sábado, 21 de novembro de 2020

JEITO DE MATAR LAGARTAS, Antônio Carlos Viana

 

JEITO DE MATAR LAGARTAS, Antônio Carlos Viana, 1. Edição, São Paulo, Companhia das Letras, 2015, isbn 978-85-359-2551-7.



Pessoalmente, poucos contatos tive com Antônio Carlos Viana. Quando soube dele, já era estrela de primeira grandeza, escritor consagrado, detentor de prêmios, com um fã clube estabelecido como se ícone da música popular.

A primeira vez que o vi foi em um evento que Ilma Fontes realizava no hall de entrada da Assembleia Legislativa o qual dava vez a escritores, músicos e pintores de se divulgarem. O Cantinho Cultural da ALS .

Antônio Carlos apresentaria um de seus livros, talvez, “Cine Privê” que já era best seller no circuito Rio-São Paulo.

Eu estava lá, ansioso, mas o escritor só apareceu até na última hora, com a cerimônia começada.

Ficou no círculo de homenageados. Não deu um riso sequer, não pronunciou uma palavra. Apenas foi louvado pelo orador do grupo e por Ilma, que evidenciou suas inquestionáveis qualidades literárias.

O grande escritor não trouxe nenhum livro para vender, o que era um praxe. Disseram algo sobre extravio de malas em aeroportos.

A verdade é que fui embora para casa quase como cheguei sem realizar meu sonho que seria conversar um pouquinho com a estrela.

Depois o encontrei nas rodas de leitura da Epifânio Dórea, onde apareceu em uma se suas vindas a Aracaju, liberado de seu retiro em Curitiba onde escrevia algum novo livro, acho que este aqui, “Jeito de Matar Lagartas.”

Foi tão solicitado, tão festejado, que não nem sobrou um ínfimo espaço para me achegar. No final, na saída atropelada, pois estava atrasado para um consulta médica, quase que joguei meu livro “Os Tabaréus do Sítio Saracura” ao seu peito. E gritei que gostaria que lesse e me dissesse algo. Ele não teve como escapar do livro e foi embora. Até a sua morte, não recebi um ai sequer.

O “Jeito de Matar Lagartas” chegou em minhas mãos no lançamento que o autor fez na Escariz da Jorge Amado, em 8/ago/2015. Fiquei na fila e ganhei do autor a seguinte dedicatória: “Para Antônio, que tbem escreve livros e conhece as armadilhas da literatura, estes contos nascidos num momento crucial de minha vida”.

Antônio Carlos lutava contra o câncer que o matou dois anos depois, em 04 de agosto de 2016.

Li o livro.

Lento, sisudo. Anda pesado, entranhado em uma camada subterrânea, quando o solo cheio de alegrias e vida está pertinho a menos de um metro acima. De quando em quando, o autor acusa essa proximidade, parece que vai rasgar a crosta e subir, mas retorna de cabeça baixa e continua sua caminhada de penitente. Há um quê de enterro, de sentinela alta noite, nos contos. Uma lágrima, um soluço doloroso se esperneia em cada frase, tentando escapar.

Mas, mesmo assim, os contos são belos, apesar de tristes, até macabros.

Antônio Carlos Viana produz boa literatura mesmo quando outros choram desventuras.

O livro contem 27 contos antológicos cuja leitura é indispensável.

Antônio Carlos Viana publicou: "Brincar de Manja" (1974), "Em Pleno Castigo" (1981), "O meio do mundo e outros contos" (1999), "Cine Privê" (2009), "Guia de Redação" (2010) e este, "Hora e Matar Lagartas" (2015). or   

 

(Antônio Saracura, 21 de janeiro de 2018, recuperada em novembro de 2020)

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