FOGO
DE MONTURO E OUTRAS FUMAÇAS, Vladimir Souza Carvalho,
Curitiba,
Juruá, 2017, 162p isbn 978.85.362.7183.5
Vladimir Souza Carvalho
construiu, a partir de situações corriqueiras, com os contos de “Fogo de
Monturo e outras Fumaças”, incontáveis mundos, nos quais o leitor envolve-se,
compromete-se, lava as mãos, comemora, lamenta, sorri, manga, briga, excita-se...
Em Realidade de quase todos os Dias (Nem precisa ser para avaliar a
dor de uma “ponta”): “Ele (corno
consciente) se transformara em uma pilha
de nervos que explodiria a qualquer instante, a vontade de destruir a máquina
de costura (onde passava o dia) com
os dentes, se pudesse, de sair correndo em direção ao quintal do velho
descarado (Ricardão) para pegar os
dois no flagrante”.
Em Depois da Ordem Recebida (Covarde de raiz, eu iria aos braços de
Tomelina pecar): “Apontei o revólver para
o meu ouvido direito. Fechei os olhos. Para não ouvir mais Dionélia gritando na
minha cara, apertei o gatilho”.
Em A Ordem para o Retorno (Ingredientes muito bem dosados): “Entrei na farra, copo cheio e copo vazio,
segurando a moça e beijando também, me soltando, como cachorro vira-lata que
nunca viu água.... Foi o que fiz”.
São contos antológicos
e vou nomear mais alguns, correndo o risco de apanhar dos demais: Fogo nas Entranhas, (valei-me Santa
Filomena, o coitado de Silveirinha exauriu-se e foi pouco ainda); A Moça do Banco da Praça (eu enchi os
olhos de lágrimas); Libertação
(juntos por um túmulo). Culpa
(dividir o patrimônio uma óva!); A
Escolhida (uma serpente no quarto do motel)...
Há contos para todo
gosto, são 36. Os picantes são fabulosos, e é a maioria. Fazem vibrar a
sensualidade, despertam a essência da matéria, aquela que queima por baixo como
fogo de monturo, esperando a vez, você acha que nem há, e explode como um
vulcão espalhando lavas santas, incendiando a carne. A pimenta picante queima e
exala fumaças que enxaguam os olhos... Tentações abençoadas pela igreja da boa
literatura.
Vladimir, com um
punhado de palavras, quem mandou ler, morde e não solta nem com o ronco do trovão,
explica, induz, conduz, analisa junto, alonga ou encolhe como faz a lagarta
andarilha, agonia o leitor que precisa de ar, pode até morrer... Parada abrupta!
Já era tempo! Cada palavra tem o poder da bala bem disparada, de mudar o mundo.
O livro Fogo de Monturo e Outras Fumaças pratica
a escrita essencial, a prosa fácil e escorreita; são histórias inesquecíveis
que você recontará aos amigos pela vida toda.
Sinta-se premiado, se encontrar
o livro em alguma livraria. Não tente apagar ali. E não se preocupe com o
sufoco da fumaceira. Leve o livro para apagar o fogo em casa, devagarinho. A
fumaça perfumará sua vida como um incenso celestial produzido por essências
exóticas colhidas nas misteriosas escarpas da cordilheira das serras de Itabaiana.
(Antônio Fj Saracura, das
Academias Itabaianense e Sergipana de Letras)..
Fogo de
Monturo e outras fumaças (notas preliminares)
O filho e
o título
Só Deus
sabe o trabalho que é construir um título de um livro (que o ajude a ser mais
lido); e dar um nome bom a um filho (que o ajude na vida)!
Os meus títulos
começam a nascer nas primeiras tentativas, nas primeira linhas. E até a pia de
batismo ou as rotativas das gráficas ainda não os tenho concluído. Houve livros
e filhos que foram ao mundo assim mesmo, correndo riscos de os nomes os
prejudicarem pela vida.
