FERNANDO PESSOA UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA, José Paulo Cavalcante Filho, Record, edição 5, 735p, Isbn –
978-85-01-09063-8
O livro é uma maçaroca. Mais de
700 páginas. Letras miúdas (mas nem tanto), poucos parágrafos, poucas figuras, cansativas
citações. Mesmo assim, eu consegui ir até a última linha, sem pular nada, sem
fazer de conta que lia. E olhe que há detalhes aparentemente insípidos e
inúteis para o leitor comum, como eu sou. Informações inúteis como se tivessem
sido compiladas apenas porque o autor já as tinha coletado. Por que iria agora
deixar de fora?
Chego à conclusão que Fernando
Pessoa foi um poeta bêbado o tempo todo. Produzindo poesia sob o efeito da
droga. Uma poesia extremamente simples (apesar de erudita), dizendo coisas
triviais, mas de grande conteúdo, saídas de sua alma que funcionava sem
bloqueio nenhum devido ao álcool.
E seus poemas pegaram os
intelectuais de surpresa. Estavam acostumados a ler versos pesados, rimados,
metrificados, com palavras muitas vezes colocadas para encher o compartimento
da estrofe. E aí aparece um poeta leve, às vezes com rima, mas nem sempre. Às
vezes com métrica, mas nem sempre. E dizendo coisas que sempre estiveram à mão de
todos, mas ninguém as pegou, pensando sempre em buscar mais no alto a matéria
de seus poemas.
E virou lenda.
E porque virou lenda, qualquer
linha escrita por ele e por um de seus muitos heterônimos é tomada como poesia
de primeira, mesmo que nem seja.
Li o livro depois de Euclides
Oliveira que me emprestou e apenas para compor este texto preliminar passarei a
citar as frases sublinhadas na leitura dele e na minha que agora, depois dois
dias de terminar a leitura, ainda fazem sentido para mim.
(Página 32) - Carlota Joaquina chegou
em 1808. Quando retornou em 25 de abril de 1921 com nove filhos (dos quais
apenas cinco legítimos) bateu um sapato no outro e exclamou: nem nos sapatos
quero como lembrança a terra do maldito Brasil.
(Página 180 – Pessoa que sempre
sonhou com o prêmio (Nobel) nem isso mereceu.
(Página 201) – Odeio a página mal
escrita, a sintaxe errada... a ortografia sem ipsilone (?), como o escarro
direto que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a
ortografia também é gente!
(Página 211) – O poeta superior
diz o que efetivamente sente. O poeta médio diz o que julga que decide sentir. O
poeta inferior diz o que julga que deve sentir. E nada disse tem a ver com
sinceridade. Em primeiro lugar ninguém sabe o que verdadeiramente sente... (e
continua divagando).
(Página 233) – A obra pseudônima
é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor
fora da sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como
seriam os dizeres e qualquer personagem.
(Página
234) Pessoa falando sobre ele e seus heterônimos: Ponto de reunião de uma
pequena humanidade só dele”.
(Página 459) – Ser poeta ou
escritor não constitui profissão, mas vocação. Na verdade ser poeta não é
ambição minha, é minha maneira e estar sozinho.
(Página 496) – A respeito de Teixeira Pascoaes, poeta
então consagrado (falecido em 1952) e diretor literário da revista “Águia” (que
circulava à época em Lisboa), Júlio Brandão (simbolista de renome, falecido em
1947) considera o poeta Teixeira “uma bexiga de porco a rebentar de vaidades”, enquanto, Fernando Pessoa (badalado com todos os badalos,
falecido em 1935), tem-no como “o maior poeta lírico da Europa atual”.
(Página 659) – Um pequeno gênio
ganha fama, um gênio maior ganha despeito, um deus ganha a crucificação.
Citação de John Ferguson Nisbet, em A irmandade do Gênio.
(Página 65) último verso “Amanhã a
estas horas, onde estarei?”
(Aracaju, 05 de junho de 2012,
Antônio FJ Saracura)
Nenhum comentário:
Postar um comentário