A CONSCIÊNCIA DE DAGOBERTO, Tadeu
M. Almeida, Infogrraphics, 2016, 84p, isbn 978-85-9476-047-0
(Um prefácio que é uma resenha)
Vivo intensamente cada momento de
minha vida; conheço pessoas, lugares: faço amigos e me doo a cada um, de peito
aberto. Mesmo aqueles feitos em rápidos contatos são amigos eternos. E quando,
circunstancialmente, encontro um que há tempo não via, é como se nunca o
tivesse deixado para trás. A conversa interrompida no passado continua agora
com o mesmo vigor e fluidez da conversa antiga.
Não perco amigos.
Mesmo sem os ver, sem falar com
eles, mesmo sem regar a amizade como dizem ser preciso, eles habitam meu mundo virtual.
Confidencio-lhes os meus planos, as minhas dúvidas, as incertezas...
Comemoramos juntos as vitórias, assim como
amargamos as derrotas, como se vivêssemos na mesma cidade, na mesma rua,
na mesma casa.
Tanto é assim que, ao receber,
dois anos atrás, um telefonema de Tadeu Almeida, senti-me na Faculdade de
Economia, na praça Camerino, em Aracaju, numa aula de Temístocles Gonçalves,
Aloisio Campos, Manir Abud, Thetis Nunes ou Alberto Carvalho. Revivi a insegurança que nos atribulava a
poucos dias da festa da formatura. O que seria dos novos doutores? Nenhuma
empresa ou repartição, a não ser o Condese inflado de parasitas, queria saber
destes inúteis anelados.
Perguntei a Tadeu pela bela
Soninha, se estava lá fora, dentro do carro do namorado, aos amassos... Depois
não viesse, na hora da prova, pedir cola! Mas ele mudou de assunto,
falou de dona Abelarda, de Neide, de Wilma sonsinha, de Zé Carlos Macaco, o Zé
do gato...
Eu escutava devaneios dos tempos
de faculdade por minha conta e gosto. Pura ilusão. Tadeu estava em outra. Agora era escritor, ia
publicar um livro e, como soube que eu já fizera essa tolice algumas vezes,
pedia-me para ensinar-lhe o caminho das pedras, que, a bem da verdade, eu nunca
soube.
Contei-lhe minhas fragilidades,
dando-lhes feições de fortalezas. Não ia decepcionar o velho amigo. Então, ele
embarcou nas minhas águas e publicou “Filosofando o Cotidiano”. O livro fala de
bondade, amizade, sabedoria, conhecimento, felicidade e, quem diria, de obesidade.
E não é que a obesidade tem muito a ver com filosofia! Quem assegura é o autor,
lastreado por Platão, Aristóteles e Gisele Bundchen.
Depois, Tadeu Almeida publicou
mais outro livro, e, esta semana, ligou-me:
- Vou publicar o terceiro
livro... Você pode escrever o prefácio?
Esfriei por dentro. Sou contra
prefácios, nenhum livro que publiquei os tem; adiam o gosto, atrapalham mais do
que auxiliam. Nunca li um prefácio em livro algum.E tenho me negado a escrever
prefácios, aos montes. Há escritor com raiva de mim, achando-me metido a
besta.
Mas Tadeu foi um bom companheiro
nos quatro anos na faculdade de Economia. Como os demais vinte e cinco que se
formaram comigo em 1971. Amigos do peito, mesmo que muitos deles nem mais se
lembrem de mim.
Por um triz, Tadeu lembrou-se.
Todos são meus tesouros guardados que não quero gastar jamais.
Por um triz, Tadeu lembrou-se.
Todos são meus tesouros guardados que não quero gastar jamais.
Disse que faria e fui ao encontro
marcado, no café da Escariz Riomar. Tadeu passou-me o original da obra em
gestação.
xxx
E agora estou com o livro bem à
minha frente. Já corri os olhos, já li partes, mas não sei como começar o
prefácio. Por isso os enrolei (a vocês mesmo, distraídos leitores) com essa
conversa embromatória ai de cima.
Sei que não vou escapar, eu
prometi, dei minha palavra. Meus anjos me matarão, os valores cultivados com
fervor a vida inteira me expulsarão de mim mesmo. E eu não serei mais nada,
além de ridículo arremedo.
Minha consciência me acossa, encantoa-me,
cozinha meu juízo, questiona-me.
Essa é o drama que Tadeu Almeida
disseca, através de Dagoberto, em debates com a consciência, mergulhado neste
vale de lágrimas em que vivemos.
O que pretendo realizar é certo?
A mudança de valores devido ao contexto, devido às circunstâncias. As
permissividades. As flexibilizações. Também a intransigência e a intolerância. O errado que se veste de certo, e o contrário
também.
São sete grandes embates de
princípios, dissecando cada um desses temas:
O Poder (Político, Econômico, Social e Militar).
2) Ódio,
vingança e perdão.
3) Expectativa,
orgulho e esperança.
4) Ambição,
competência e bajulação.
5) Injustiça,
ingratidão e impotência.
6) Usura,
ganância e desprendimento
7) Medo,
coragem e covardia.
Dagoberto se vê doido com sua
consciência...
Quem mandou tê-la deixado se criar?
Um debate igual ao travado a cada
momento na vida real. Sem trégua. Exaltação, negociação, estratégia, avanços,
recuos... Muita filosofia e sabedoria circulam nas páginas vivas do novo livro
de Tadeu Almeida: A Consciência de Dagoberto.
(Aracaju, 08/08/2016, Antônio FJ
Saracura)
(Post scriptum): Eu lhe avisei que não presto para
escrever prefácios, pode jogar fora. O livro é seu e a decisão também. Que
importância tem se eu ficar magoado?
Li na ASL em 2020
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