IBIRADIÔ, Gizelda Morais,Scortecci
(2005, 3. Edição),Isbn: 9-788573-728736
Até centros meios é um livro lento,
pesado. Estive a ponto de largá-lo como já fiz com outros de autores badalados.
O português camoniano da história verdadeira (em caracteres normais),
invertendo aqui e acolá a ordem normal das frases (como se quisesse rimar
decassílabos) não conseguiu me convencer da antiguidade dos acontecidos.
Bastava ter dito (como o foi em
algum lugar) que os fatos descritos aconteceram por volta de 1590.
Mas, depois, peguei a embalagem e,
agora depois de lido inteiro, considero este “Ibiradiô” um livro indispensável e
o recomendo a todo leitor, especialmente, a todo sergipano. Não para se glorificar,
mas para se entristecer com a nossa história. Que carnificina, meu Deus! Que valentia
suicida de nossos índios? Que sanha assassina dos nojentos portugueses? Pena
que não nos coube sequer o direito de tentar impedir, ou lutar e morrer junto
como guerreiro de Serigy. Aconteceu muito antes de nascermos.
O que os portugueses fizeram com
a dizimação indiscriminada das nossas populações indígenas? Talvez tenham
conseguido este Brasil que temos hoje. Por mais que nos esforcemos, por mais
que trabalhemos, por mais que o homem simples (indígenas?) se matem em busca do
sucesso... um bando de nobres corruptos desmancham, agindo exatamente como seus
ancestrais Dias Moreya, Dias de Ávila, Fonseca, Muniz Barreto, Lopes Ulhoa,
Fernandes, Gomes, Costa Silveira, Abreu (como cita a autora na página 186).
Poderemos nos orgulhar de nossos ancestrais?
O grupinho de pseudo intelectuais
fúteis querendo montar um filme (em itálico) não agregou mais do que monotonia
ao romance. Seria melhor que fossem eliminados em outra edição. De que adianta
para o leitor (no caso eu) o esforço que Cristóvão fará para concluir o drama o
mais rápido possível. E também a assertiva de Gaspar: “Deus de ouça”!
Inutilidades.
Mesmo o último diálogo (final do
livro) deixa um clima de samba do crioulo doido. Como pode uma história tão
densa e séria terminar com um bate papo insensato, demonstrando que tudo não
passou de uma tremenda gozação, quando descendentes da elite portuguesa decadente
dão um cano homérico na dona da pousada nativa, crédula como seus ancestrais
índios.
xxx
Olhando o Brasil atual, a
miscelânea de raças, vemos que o africano predomina. Pelo menos, nas regiões
pioneiras. Foi escravizado mas resistiu e a cada dia assume seu papel
na constituição da nação brasileira. Os índios são poucos (como diz Gizelda
pela boca de seus cineastas trapalhões), quase não se vê a marca da raça índia
nos sergipanos. Foram foram dizimados pelo gosto assassino dos portugueses que
nos colonizaram.
Sobre as grandes questões atuais
que se discute no Brasil há uma que agora me parece justíssima: as cotas garantidas
para negros e índios nas universidades.
O Brasil branco está se redimindo
um pouquinho o grande mal feito a esta parte da nossa nação, negros e índios. É
um pedido de desculpas feito pela raça tirana aos massacrados.
Outro dia (dia 17/09/2012) na Roda
de Leitura da Epifânio Dórea, tive a honra de, finalmente, encontrar e
conversar com Gizelda Moraes. Dei-lhe meus três livros e ele me deu dois dos
seus (Absolvo e Condeno e A Procura de Jane, que lerei logo que tenha tempo). Disse-lhe
que havia acabado de ler Ibiradiô e que achei cansativo e fútil o romance paralelo
(dos cineastas organizando um filme sobre o massacre dos índios de Sergipe).
Fui politicamente incorreto. Ela apenas sorriu.
(Antônio Francisco de Jesus,
Aracaju 01 de outubro de 2012, revista em novembro de 2020).
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