O POVO DAS ÁGUAS, Ron Perlim (Ronaldo Pereira Lima), Penalux, Guaratinguetá, 2017, 70 páginas, 21 cm, isbn 978.85.5833.243.9
Mandei agora um wsap a Ron Perlim,
não pude esperar:
“Seu livro é muito bom! Parabéns! Acabei de ler. Bom enredo, boa
mensagem. Estou gratificado. Um livro útil e que vai, espero, ser eterno.
Ganhar prêmios.”
Ron Perlim é autor de outros
pequenos grandes livros, destaque especial para “Laura” que lhe deu prêmio
melhor livro infantil (Alina Paim) em 2010 pela Secult de Sergipe. Fui apresentado
ao autor nas oficinas gráficas da Segrase, que imprimia os livros premiados. Ganhei,
no mesmo concurso, o prêmio de melhor livro de crônicas (Mário Cabral) com o
livro “Minha Querida Aracaju Aflita”, fez tanto sucesso que acabou logo a
tiragem de 1.700 exemplares. Desde então, venho tentando que a Segrase/Edise
faça uma segunda edição, mas minhas cartas se perdem na burocracia.
Ron é servidor público,
mora na cidade de Cedro de São João. Anda, quando pode, como eu, pelas feiras
literárias e bienais, onde o tenho encontrado sempre acompanhado da esposa
solidária e também professora, Marcléa Rocha, inseparável. Ambos me soam um autor
apenas.
Este é o quarto livro dele, pelas
minhas contas. Gostei de cara da capa, mostra uma névoa azul onde desponta uma
coroa alta boiando num rio escurecido. Enchi-me de mistérios a desvendar. E entrei
no âmago da obra, logo que pude.
O Povo das Águas tem o gosto das
fábulas e o cheiro de aventuras inevitáveis.
Um simples pescador ribeirinho (chamado Cíbar) é abordado por um ente do rio, a Mãe D’água, que o convoca a
participar de uma reunião na Pedra do Meio, no fundo do São Francisco, para tratar
de um grave problema: O rio está à morte. Cíbar sabe muito do drama do rio e,
apenas por isso, aceita a convocação.
Na grande reunião, estão
criaturas lendárias que povoaram os medos de Cíbar, desde a infância de seus
ancestrais: Nego d’água, Zumbi-de-Caboclo, Fogo Corredor, Alma Penada e outros,
além de Cumurupim que emergiu das profundezas para comandar o Conselho.
Clima pesado, sinal vermelho,
alto risco!
O Rio São Francisco precisa ser
salvo, e não cabe demora. Os homens usam, abusam, prometem, conversam e não
cuidam dele. O governo central libera caminhões de dinheiro, que nem saem de Brasília
e, quando saem, somem no caminho. Os entes do Rio precisam de um embaixador, um
humano que possa cuidar de seus interesses junto ao Poder Político dos humanos para que o dinheiro seja aplicado realmente.
Cíbar mal sabe ler, pouco fala, reluta,
mas recebe garantias de apoio, todos os entes estarão cuidando para que a
missão tenha sucesso, questão de vida ou morte. .
O prefeito da cidade tripudia da
loucura do embaixador, o deputado gasta seu tempo arrodeado de puxa sacos rindo
de ditos sem graça e deixa Cíbar gelando na recepção. Quando o recebe nem escuta,
simula outros focos, e manda-o ao ministro. O ministro expulsa Cíbar debaixo de
impropérios, tem mais o que fazer do que ouvir um lunático.
O Conselho das Águas, através de
seus entes, especialmente de Alma Penada, começa a agir coercitivamente. O
prefeito recebe a visita de seu filho querido que falecera anos atrás. O
ministro, à noite, em casa, dormindo, quase estrangula a própria esposa. No dia
seguinte, ao negar receber Cibar que insistia em sua missão de salvar o Rio, teve
a boca entortada, um dos olhos saltado da órbita e outro lacrado.
Mas as autoridades resistem, mesmo
assim. Prometem, mas esquecem, não cumprem. A pressão do Conselho das Águas se
intensifica. E toma uma decisão extrema. Se a revitalização do Rio não vem por
bem, virá por mal.
Iati, rainha poderosa, secou suas lágrimas. O povo ribeirinho viu seu rio seco, viu a vida se acabar, muitos foram embora para outro lugar. O governo mandou prender Cibar, ameaçou-o, achou que ele era o responsável por tamanha desgraça. Mas a situação da região piorou muito mais. Os projetos de irrigação estrangeiros fecharam, a pressão ganhou fóruns mundiais.
Iati, rainha poderosa, secou suas lágrimas. O povo ribeirinho viu seu rio seco, viu a vida se acabar, muitos foram embora para outro lugar. O governo mandou prender Cibar, ameaçou-o, achou que ele era o responsável por tamanha desgraça. Mas a situação da região piorou muito mais. Os projetos de irrigação estrangeiros fecharam, a pressão ganhou fóruns mundiais.
Encurralado, o governo ouviu Cibar e tratou o Rio que se fazia de morto. Executou obras para
o desassoreamento das croas, retirou dejetos humanos de cada pedacinho, desviou
os esgotos para usinas de tratamento, plantou árvores, encheu o deserto de
verde... E as lágrimas de Iati caíram pródigas, cada vez mais.
O povo começou, mesmo
desconfiado, a retornar para suas antigas casas, os pescadores voltaram a
pescar, até a Igreja Católica festejou com uma procissão fluvial de Bom Jesus
dos Navegantes.
O Conselho das Águas comemorou com
grande estilo essa vitória suada. Fogo Corredor fez uma exibição com suas bolas
de fogo. Foi celebrado o casamento da Raposa: chuva e sol apareceram a um só
tempo enquanto o arco-íris firmou-se no céu, de norte a sul, desde a nascente à
foz do São Francisco, agora mais vivo do que nunca.
Xxx
O Povo das Águas é um livro que
encanta, desde o curumim das escolas primárias ao pajé das universidades. Desde
o caboclo de poucas letras ao intelectual cheio de sabedorias. Acho que deveria
ser adotado como leitura obrigatória para todo mundo.
(Aracaju, 09 de dezembro de 2017,
Antônio Saracura)
O que dizer diante dessas palavras? Dizer que você captou com maestria a história e nela se envolveu, escrevendo essa resenha bacana.
ResponderExcluir