Eu acho
que esse livro de Vladimir poderia ser chamado de “Fogo de Monturo e outros
fogos”, em vez de “outras fumaças”. A palavra OUTRO refere-se à primeira parte
da alocação e fumaça é apenas uma filha, filha do fogo, mesmo sendo em monturo onde
há sempre mais fumaça. Reconheço, entretanto que, no caso especifico, qualquer
nome o rebento receber, este será um grande homem ou um grande livro, maior do
que o pai (missão perene) ou melhor do que os livros que o pai já publicou (missão
aparentemente impossível).
A contra capa
A contra capa de um
livro, a parte de trás, é quase tão vista como o título, que fica na frente. Depois
da cara, é o traseiro da mulher ou do homem o mais examinado. Ê confirme o
agrado inicial ou o questiona, possibilita uma avaliação neutra e mais
profunda, desperta a cobiça que até então apenas bocejara.
É a contracapa que dá
coragem ao tímido de avançar o sinal, desatar os bloqueios, tentar a posse, e
mergulhar sufragando perfumes, deliciando sabores, comungando essências.
Uma bunda (contracapa)
chocha pode detonar um bom título (ou uma boa cara).
Vladimir
Souza Carvalho já produziu obras antológicas, todas além dessas nuvens por onde
tráfego. Mas agora ele foi mais alto com “Fogo de Monturo e outras fumaças”.
Recebi privilégio de ler
primeiro, e li como faz o médico com suas engenharias de profundidade. Muni
minha mente com a arma crítica, a que encontra defeito em tudo, até nas obras
do Criador. Usei meus privilégios (não mandei me darem) e arranquei as roupas
da mulher sem nem ligar se eram vestes de rainha ou trastes de mendiga.
Naveguei em sua carne visitei cada recanto, saboreei cada gota de suor, cada
suspiro, cada jato de vida.
Nem percebi, subi alto demais e
agora estou tonto, gaguejo, deu um branco e
não consigo escrever a contracapa que o autor me pediu.
Depois
dos setenta anos eu não vou perder a mulher linda porque embarguei a voz, temi
chegar perto. Falo do qualquer jeito vou me arrastando. Deus me ajude que eu
possa escrever uma contra capa digna desse "Fogo de Monturo e outras
Fumaças", que seduza os leitores.
sejam homens ou machos ou fêmeas. E que não
precise arrumar contra para publicar.
Fogo de
Monturo e outras fumaças (primeira contra capa escrita)
Vladimir
Souza Carvalho construiu com esse “Fogo de Monturo e outras Fumaças ”
incontáveis mundos, nos quais o leitor envolve-se, toma partido, compromete-se,
lava as mãos, comemora, lamenta, sorri, manga, excita-se, briga, satisfaz-se.
Cada um deles nasceu de um sorriso, uma dúvida, um sonho, uma moça de branco na
praça, um acaso, ou de nada quase.
Em Dúvida, cria momentos de sublimação:
“...ela a falar, como se estivesse em uma sala de aula, até, num momento de
pausa, o silêncio inesperado, as nossas mãos, no sofá, foram se tocando e se
encontrando, voluntariamente, sem que nenhum procurasse evitar o contato, e,
propositalmente, como se obedecesse a um roteiro pré-estabelecido, foram se
entrelaçando e se apertando”.
Em Realidade de quase todos os Dias, nem
precisa ser para avaliar a dor de um chifre: “Ele (corno consciente) se
transformara em uma pilha de nervos que explodiria a qualquer instante, a
vontade de destruir a máquina de costura (onde passava o dia) com os dentes, se
pudesse, de sair correndo em direção ao quintal do velho descarado (Ricardão)
para pegar os dois no flagrante”.
