terça-feira, 12 de dezembro de 2017

FOGO DE MONTURO E OUTRAS FUMAÇAS, Vladimir Souza Carvalho



FOGO DE MONTURO E OUTRAS FUMAÇAS, Vladimir Souza Carvalho,
Curitiba, Juruá, 2017, 162p isbn 978.85.362.7183.5



Vladimir Souza Carvalho construiu, a partir de situações corriqueiras, com os contos de “Fogo de Monturo e outras Fumaças”, incontáveis mundos, nos quais o leitor envolve-se, compromete-se, lava as mãos, comemora, lamenta, sorri, manga, briga, excita-se...

Em Realidade de quase todos os Dias (Nem precisa ser para avaliar a dor de uma “ponta”): “Ele (corno consciente) se transformara em uma pilha de nervos que explodiria a qualquer instante, a vontade de destruir a máquina de costura (onde passava o dia) com os dentes, se pudesse, de sair correndo em direção ao quintal do velho descarado (Ricardão) para pegar os dois no flagrante”.

Em Depois da Ordem Recebida (Covarde de raiz, eu iria aos braços de Tomelina pecar): “Apontei o revólver para o meu ouvido direito. Fechei os olhos. Para não ouvir mais Dionélia gritando na minha cara, apertei o gatilho”.

Em A Ordem para o Retorno (Ingredientes muito bem dosados): “Entrei na farra, copo cheio e copo vazio, segurando a moça e beijando também, me soltando, como cachorro vira-lata que nunca viu água.... Foi o que fiz”. 

São contos antológicos e vou nomear mais alguns, correndo o risco de apanhar dos demais: Fogo nas Entranhas, (valei-me Santa Filomena, o coitado de Silveirinha exauriu-se e foi pouco ainda); A Moça do Banco da Praça (eu enchi os olhos de lágrimas); Libertação (juntos por um túmulo). Culpa (dividir o patrimônio uma óva!); A Escolhida (uma serpente no quarto do motel)...

Há contos para todo gosto, são 36. Os picantes são fabulosos, e é a maioria. Fazem vibrar a sensualidade, despertam a essência da matéria, aquela que queima por baixo como fogo de monturo, esperando a vez, você acha que nem há, e explode como um vulcão espalhando lavas santas, incendiando a carne. A pimenta picante queima e exala fumaças que enxaguam os olhos... Tentações abençoadas pela igreja da boa literatura.

Vladimir, com um punhado de palavras, quem mandou ler, morde e não solta nem com o ronco do trovão, explica, induz, conduz, analisa junto, alonga ou encolhe como faz a lagarta andarilha, agonia o leitor que precisa de ar, pode até morrer... Parada abrupta! Já era tempo! Cada palavra tem o poder da bala bem disparada, de mudar o mundo.

O livro Fogo de Monturo e Outras Fumaças pratica a escrita essencial, a prosa fácil e escorreita; são histórias inesquecíveis que você recontará aos amigos pela vida toda.

Sinta-se premiado, se encontrar o livro em alguma livraria. Não tente apagar ali. E não se preocupe com o sufoco da fumaceira. Leve o livro para apagar o fogo em casa, devagarinho. A fumaça perfumará sua vida como um incenso celestial produzido por essências exóticas colhidas nas misteriosas escarpas da cordilheira das serras de Itabaiana.

(Antônio Fj Saracura, das Academias Itabaianense e Sergipana de Letras)..



Fogo de Monturo e outras fumaças (notas preliminares)

O filho e o título

Só Deus sabe o trabalho que é construir um título de um livro (que o ajude a ser mais lido); e dar um nome bom a um filho (que o ajude na vida)!
Os meus títulos começam a nascer nas primeiras tentativas, nas primeira linhas. E até a pia de batismo ou as rotativas das gráficas ainda não os tenho concluído. Houve livros e filhos que foram ao mundo assim mesmo, correndo riscos de os nomes os prejudicarem pela vida.
Eu acho que esse livro de Vladimir poderia ser chamado de “Fogo de Monturo e outros fogos”, em vez de “outras fumaças”. A palavra OUTRO refere-se à primeira parte da alocação e fumaça é apenas uma filha, filha do fogo, mesmo sendo em monturo onde há sempre mais fumaça. Reconheço, entretanto que, no caso especifico, qualquer nome o rebento receber, este será um grande homem ou um grande livro, maior do que o pai (missão perene) ou melhor do que os livros que o pai já publicou (missão aparentemente impossível).

