenta a bunda do menino... Se ele continuar coçando o  umbigo,  parafuso afrouxa e  a bunda despenca.

xxx

Na literatura, como na vida, o humor, a solidariedade, a valorização do simples, a ironia, a verve de Expedito estão evidentes.  Ele escreve como quem bate fotos. Como quem pinta telas. Como quem conta piadas. Como quem encanta o passado.
O filme custa dinheiro. As tintas são escassas.  A  pequena platéia pode voar. O passado é escorregadio.
Então Expedito capricha no foco. No caminho do pincel, nos ingredientes da prosa, na graça do dizer, nas sutilezas das reminiscências. Com um clique,  capta o mundo. Com quatro pinceladas, constrói uma alvorada.  Com dez linhas, ensaia um romance.  Com os fantasmas do passado, ressuscita um Riachão que emociona o leitor e dignifica um povo.

Antônio FJ Saracura (da Academia  Itabaianense de Letras)
Foi publicado como apresentação no livro
(facebook novembro 2015) 

(Notas de Leitura)

Relógio do tempo – Expedito Souza, 2014, editora J. Andrade, 282p, isbn 978-85-8253-077-1- Acaba de ser lançado. Eu tive a honra de ser um dos pré leitores, daí já estar podendo falar dele.  Além de ter recebido um exemplar logo que saiu do forno, quentinho. A obra resgata um rico passado que se perderia caso Expedito fosse um acomodado, achasse que livro é coisa de gente besta.  Eu conheço o autor de muito e, sem sobrosso,  posso  tomar como minhas as palavras de um dos prefaciadores:  “Na literatura, como na vida, o humor, a solidariedade, a valorização do simples, a ironia, a verve de Expedito estão evidentes.  Ele escreve como quem bate fotos. Como quem pinta telas. Como quem conta piadas. Como quem encanta o passado”.  Não deixe de ler!  (publicada na revista Perfil ano 18 número 1)


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