Em A Ordem para o Retorno, que minha mãe
vira a cara: “Entrei na farra, copo cheio e copo vazio, segurando a moça e
beijando também, me soltando, como cachorro vira-lata que nunca viu água de
fonte e, nela, pela primeira vez, sai nadando com absoluta segurança que para
essas coisas a gente não precisa passar por escola nenhuma, porque já traz a
farra no sangue, faltando só oportunidade para, no momento certo, exibir suas
virtudes e qualidades”
Em Despois da Ordem Recebida, eu, covarde
de raiz, iria aos braços de Tomelina pecar: “Apontei o revólver para o meu
ouvido direito. Fechei os olhos. Para não ouvir mais Dionélia gritando na minha
cara, apertei o gatilho”.
Do que Ficou... Duro e
impiedoso. O marido de Rosimira nem
merecia um nome nesse belo conto como não teve.
A Intimação da doutora Juíza... Que juíza mais filha da puta! E o salário no final do mês? Um
caminhão de dinheiro.
A vingança da Vida Toda...
Como é sábia a paciência! Por que matar logo, se pode matar devagarinho? Basta
o assassino saber que está matando, mesmo que a vítima não escute, não possa
reagir, preso a uma cadeira em cadeira de rodas.
xxx
Situações
que me deixaram dúvida na boneca. Seriam erros?
(informadas
ao antes de publicar)
(A
Profecia) Precisa dizer no começo algo assim “vão roubar o sol” para justificar
a escuridão final (principal fato). O conto apresenta na penúltima linha da
página 7: “O céu estava limpo, despovoado de qualquer armação de chuva...
(achei meio incoerente com a escuridão).
(Acordo
com Rubenilza), “violão desnudo à minha disposição...”, “de seu corpo
moreno...”, “de tê-la novamente debaixo de mim...”, soa como repetecos
desnecessários. “Com a merda a afundar...” é uma imagem torpe, meio fora do
contexto. “Um retorno duradouro” poderia ser dito “um retorno” apenas, ou um
retorno condicionado.
(Dúvida),
“como se tivesse numa sala de aula”, melhor usar usar o verbo estar
(estivesse). Linha 23) há um “al” que deve ser “aí”. “Ouvindo os anjos
recitarem o poema de Tobias...”, achei uma forçada de barra para homenagem, que
não cabe nessas horas. Ao final, seguindo “Me sentei no sofá, onde tudo
começou”, vi no chão, um grampo de cabelo, que poderia ser da arrumadeira da
véspera, ou não.
(A morte
de Eristina) “Não respondia a nenhum chamar”: Seria chamado?
“... a
fim de dormir e descansar. Amanhã todos teriam que ir a polícia falar sobre o
ocorrido”: que polícia é essa que não cuida logo? Que Anjeiros é esse que vai
dormir e descansar quando há urgências a cuidar?
Há alguns
pontos fracos no meu modo de ver, que precisam ser ajeitados. Os gritos de
Eristina chamariam os vizinhos não daria tempo a Croveiros se limpar, apagar as
pistas. O corpo ser encontrado bem depois, seria uma adequado, mas não foi
encontrado logo.
(A
vingança da vida longa) Primeira linha da página 37: “o dando banho”. Não seria
dando-lhe banho. Acho interessante deixar explicitado o motivo (mesmo fútil) do
assassinato de Aniceto da Malhada Velha.
(Minha
vizinha de apartamento): “Para eu visse...” página 39 linha 16. Não seria para
que eu visse? “cucuas” não seria cucuias? Senti redundância em o medo ou receio
de se queixar no último parágrafo da página 37 e em outros pontos. “Murmuros”
´é um neologismo ou dialeto da Terra Vermelha?
(O
destino de meu melhor conto) – achei que quebrou o padrão, há repetecos,
abordagens impróprias (como se estivessem coladas, serve para a letra não fugir
mas impede que mudem de posição. De que cabeça partiria então, Vladimir? Já que
você duvida. Matando palavras: não seria empastelando? Há mais... Ou não
entendi ou merece uma reescrita.
(A
verdade do nu dos retratos) “meu regozijo diário não ser efetuado”, não seria
afetado?
