quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

LIVROS QUE CURAM, Cleber Marques de Oliveira

LIVROS QUE CURAM, Cleber Marques de Oliveira, Clube dos Autores, 2017, romance,185 páginas, isbn 978-85-5697-218-7




Encontrei Cleber há cinco dias. Ele me telefonou para um encontro na Escariz do Jardins. Disse-me que levaria a mãe. Queriam conversar sobre o livro Meninos que Não Queriam ser Padres, que leram (ambos) e gostaram muito. Informou-me que comprara o livro num desses finais de tarde quando marco plantão nas livrarias e abordo as pessoas que entram e que me parecem acessíveis (ou não, algumas vezes). Abordo e falo de literatura sergipana, chamo a atenção para a gôndola onde nossos livros estão expostos, e, especialmente, para minha literatura. É o programa que chamo O Escritor na Libraria, já tem mais de quatro anos, vem desde a II Bienal do livro de Itabaiana. Cleber acreditou em minha pregação e levou para casa um de meus livros. E agora dava retorno, que retorno? Leu o livro, gostou e passou para a mãe, que gostou também.


Conversa vai e conversa vem, fiquei sabendo que Cleber é também escritor. Publica livros em uma editora online que se chama: Clube do Autor.


Antes de se ir com mãe e mais um livro meu, Os Tabaréus do Sírio Saracura (espero que faça o mesmo sucesso, se não maior), ele me deu um presente: o livro de sua autoria: Livros que Curam. Em papel. A editora vende avulsas. Olho agradecido para Cleber e digo-lhe que estou abarrotado de livros, uma fila que não vejo o final e que, provavelmente, demorarei um pouco a tecer as considerações que me pede. Que indelicadeza de minha parte!


Em casa, começo a folhear o livro e sinto que ele tem algo que me segura, uma força de atração. Leio o primeiro capítulo, o segundo.... E não paro mais. Leio o livro em dois dias, nos intervalos de meus afazeres comerciais, de duas viagens:  à Japoatã para a instalação da Academia de letras de lá e à Monte Alegre para lançamentos e livros.

Gostei de "Livros que Curam". Leitura agradável, história cristalina, até singela, útil. Prende o leitor, emociona. Tive que enxugar lágrimas aqui e acolá.

Um garoto apaixonado por livros e que trabalha em uma livraria aqui em Aracaju, ali pertinho da Catedral, na rua Santa Luzia, nos fundos da Cúria, Fernando (ou Nando) é um aprendiz de livreiro. Está vivendo seu sonho junto aos melhores amigos, os livros. Há um colega de trabalho, Gilberto (Beto), confidente. Há os patrões, seu Francisco e duas filhas. A mais nova, Juliana, o atrai e desperta-lhe amor. Há a outra, Marisa, má, como nos contos de fada. Há sua mãe (Iraê, descendente dos xocós), sacrificada e dedicada e há o grupo familiar em torno, amigos solidários. Há também o motoboy e parceiro desde a infância (Tia), que segue outro rumo na vida e tenta tirar Nando da ilusão intelectual. Ia esquecendo do senhor Ladislau, o senhorio que dá a Fernando o amor que não pode ter do pai falecido antes de seu nascimento. Seu Ladislau traz momentos nobres ao livro, pela solidariedade, pela instinto família que irradia, pelos afazeres triviais aos quais se dedica com zelo e pelo mistério que revela a Nando de sonhos, similares quando fora um rapazinho como ele. Nada é eterno!

Os dramas se sucedem, avc do patrão, a mãe tem um infarto, as livrarias teimam e resistir mas as duas do shopping já fecharam, Juliana recebe um telefonema estranho e perde a graça (era um namorado que desagrada demais ao pai que não virá mais a Aracaju como estava previsto). Parece que o autor abriu uma brecha para Nando, só parece! vai

Dificuldades, barreiras, busca de caminhos, vitórias, derrotas.

Como em todo livro (ou quase todos), o leitor crítico sempre acha senões. Então direi alguns, com o intuito apenas de expurgar grilos enjoados de minha cabeça limitada.  O autor que me perdoe, pelo amor de Deus. Fica à seu critério decidir o que fazer com eles. Eu, por mim, os enterraria numa cova rasa.     
Encontrei um bom personagem que o autor poderia usá-lo melhor: aquele padre da escadaria da Catedral que entra, promete e não prossegue. Talvez outro romance (projetando) tome conta dele, pois marcou bem, como Hitchcock nos filmes que dirige e reserva uma ponta para si. Há também o evento pouco explicado até para os personagens: a festa na livraria (que seria na segunda e foi trazida para o sábado) quando seu Francisco precisava mesmo era de repouso, no meu modo de ver. E a festa foi pra quê mesmo, se o homem ainda nem estava cem por cento recuperado? Seu Francisco pareceu-me forçado a ir, como se uma marionete na mão da filha mais velha, que é um demônio (mas não chegou a ser, apenas mostrou o tridente). E também a sebista do Corujão (Lourdes) da rua Lagarto que vai à festa como penetra e sai dela sem cumprir missão nenhuma. Era melhor nem ter ido. Senhor Ladislau poderia muito bem ser amante da literatura (como fora em rapaz) e conciliar com qualquer função que teve na vida. Não ficou claro, pelo menos para mim (reconheço que li rápido demais e intervalos de viagens) o motivo de ter sepultado sua paixão antiga e compartilhável.