A contra capa

A contra capa de um livro, a parte de trás, é quase tão vista como o título, que fica na frente. Depois da cara, é o traseiro da mulher ou do homem o mais examinado. Ê confirme o agrado inicial ou o questiona, possibilita uma avaliação neutra e mais profunda, desperta a cobiça que até então apenas bocejara.
É a contracapa que dá coragem ao tímido de avançar o sinal, desatar os bloqueios, tentar a posse, e mergulhar sufragando perfumes, deliciando sabores, comungando essências.
Uma bunda (contracapa) chocha pode detonar um bom título (ou uma boa cara).
Vladimir Souza Carvalho já produziu obras antológicas, todas além dessas nuvens por onde tráfego. Mas agora ele foi mais alto com “Fogo de Monturo e outras fumaças”.
Recebi privilégio de ler primeiro, e li como faz o médico com suas engenharias de profundidade. Muni minha mente com a arma crítica, a que encontra defeito em tudo, até nas obras do Criador. Usei meus privilégios (não mandei me darem) e arranquei as roupas da mulher sem nem ligar se eram vestes de rainha ou trastes de mendiga. Naveguei em sua carne visitei cada recanto, saboreei cada gota de suor, cada suspiro, cada jato de vida.
Nem percebi, subi alto demais e agora estou tonto, gaguejo, deu um branco e não consigo escrever a contracapa que o autor me pediu.
Depois dos setenta anos eu não vou perder a mulher linda porque embarguei a voz, temi chegar perto. Falo do qualquer jeito vou me arrastando. Deus me ajude que eu possa escrever uma contra capa digna desse "Fogo de Monturo e outras Fumaças", que seduza os leitores.
 sejam homens ou machos ou fêmeas. E que não precise arrumar contra para publicar.
Fogo de Monturo e outras fumaças (primeira contra capa escrita)
Vladimir Souza Carvalho construiu com esse “Fogo de Monturo e outras Fumaças ” incontáveis mundos, nos quais o leitor envolve-se, toma partido, compromete-se, lava as mãos, comemora, lamenta, sorri, manga, excita-se, briga, satisfaz-se. Cada um deles nasceu de um sorriso, uma dúvida, um sonho, uma moça de branco na praça, um acaso, ou de nada quase.
Em Dúvida, cria momentos de sublimação: “...ela a falar, como se estivesse em uma sala de aula, até, num momento de pausa, o silêncio inesperado, as nossas mãos, no sofá, foram se tocando e se encontrando, voluntariamente, sem que nenhum procurasse evitar o contato, e, propositalmente, como se obedecesse a um roteiro pré-estabelecido, foram se entrelaçando e se apertando”.
Em Realidade de quase todos os Dias, nem precisa ser para avaliar a dor de um chifre: “Ele (corno consciente) se transformara em uma pilha de nervos que explodiria a qualquer instante, a vontade de destruir a máquina de costura (onde passava o dia) com os dentes, se pudesse, de sair correndo em direção ao quintal do velho descarado (Ricardão) para pegar os dois no flagrante”.
Em A Ordem para o Retorno, que minha mãe vira a cara: “Entrei na farra, copo cheio e copo vazio, segurando a moça e beijando também, me soltando, como cachorro vira-lata que nunca viu água de fonte e, nela, pela primeira vez, sai nadando com absoluta segurança que para essas coisas a gente não precisa passar por escola nenhuma, porque já traz a farra no sangue, faltando só oportunidade para, no momento certo, exibir suas virtudes e qualidades”
Em Despois da Ordem Recebida, eu, covarde de raiz, iria aos braços de Tomelina pecar: “Apontei o revólver para o meu ouvido direito. Fechei os olhos. Para não ouvir mais Dionélia gritando na minha cara, apertei o gatilho”.
Do que Ficou... Duro e impiedoso. O marido de Rosimira nem merecia um nome nesse belo conto como não teve.
A Intimação da doutora Juíza... Que juíza mais filha da puta! E o salário no final do mês? Um caminhão de dinheiro.
A vingança da Vida Toda... Como é sábia a paciência! Por que matar logo, se pode matar devagarinho? Basta o assassino saber que está matando, mesmo que a vítima não escute, não possa reagir, preso a uma cadeira em cadeira de rodas.

xxx


Situações que me deixaram dúvida na boneca. Seriam erros?
(informadas ao antes de publicar)