(A
Escolhida) “Despojados de qualquer roupa” . Simplesmente NUS. Na última linha
no penúltimo parágrafo: “Pisado”, seria pisada? “Concluiu que a morte..”, não
seria a morta? “Não a ter acertado”, não seria não o ter. Achei uma mordida
improvável, ninho embaixo do colchão, do outro lado da terra. Eu botaria o
ninho embaixo da cama, botaria a mulher de bruços, com o braço caído no lado
cego da cama, e, lá na mão, junto ao chão, um brinco que caíra, e a mordida da
cobra.
(O final
de tudo): “perdiz nenhuma se mexia”, não seria: naquele mato havia perdiz? “ou
porque não soubessem ou porque não tivessem”, o sujeito é ninguém, não seriam
soubesse e tivesse? Bem feito, bom demais.
(Decepção)
“saúda-lo”, não seria saudá-lo? “que impregnava os dois”, não seria
impregnavam? O sujeito é afagos. Esses dois impregnar juntos causa certo enjoo.
(Culpa)
“alto..” por alto... // Eu terminaria assim; Do televisor ligado no quarto veio
uma palavra que o intrigou. Correu ouvir de perto. O noticiarista falava de um
crime acontecido numa ruela do Rio de Janeiro e de uma fita gravada por uma
câmara espiã da prefeitura.
(Ava
Gardner) 4.parágrafo “caladas” por calada. Último parágrafo “puderam mais” por
puderam ser mais... // Eu terminaria assim: Uma chave ficou em sua mão,
percebeu depois. Viera da mão do pai certamente. Uma chave com o número de uma
caixa postal da agência dos Correios de Itabaiana.
(Audiência
com o impetrante) quarto parágrafo: “alguma em denegar a segurança...” pouco
usado este verbo.
(O
encontro da separação), última página e último parágrafo: Depois de alguns
minutos de silêncio...” Tanto tempo assim? O que aconteceu com o mundo, parou?
(Os
outros) “o mal que julga as pessoas sem conhece-las”. Não entendi.
(O
Hóspede), Só se justificava o assassinado se o hóspede tivesse tido antes um
quebra-pau com ambos, ameaçando-os de não retornar mais nunca. Não se mata
assim a toa. Será?
(O meu
rosto velho) penúltimo parágrafo: “morreu há e tantos anos”, MORREU HÁ
TANTOS... // “da fazendo à cidade”, seria da fazenda... // “nem sei o que
dor...”, seria: nem sei o que é .../// Achei último parágrafo inverossímil, sempre
há um espelho no banheiro. Poderia terminar: acordando com a empregada batendo
à porta do quarto ou um despertador desesperando tocando na cabeceira da cama.
Sei lá.
(A
notícia): eu não conheço a palavra “patagualdas”. Na página 83 último
parágrafo, infantil. Eu diria: Nem esperei que Farrapeira me aparecer com as
fotos. Comprei passagem para o interior.
(libertação)
há um “ela” na página 94 quarto parágrafo que eu acho que “ele amara”.
(Meu
Conceito de seu Genauro ) “soltar o verbo” é sinônimo de xingar, e está sendo
usado como apenas contar.
(A moça
do branco da praça) O último parágrafo é óbvio demais, não chega a derrubar o
conto que é muito bom, mas dá uma pequena balançada. Melhor sem ele.
(No
velório de meu filho) na última página, Na oitava linha, há um Lidimo, quando
deveria ser Lidmino. Despois de “no ombro do outro”, precisa dizer que todo
mundo chorou, para poder na frase seguinte, excluir os mortos.
(Depois
da ordem recebida) na quarta linha há um “viva” que me parecer que seja vivia.
Não concordo com o fim, trágico, maltrata. Não perderia Tomelina por dinheiro
nenhum e os leitores bateriam palmas para mim. Menos os sádicos.
(Aracaju,
setembro de 2017, Antônio Saracura)
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