terça-feira, 17 de novembro de 2020

FERNANDO PESSOA UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA

 

FERNANDO PESSOA UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA, José Paulo Cavalcante Filho, Record, edição 5, 735p, Isbn – 978-85-01-09063-8



O livro é uma maçaroca. Mais de 700 páginas. Letras miúdas (mas nem tanto), poucos parágrafos, poucas figuras, cansativas citações. Mesmo assim, eu consegui ir até a última linha, sem pular nada, sem fazer de conta que lia. E olhe que há detalhes aparentemente insípidos e inúteis para o leitor comum, como eu sou. Informações inúteis como se tivessem sido compiladas apenas porque o autor já as tinha coletado. Por que iria agora deixar de fora?

Chego à conclusão que Fernando Pessoa foi um poeta bêbado o tempo todo. Produzindo poesia sob o efeito da droga. Uma poesia extremamente simples (apesar de erudita), dizendo coisas triviais, mas de grande conteúdo, saídas de sua alma que funcionava sem bloqueio nenhum devido ao álcool.

E seus poemas pegaram os intelectuais de surpresa. Estavam acostumados a ler versos pesados, rimados, metrificados, com palavras muitas vezes colocadas para encher o compartimento da estrofe. E aí aparece um poeta leve, às vezes com rima, mas nem sempre. Às vezes com métrica, mas nem sempre. E dizendo coisas que sempre estiveram à mão de todos, mas ninguém as pegou, pensando sempre em buscar mais no alto a matéria de seus poemas.

E virou lenda.

E porque virou lenda, qualquer linha escrita por ele e por um de seus muitos heterônimos é tomada como poesia de primeira, mesmo que nem seja.

Li o livro depois de Euclides Oliveira que me emprestou e apenas para compor este texto preliminar passarei a citar as frases sublinhadas na leitura dele e na minha que agora, depois dois dias de terminar a leitura, ainda fazem sentido para mim.

(Página 32) - Carlota Joaquina chegou em 1808. Quando retornou em 25 de abril de 1921 com nove filhos (dos quais apenas cinco legítimos) bateu um sapato no outro e exclamou: nem nos sapatos quero como lembrança a terra do maldito Brasil.

(Página 180 – Pessoa que sempre sonhou com o prêmio (Nobel) nem isso mereceu.

(Página 201) – Odeio a página mal escrita, a sintaxe errada... a ortografia sem ipsilone (?), como o escarro direto que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a ortografia também é gente!

(Página 211) – O poeta superior diz o que efetivamente sente. O poeta médio diz o que julga que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. E nada disse tem a ver com sinceridade. Em primeiro lugar ninguém sabe o que verdadeiramente sente... (e continua divagando).

(Página 233) – A obra pseudônima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor fora da sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres e qualquer personagem.

(Página 234) Pessoa falando sobre ele e seus heterônimos: Ponto de reunião de uma pequena humanidade só dele”.

(Página 459) – Ser poeta ou escritor não constitui profissão, mas vocação. Na verdade ser poeta não é ambição minha, é minha maneira e estar sozinho.

(Página 496) – A respeito de Teixeira Pascoaes, poeta então consagrado (falecido em 1952) e diretor literário da revista “Águia” (que circulava à época em Lisboa), Júlio Brandão (simbolista de renome, falecido em 1947) considera o poeta Teixeira “uma bexiga de porco a rebentar de vaidades”, enquanto, Fernando Pessoa (badalado com todos os badalos, falecido em 1935), tem-no como “o maior poeta lírico da Europa atual”.

(Página 659) – Um pequeno gênio ganha fama, um gênio maior ganha despeito, um deus ganha a crucificação. Citação de John Ferguson Nisbet, em A irmandade do Gênio.

(Página 65) último verso “Amanhã a estas horas, onde estarei?”

(Aracaju, 05 de junho de 2012, Antônio FJ Saracura)

 

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