(A Profecia) Precisa dizer no começo algo assim “vão roubar o sol” para justificar a escuridão final (principal fato). O conto apresenta na penúltima linha da página 7: “O céu estava limpo, despovoado de qualquer armação de chuva... (achei meio incoerente com a escuridão).
(Acordo com Rubenilza), “violão desnudo à minha disposição...”, “de seu corpo moreno...”, “de tê-la novamente debaixo de mim...”, soa como repetecos desnecessários. “Com a merda a afundar...” é uma imagem torpe, meio fora do contexto. “Um retorno duradouro” poderia ser dito “um retorno” apenas, ou um retorno condicionado.
(Dúvida), “como se tivesse numa sala de aula”, melhor usar usar o verbo estar (estivesse). Linha 23) há um “al” que deve ser “aí”. “Ouvindo os anjos recitarem o poema de Tobias...”, achei uma forçada de barra para homenagem, que não cabe nessas horas. Ao final, seguindo “Me sentei no sofá, onde tudo começou”, vi no chão, um grampo de cabelo, que poderia ser da arrumadeira da véspera, ou não.
(A morte de Eristina) “Não respondia a nenhum chamar”: Seria chamado?
“... a fim de dormir e descansar. Amanhã todos teriam que ir a polícia falar sobre o ocorrido”: que polícia é essa que não cuida logo? Que Anjeiros é esse que vai dormir e descansar quando há urgências a cuidar?
Há alguns pontos fracos no meu modo de ver, que precisam ser ajeitados. Os gritos de Eristina chamariam os vizinhos não daria tempo a Croveiros se limpar, apagar as pistas. O corpo ser encontrado bem depois, seria uma adequado, mas não foi encontrado logo.
(A vingança da vida longa) Primeira linha da página 37: “o dando banho”. Não seria dando-lhe banho. Acho interessante deixar explicitado o motivo (mesmo fútil) do assassinato de Aniceto da Malhada Velha.
(Minha vizinha de apartamento): “Para eu visse...” página 39 linha 16. Não seria para que eu visse? “cucuas” não seria cucuias? Senti redundância em o medo ou receio de se queixar no último parágrafo da página 37 e em outros pontos. “Murmuros” ´é um neologismo ou dialeto da Terra Vermelha?
(O destino de meu melhor conto) – achei que quebrou o padrão, há repetecos, abordagens impróprias (como se estivessem coladas, serve para a letra não fugir mas impede que mudem de posição. De que cabeça partiria então, Vladimir? Já que você duvida. Matando palavras: não seria empastelando? Há mais... Ou não entendi ou merece uma reescrita.
(A verdade do nu dos retratos) “meu regozijo diário não ser efetuado”, não seria afetado?
(A Escolhida) “Despojados de qualquer roupa” . Simplesmente NUS. Na última linha no penúltimo parágrafo: “Pisado”, seria pisada? “Concluiu que a morte..”, não seria a morta? “Não a ter acertado”, não seria não o ter. Achei uma mordida improvável, ninho embaixo do colchão, do outro lado da terra. Eu botaria o ninho embaixo da cama, botaria a mulher de bruços, com o braço caído no lado cego da cama, e, lá na mão, junto ao chão, um brinco que caíra, e a mordida da cobra.
(O final de tudo): “perdiz nenhuma se mexia”, não seria: naquele mato havia perdiz? “ou porque não soubessem ou porque não tivessem”, o sujeito é ninguém, não seriam soubesse e tivesse? Bem feito, bom demais.
(Decepção) “saúda-lo”, não seria saudá-lo? “que impregnava os dois”, não seria impregnavam? O sujeito é afagos. Esses dois impregnar juntos causa certo enjoo.
(Culpa) “alto..” por alto... // Eu terminaria assim; Do televisor ligado no quarto veio uma palavra que o intrigou. Correu ouvir de perto. O noticiarista falava de um crime acontecido numa ruela do Rio de Janeiro e de uma fita gravada por uma câmara espiã da prefeitura.
(Ava Gardner) 4.parágrafo “caladas” por calada. Último parágrafo “puderam mais” por puderam ser mais... // Eu terminaria assim: Uma chave ficou em sua mão, percebeu depois. Viera da mão do pai certamente. Uma chave com o número de uma caixa postal da agência dos Correios de Itabaiana.
(Audiência com o impetrante) quarto parágrafo: “alguma em denegar a segurança...” pouco usado este verbo.
(O encontro da separação), última página e último parágrafo: Depois de alguns minutos de silêncio...” Tanto tempo assim? O que aconteceu com o mundo, parou?
(Os outros) “o mal que julga as pessoas sem conhece-las”. Não entendi.
(O Hóspede), Só se justificava o assassinado se o hóspede tivesse tido antes um quebra-pau com ambos, ameaçando-os de não retornar mais nunca. Não se mata assim a toa. Será?
(O meu rosto velho) penúltimo parágrafo: “morreu há e tantos anos”, MORREU HÁ TANTOS... // “da fazendo à cidade”, seria da fazenda... // “nem sei o que dor...”, seria: nem sei o que é .../// Achei último parágrafo inverossímil, sempre há um espelho no banheiro. Poderia terminar: acordando com a empregada batendo à porta do quarto ou um despertador desesperando tocando na cabeceira da cama. Sei lá.
(A notícia): eu não conheço a palavra “patagualdas”. Na página 83 último parágrafo, infantil. Eu diria: Nem esperei que Farrapeira me aparecer com as fotos. Comprei passagem para o interior.
(libertação) há um “ela” na página 94 quarto parágrafo que eu acho que “ele amara”.
(Meu Conceito de seu Genauro ) “soltar o verbo” é sinônimo de xingar, e está sendo usado como apenas contar.

(A moça do branco da praça) O último parágrafo é óbvio demais, não chega a derrubar o conto que é muito bom, mas dá uma pequena balançada. Melhor sem ele.
(No velório de meu filho) na última página, Na oitava linha, há um Lidimo, quando deveria ser Lidmino. Despois de “no ombro do outro”, precisa dizer que todo mundo chorou, para poder na frase seguinte, excluir os mortos.
(Depois da ordem recebida) na quarta linha há um “viva” que me parecer que seja vivia. Não concordo com o fim, trágico, maltrata. Não perderia Tomelina por dinheiro nenhum e os leitores bateriam palmas para mim. Menos os sádicos.


(Aracaju, setembro de 2017, Antônio Saracura)

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