terça-feira, 17 de novembro de 2020

FALANDO PROPRIAMENTE, (E

 

FALANDO PROPRIAMENTE, (E Propriamente Falando), Marcos Melo, Editora: do Conde (2003, 2007).

 


Há alguns anos, bisbilhotanto a Escariz, deparei-me com um livro de Marcos Melo, que tinha uma crônica sobre o seminário de Maruim. Li pedaços, que me pareceram muito agradáveis. Nem sei por que não o comprei na hora. Depois, quando resolvi fazê-lo, sumira. Era o último dos moicanos.

 Recentemente (nessa nova fase de minha vida intelectual) fui apresentado a um homem grande e vermelho que já vira circulando por aí, como sendo Marcos Melo, por um amigo comum. Num café do shopping Jardins. Liguei-o, mentalmente, ao livro perdido. O amigo comum teceu elogios à prosa escrita do apresentado. Mas este não se abriu, apenas retribuiu lacônico o cumprimento e ignorou-me. Então saí de fininho, deixei os dois, já que eu, no caso específico, passara junto à dupla que tomava café e atendi chamado do tal amigo comum.

Visitando Euclides Oliveira (outro que tive a ventura de conhecer quando lancei “Os Tabaréus do Sítio Saracura”) bati os olhos nos livros de Marcos Melo sobre sua grande mesa de leitura. Cobicei-os, mas não tive coragem de pedir emprestado.

 No começo desta semana, em outra visita a Euclides, pedi-lhe que me emprestasse um deles. Trouxe para casa dois de uma vez, “Falando Propriamente” e “Propriamente Falando” que já acabei de ler. Num tapa doce.

 E seguindo os preceitos de minha religião, escrevo agora, como tenho feito com todos os livros que me caem nas mãos e me agradam, estes singelos e desconectados comentários, que chamo de resenha por pura pretensão.

Transportei-me para Propriá também, hipnotizado pelos textos mágicos do autor, convivendo com suas lembranças eternizadas. José de Fernandes com seis dentes de ouro, as folgadas calças braças de linho diagnonal e os sapatos da mesma cor, mergulhado na noite cinematográfica e cantando os boleros no diapasão de Agustin Lara. O toureiro Sossó, humilhando Geraldo Sem-medo e Lourinho Topa-tudo numa Propriá andaluz, fazendo bifes de Cafunga, o touro besta-fera trazido por Pedro Chaves, capaz de humilhar Dominguin. As procissões de Santo Antônio sob a regência de João da Mata, tocando velhos dobrados patrióticos e (olhem ele lá!) o arteiro Bodinho chupando tamarindo e afogando com a pródiga saliva todos os sons e tons. As bicicletas de saudosas marcas, muitas que nunca sequer ouvira falar, pois nos sítios de Terra Vermelha, em Itabaiana, o que havia mesmo era cavalo de pau. E as lambretas e vespas, estas até no Sítio Saracura chegaram, pois meu pai possuiu uma, com a qual alargou muitas veredas do povoado. Presto aqui uma homenagem especial ao doutor Faninho, que aparece nos dois livros, repetindo-se, mas ainda foi pouco. E também ao cônego Afonso Chaves e ao seu Seminário Mínimo de Maruim com a mesma cama patente e a mesma vocação de que falo em “Meninos que não queriam ser padres”.

Crônicas cadenciadas, poéticas, com rimas e métrica perfeitas apesar de implícitas, imortalizando Propriá, a sua boemia e sua vida social. 

O livro de Marcos Melo é muito bom. 

Leitura alegre, histórias consistentes. 

E cada uma melhor do que a outra.

 (Aracaju, 14 de agosto de 2011, por Antônio FJ Saracura. Resenha recuperada em nov de 2020).

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