O CARVALHO, de Jorge
Carvalho do Nascimento, Criação Editora, 2020,122p, isbn
978-65-88593-06-6.
No lançamento de “O Carvalho”, de Jorge Carvalho, realizado
no último dia 05 de novembro, através da Plataforma Zoom, isto é, de maneira virtual,
eu tive a honra de estar presente. Recebi o link do autor com a cortês
intimação de que fazia questão de minha presença. Um dia antes, em um encontro
casual na agencia dos correios do Shopping Riomar, quando eu enviava meus
livros para um leitora de Vitória do Espírito Santo e Jorge despachava pacotes
para o mundo (imaginei) ele sacou, nem sei de onde, um exemplar de “O Carvalho”,
autografou e me deu. Bati uma foto que divulguei, ao chegar em casa, no meu facebook.
Quando uso a palavra em público, sigo a lição de João Oliva
Alves (falecido recentemente e um dos grandes da Academia Sergipana de Letras) que,
ao me receber na redação do jornal “A Cruzada” nos idos de 1965, eu começava
ali o treinamento para uma carreira jornalística que retenho como meritória, me
ensinou: “procure dizer tudo com meia dúzia de palavras”. E me escoro na filosofia
cômoda de Adolfo Girardi Jorge, analista de sistemas de meu tempo de CPD em São
Paulo, nos idos de 1970: “para o bom entendedor meia palavra (palestra) basta”.
Na oportunidade, traduzi meu sentimento da leitura do livro que
fizera em parte e, agora, refaço e ratifico, pois concluí a leitura com gosto.
As crônicas que tratam da infância e juventude do autor (treze
iniciais, primeira parte) são filmes que nos transportam e nos enriquecem com
momentos da vida sergipana que também vivemos e não sabemos contar direito. Até
o “DKV da Professora” o livro vale por três ou quatro bons livros de memória ou
romance de família. Irretocável.
A avó, dona Petrina, católica militante, como eram os esteios
das famílias de então, mulher-varão, aponta os caminhos futuros e pega na mão com
rigor na condução do dia a dia vigente. É rainha com poder e aura de deusa da
mitologia.
A segunda parte do livro começa quando o personagem abandona a identidade própria (o Eu mágico, evidente ou oculto) e se transforma em cidadão do mundo, livre, com direito a ver, julgar e dizer. As crônicas “Amigos para Sempre”, “Was Ist Das” e “Noites sem Fogueira”, mesmo estando aqui, li-as como da primeira parte, pois têm característica similar. As demais (oito): duas experimentam a hostilidade das classes (“O Carvalho” e “A Rolha”) e as restantes ensaiam romance à la Francisco Dantas, que promete tanto quanto.
Quanto ao livro como um todo...
São crônicas, contos, romance ou poemas (depende da
empolgação do leitor) mas, na essência, é bom livro de História. Porque Memória
e História são água da mesma fonte. Mesmo que a Memória se vista de ficção. A escritora
Ana Miranda (dois Jabutis, veja no Google) afirmou, no que concordo, tanto que usei
como lema de “Os Ferreiros” (leia este também, pois é especial!) que “ficcionistas
são historiadores que fingem estar mentindo, enquanto, historiadores são ficcionistas
que fingem estar dizendo a verdade.”
“O Carvalho” narra, de maneira alegre e descompromissada,
fatos de vida do autor e da vida que correu à sua volta. Constrói um mundo vivo
que arrebata e que é a história de um povo digno, talvez fadado à derrota,
entretanto, vencedor, graças as artimanhas que cria para driblar as armadilhas
e seguir em frente de fronte corajosa e erguida.
Linguagem escorreita, jeito caseiro de narrar, que encantam.
Nada de rebuscamentos ou pedantismo literários. Palavras de uso comum que dão
um imenso prazer reencontrá-las. Frases fotografadas com a esmerada técnica do
autor que rodou o mundo captando almas das coisas e já publicou livro mostrando.
xxx
A entrada de Jorge na literatura é motivo de comemoração para
todos que escrevemos livros e que enfrentamos enorme dificuldade em acharmos
leitores para eles. Tenho ouvido pessoas falarem que nunca gastariam tempo lendo
livro de autor sergipano. Quero ver agora!
Jorge Carvalho tem credibilidade adquirida em anos de labor
na história, no magistério, na gestão pública, na seriedade com que trata a arte
de ver e dizer. E agora publica um livro de crônicas como nós fazemos. Abre um
caminho para andarmos junto.
O sucesso de Jorge Carvalho, que é dele e é justo, instigará
as pessoas a nos lerem também. E um pouco por conta do respeito que ele merece,
Antônio Saracura, Expedito Souza, e outros guerreiros destemidos que
trabalhamos na incessante busca do ótimo, seremos lidos também.
(Antônio FJ Saracura,
Aracaju, 14 de novembro de 2020)
Li na ASL em janeiro 2021
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