O autor disse-me que escreve seus livros muito rápido, este nem lhe tomou um mês.  Lembrei-me do Menino de Pijama Listado, que o autor, John Boyne, revela tê-lo escrito em seis semanas, se não me falha a memória. Como pode? Eu gasto seis meses só nos acabamentos finais. Mesmo assim, meus livros saem eivados de lapsos. Arrisco sugerir a Cleber que gaste mais um tempinho com o próximo livro (ele possui outros publicados que não li) para não deixar pontos mais ou menos soltos, que incomodam muito mais o próprio autor. Digo por mim.

Um novo livro, em continuação a este “Livros que Curam”, poderia explorar esses pontos que considerei lapsos, mas podem ser ganchos armados para segurar o leitor pelo futuro. Eu quero ler, se um dia houver.


(Aracaju, 27/11/2017, Antônio Saracura) 

XXX

E agora mesmo, Cleber, rápido como o raio, pois acabei de publicar a resenha acima, manda-me uma resposta às minhas considerações. Gostei e compartilho-a (a seguir, também está em 'comentários') com o leitor que me honra com a visita:

22/12/2017 08:55:25: Cleber Marques De Oliveira: Meu querido amigo Saracura. Fiquei muito orgulhoso e agradecido pelo trabalho que tivestes em ler este meu primeiro romance. Gostaria de explicar os pontos que achou nebulosos na história:

1) aquele padre da escadaria da Catedral que entra, promete e não prossegue. Talvez outro romance (projetando) tome conta dele, pois marcou bem.

Resp: De fato, o padre reaparece num momento importante para a vida de Fernando no segundo romance, já publicado, Livros pelo caminho.

2) Há também o evento pouco explicado até para os personagens: a festa na livraria (que seria na segunda e foi trazida para o sábado) quando seu Francisco precisava mesmo era de repouso, no meu modo de ver. E a festa foi pra quê mesmo, se o homem ainda nem estava cem por cento recuperado? Seu Francisco pareceu-me forçado a ir, como se uma marionete na mão da filha mais velha, que é um demônio (mas não chegou a ser, apenas mostrou o tridente).

Resp: Como o senhor havia dito. A leitura foi feita muito rápida, talvez passou despercebido. Porém, explico. Ficou implícito a mudança do dia da festa por causa das intrigas entre as irmãs, que fez o pai antecipá-la. Talvez porque o namorado da filha mais nova deu cano em sua ida para Aracaju e na discussão que houve no escritório da livraria deixou evidente que ela queria que a festa ocorresse apenas depois de seu retorno a Salvador. O pai, Sr. Francisco, já havia descansado uma semana em Salvador e estava com desejoso dessa festa.

3) a sebista do Corujão (Lourdes) da rua Lagarto que vai à festa como penetra e sai dela sem cumprir missão nenhuma. Era melhor nem ter ido.

Resp: Dona Lourdes cumpriu de fato sua missão que era reconciliar a amizade de décadas com Sr. Francisco. O ponto mágico foi a entrega do livro raro que tanto ele desejava.

4) Senhor Ladislau poderia muito bem ser amante da literatura (como fora em rapaz) e conciliar com qualquer função que teve na vida. Não ficou claro, pelo menos para mim (reconheço que li rápido demais e intervalos de viagens) o motivo de ter sepultado sua paixão antiga e compartilhável.

Resp: Talvez retome na terceira história, que já estou escrevendo. O problema foi que ele ficou traumatizado pela morte do grande amigo.

5) O autor disse-me que escreve seus livros muito rápido, este nem lhe tomou um mês. Lembrei-me do Menino de Pijama Listado, que o autor, John Boyne, revela tê-lo escrito em seis semanas, se não me falha a memória. Como pode? Eu gasto seis meses só nos acabamentos finais. Mesmo assim, meus livros saem eivados de lapsos. Arrisco sugerir a Cleber que gaste mais um tempinho com o próximo livro (ele possui outros publicados que não li) para não deixar pontos mais ou menos soltos, que incomodam muito mais o próprio autor. Digo por mim.

Resp: Fiz o primeiro romance em exatos 12 dias. Já o segundo, que é continuação da história, demorei 30 dias. O terceiro já está beirando dois meses e ainda não concluí. Talvez minha ansiedade exagerada não me permita passar tanto tempo.

6) Um novo livro, em continuação a este “Livros que Curam”, poderia explorar esses pontos que considerei lapsos, mas podem ser ganchos armados para segurar o leitor pelo futuro. Eu quero ler, se um dia houver.

Resp: De fato, a ideia é essa. Segurar o leitor para outros que virão.

Novamente, agradeço imensamente ao senhor pela paciência em ter lido a história de um aprendiz de livreiro elaborado por um aprendiz de escritor. Um forte abraço!!!!

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