CAUSOS E VISAGENS E ASSOMBRAÇÕES DO
INTERIOR SERGIPANO, Agenor Aguiar,Artner,
2019,104 p.Isbn 9788569567 394
“Muitos romances poderiam ser escritos em três,
quatro páginas” falou Graciliano Ramos uma vez, nem sei onde. De que vale um
catatau enorme que não diga nada ou que diga coisas inúteis? Uma biblioteca
inteira de livros de ruins não chega a valer o tanto de um único livro bom, ou
melhor, de uma única frase que tenha sentido, beleza e utilidade.
Antenor Aguiar é um contador de histórias esmerado.
Pertence a um grupo que encanta crianças e adultos com sua arte. Apenas a
entonação de sua voz arrepia, assusta, conquista, emociona.
¨Viagens e Assombrações... são deliciosas
histórias, bem escritas e que qualquer um (até eu) pode contar para os netos. E
o melhor de tudo é que, boa parte, são histórias nossas, que Antenor ouviu aqui
resolveu recontar literariamente. São treze casos que ensinam a viver, alertam
sobre riscos que sempre há por conta da inveja, despeita, ruindade e outros
defeitos de caráter de pessoas que estão à nossa volta. Fique alerta.
Sempre o embate entre o mal e o Bem. E o Bem, via
de regra, vence, ao final, depois que o Bem sofre o diabo.
Eis os casos...
Meninos com Coroas no cabelo. (O Rei e três moças
bonitas que queriam casar com ele. Uma boa e duas más. Como a boa sofre!)
O Diabo e a morte (O casal feliz e pobre sofre na
mão do vizinho rico sem princípios que fez pacto com o diabo).
A Caveira de Fogo (O menino endiabrado – há muitos
– que criava um bode preto chifrudo e se divertia assustando as pessoas
simples. Espírito de porco. Pagou caro).
Bastião, o defunto e o cemitério (O menino Bastião
topou o desafio de invadir o cemitério mal assombrado à noite para ganhar um
dinheirinho. Eu não iria. Mas Bastião se deu bem. Ganhou um dinheirão).
A Mula sem cabeça e as almas penadas (Manoel dormiu
na missa e ao acordar encontrou a Mula sem Cabeça que encantava pessoas).
Iara (foi castigada por ter matado os irmãos e,
agora, fica, nas noites, dentro do rio, atraindo rapazes para seu leito de
prazer. Eu desconfio. Mas os amigos de Gilberto entraram numa boa fria com um
time inteiro de belas Iaras).
A Canela do Esqueleto (caso acontecido de verdade.
Aline e suas colegas ficam sós no sítio cuidadas pelo cachorro, apelidado Lobo.
À noite (sempre à noite) Lobo rosnou na direção da escuridão lá de fora que
saiu enfrentar o perigo desconhecido. Aline foi atrás e retornou bem depois com
um osso de canela na mão. Eu não vou contar o final).
Meia-noite (leia por favor).
O Lobisomem;
Sinhozinho e o ouro;
Dionísio, a casa mal assombrada e a botija (Você já
ganhou alguma botija na vida?)
O Saci Pererê e os caçadores.
A princesa Roubadeira.
Eu não iria mesmo contar todas. Perderia a
graça e o gosto para você que certamente vai comprar livro.
Dou valor a quem escreve sobre nossas coisas. Pode
até me fazer medo. É que os outros lugares já tem seus escritores dedicados.
Que os livros de Antenor (ele publicou dois outros) despertem nossos
intelectuais a publicarem livros simples que fazem tanto bem aos leitores
simples como eu. Porque não damos conta de ler livros complexos. Por falta de
tempo, de preparo, porque são um saco mesmo.
(Antônio FJ Saracura, dezembro, 2019).
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