domingo, 31 de dezembro de 2017

JARDIM DE ÁRIDA POESIA, Marcos Antônio Lima

JARDIM DE ÁRIDA POESIA, Marcos Antônio Lima, São Paulo, 2016, 120 páginas, Kazuá, esbn 978-85-5565-058-1


Todos os poemas de Jardim de Árida Poesia eu li gole à gole, verso à verso, sem me engasgar ou entrar em parafuso. São do tamanho certo de meu em entendimento e de minha respiração.

Só que...

Achei que há palavras raras em excesso, um proceder comum em poetas. Seria alguma artimanha para impressionar? Penso que a boa poesia pode ser construída com palavras (e expressões) correntes, porque ela está no sentido evidente dos termos. Mas há quem ache o contrário: festeje enigmas, a linguagem morta ou que ainda nem nasceu.

Vi ou (acho que vi) pequenos lapsos sintáticos, como; sorrir (seria sorri?), no décimo terceiro verso de Mania de Querer, e mas (seria mais?) três versos após. Afogam (não seria afoga?) no oitavo verso de Sertão Caipira. Em Poesia Morena, no vigésimo terceiro verso, há um deveres (não seria deveras?) que não entendi. Em Plenitude há um minha em dois versos (o sujeito seria ex cunhadas?). Em Para uma Menina de Trança há um mas (seria mais?). Em Declaração de Amor há olhos verde-mar (não seria verdes-mar?). Em Trejeitos há uma expressão, no décimo verso, que receberia um hífen no meu ponto de vista. Em Bandolins, no terceiro verso há um invade (não seria invadem?). Em Cilene, no último verso, pareceu-me que houve uma troca de posição entre Celine (o que é?) e Cilene. Em Amor, penúltimo verso, há um permiti (seria permitir?) e, no último verso, um estar (seria está?). Em soneto de Espera, no décimo primeiro verso, há marejados (não seria marejado?).

Há outros.

Mas tanto estes como eles não interferem no valor real dos poemas. Não achei nada árida a poesia de Marcos, até fértil demais, como se fosse uma roça pródiga onde um pé de milho produz, incansável, muitas espigas. E nem precisava de tantas ao meu banquete pagão. Nem de tanto amor, nem de tanta paixão, nem de tanta morena bonita. A metade seria suficiente. Ou de menos até, pata mim.

Uma boa leitura tem cheiro de aventura, de novidade fluindo. Acho isso. Se repete-se, cansa. Até beleza demais enjoa, disse alguém por aí. Por isso, senti certa monotonia na orquestra que o poeta regeu em Jardim de Árida Poesia: Pela mesma tecla repetida, até redundante.  Uma tecla estonteante, é verdade: a morena é uma tentação poética que enche a boca d’água. 

xxx

Anoto, a seguir, alguns poemas que me marcaram positivamente: Anjo (página 54), Pirilampos da Solidão (página 62), Balada da Ilha (página 65), O Meu Gostar (Página 83), Favo (página 89), Soneto à Pernambucana (página 93), no meio de muitos outros. Foram tão espontâneos que os senti mais profundamente.

Jardim de Árida Poesia foi um dos poucos livros de poemas que li com prazer do começo ao fim. Os senões apontados são irrelevantes ante a beleza do conjunto. Como as pessoas boas. Como os livros que escrevo (espero que sim!).  


(Antônio Saracura, 31 de dezembro de 2017) 

2 comentários:

  1. Muito obrigado, nobre confrade Saracura. Obrigado pelas preciosas observações, e elogios. Grande e fraternal abraço do confrade: Marcos Antônio Lima.

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