sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A CONSCIÊNCIA DE DAGOBERTO, Tadeu M. Almeida

A CONSCIÊNCIA DE DAGOBERTO, Tadeu M. Almeida, Infogrraphics, 2016, 84p, isbn 978-85-9476-047-0

(Um prefácio que é uma resenha)



Vivo intensamente cada momento de minha vida; conheço pessoas, lugares: faço amigos e me doo a cada um, de peito aberto. Mesmo aqueles feitos em rápidos contatos são amigos eternos. E quando, circunstancialmente, encontro um que há tempo não via, é como se nunca o tivesse deixado para trás. A conversa interrompida no passado continua agora com o mesmo vigor e fluidez da conversa antiga.

Não perco amigos.


Mesmo sem os ver, sem falar com eles, mesmo sem regar a amizade como dizem ser preciso, eles habitam meu mundo virtual. Confidencio-lhes os meus planos, as minhas dúvidas, as incertezas... Comemoramos juntos as vitórias, assim como   amargamos as derrotas, como se vivêssemos na mesma cidade, na mesma rua, na mesma casa.

Tanto é assim que, ao receber, dois anos atrás, um telefonema de Tadeu Almeida, senti-me na Faculdade de Economia, na praça Camerino, em Aracaju, numa aula de Temístocles Gonçalves, Aloisio Campos, Manir Abud, Thetis Nunes ou Alberto Carvalho.  Revivi a insegurança que nos atribulava a poucos dias da festa da formatura. O que seria dos novos doutores? Nenhuma empresa ou repartição, a não ser o Condese inflado de parasitas, queria saber destes inúteis anelados.

Perguntei a Tadeu pela bela Soninha, se estava lá fora, dentro do carro do namorado, aos amassos... Depois não viesse, na hora da prova, pedir cola! Mas ele mudou de assunto, falou de dona Abelarda, de Neide, de Wilma sonsinha, de Zé Carlos Macaco, o Zé do gato...

Eu escutava devaneios dos tempos de faculdade por minha conta e gosto. Pura ilusão.  Tadeu estava em outra. Agora era escritor, ia publicar um livro e, como soube que eu já fizera essa tolice algumas vezes, pedia-me para ensinar-lhe o caminho das pedras, que, a bem da verdade, eu nunca soube.

Contei-lhe minhas fragilidades, dando-lhes feições de fortalezas. Não ia decepcionar o velho amigo. Então, ele embarcou nas minhas águas e publicou “Filosofando o Cotidiano”. O livro fala de bondade, amizade, sabedoria, conhecimento, felicidade e, quem diria, de obesidade. E não é que a obesidade tem muito a ver com filosofia! Quem assegura é o autor, lastreado por Platão, Aristóteles e Gisele Bundchen.

Depois, Tadeu Almeida publicou mais outro livro, e, esta semana, ligou-me:

- Vou publicar o terceiro livro... Você pode escrever o prefácio?

Esfriei por dentro. Sou contra prefácios, nenhum livro que publiquei os tem; adiam o gosto, atrapalham mais do que auxiliam. Nunca li um prefácio em livro algum.E tenho me negado a escrever prefácios, aos montes. Há escritor com raiva de mim, achando-me metido a besta.
Mas Tadeu foi um bom companheiro nos quatro anos na faculdade de Economia. Como os demais vinte e cinco que se formaram comigo em 1971. Amigos do peito, mesmo que muitos deles nem mais se lembrem de mim.
Por um triz, Tadeu lembrou-se.
Todos são meus tesouros guardados que não quero gastar jamais. 

Disse que faria e fui ao encontro marcado, no café da Escariz Riomar. Tadeu passou-me o original da obra em gestação.

xxx

E agora estou com o livro bem à minha frente. Já corri os olhos, já li partes, mas não sei como começar o prefácio. Por isso os enrolei (a vocês mesmo, distraídos leitores) com essa conversa embromatória ai de cima.

Sei que não vou escapar, eu prometi, dei minha palavra. Meus anjos me matarão, os valores cultivados com fervor a vida inteira me expulsarão de mim mesmo. E eu não serei mais nada, além de ridículo arremedo.

Minha consciência me acossa, encantoa-me, cozinha meu juízo, questiona-me. 

Essa é o drama que Tadeu Almeida disseca, através de Dagoberto, em debates com a consciência, mergulhado neste vale de lágrimas em que vivemos.

O que pretendo realizar é certo? A mudança de valores devido ao contexto, devido às circunstâncias. As permissividades. As flexibilizações. Também a intransigência e a intolerância.  O errado que se veste de certo, e o contrário também. 

São sete grandes embates de princípios, dissecando cada um desses temas:     
O    Poder (Político, Econômico, Social e Militar).
2)      Ódio, vingança e perdão.
3)      Expectativa, orgulho e esperança.
4)      Ambição, competência e bajulação.
5)      Injustiça, ingratidão e impotência.
6)      Usura, ganância e desprendimento
7)      Medo, coragem e covardia.

Dagoberto se vê doido com sua consciência...

Quem mandou tê-la deixado se criar?

Um debate igual ao travado a cada momento na vida real. Sem trégua. Exaltação, negociação, estratégia, avanços, recuos... Muita filosofia e sabedoria circulam nas páginas vivas do novo livro de Tadeu Almeida: A Consciência de Dagoberto.

(Aracaju, 08/08/2016, Antônio FJ Saracura)

(Post scriptum): Eu lhe avisei que não presto para escrever prefácios, pode jogar fora. O livro é seu e a decisão também. Que importância tem se eu ficar magoado?
 

  

Um comentário: