JARDIM DE ÁRIDA POESIA, Marcos
Antônio Lima, São Paulo, 2016, 120 páginas, Kazuá, esbn 978-85-5565-058-1
Todos os poemas de Jardim de
Árida Poesia eu li gole à gole, verso à verso, sem me engasgar ou entrar em
parafuso. São do tamanho certo de meu em entendimento e de minha respiração.
Só que...
Achei que há palavras raras em excesso,
um proceder comum em poetas. Seria alguma artimanha para impressionar? Penso
que a boa poesia pode ser construída com palavras (e expressões) correntes, porque
ela está no sentido evidente dos termos. Mas há quem ache o contrário: festeje
enigmas, a linguagem morta ou que ainda nem nasceu.
Vi ou (acho que vi) pequenos lapsos
sintáticos, como; sorrir (seria sorri?), no décimo terceiro verso de Mania de Querer,
e mas (seria mais?) três versos após. Afogam (não seria afoga?) no oitavo verso
de Sertão Caipira. Em Poesia Morena, no vigésimo terceiro verso, há um deveres
(não seria deveras?) que não entendi. Em Plenitude há um minha em dois versos (o
sujeito seria ex cunhadas?). Em Para uma Menina de Trança há um mas (seria
mais?). Em Declaração de Amor há olhos verde-mar (não seria verdes-mar?). Em
Trejeitos há uma expressão, no décimo verso, que receberia um hífen no meu
ponto de vista. Em Bandolins, no terceiro verso há um invade (não seria
invadem?). Em Cilene, no último verso, pareceu-me que houve uma troca de
posição entre Celine (o que é?) e Cilene. Em Amor, penúltimo verso, há um
permiti (seria permitir?) e, no último verso, um estar (seria está?). Em soneto
de Espera, no décimo primeiro verso, há marejados (não seria marejado?).
Há outros.
Mas tanto estes como eles não
interferem no valor real dos poemas. Não achei nada árida a poesia de Marcos, até
fértil demais, como se fosse uma roça pródiga onde um pé de milho produz,
incansável, muitas espigas. E nem precisava de tantas ao meu banquete pagão.
Nem de tanto amor, nem de tanta paixão, nem de tanta morena bonita. A metade seria
suficiente. Ou de menos até, pata mim.
Uma boa leitura tem cheiro de
aventura, de novidade fluindo. Acho isso. Se repete-se, cansa. Até beleza
demais enjoa, disse alguém por aí. Por isso, senti certa monotonia na orquestra
que o poeta regeu em Jardim de Árida Poesia: Pela mesma tecla repetida, até
redundante. Uma tecla estonteante, é
verdade: a morena é uma tentação poética que enche a boca d’água.
xxx
Anoto, a seguir, alguns poemas
que me marcaram positivamente: Anjo (página 54), Pirilampos da Solidão (página
62), Balada da Ilha (página 65), O Meu Gostar (Página 83), Favo (página 89),
Soneto à Pernambucana (página 93), no meio de muitos outros. Foram tão
espontâneos que os senti mais profundamente.
Jardim de Árida Poesia foi um dos
poucos livros de poemas que li com prazer do começo ao fim. Os senões apontados
são irrelevantes ante a beleza do conjunto. Como as pessoas boas. Como os
livros que escrevo (espero que sim!).
(Antônio Saracura, 31 de dezembro
de 2017)
Muito obrigado, nobre confrade Saracura. Obrigado pelas preciosas observações, e elogios. Grande e fraternal abraço do confrade: Marcos Antônio Lima.
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