domingo, 15 de novembro de 2020

DIAS E NOITES, Tobias Barreto

 

DIAS E NOITES, Tobias Barreto, Editora UFS, 2004, 474p, isbn85-87110-30-X, 978-8587-110398

 



Euclides de Oliveira, cronista de primeira e leitor compulsivo de tudo que é bom livro, tem uma rica biblioteca em sua casa na rua São Cristóvão, na subida da primeira ladeira. Eu morro de inveja e desfruto de sua prodigalidade literária, quando me sugere e empresta livros raros.

Emprestou-me recentemente “Dias e Noites”, de Tobias Barreto, que venho sugando devagarinho. Temo que minha demora faça-o pensar que me apossei do livro e corte meu acesso ao seu acervo.

Deus me livre de uma desgraça dessa.

Segunda-feira, mesmo querendo ainda ficar com as poesias de Tobias ao meu alcance, devolverei o livro. Bem que gostaria de desfrutar cada poema demoradamente e evitar fazer o que tenho feito com frequência: soltar considerações apressadas e por isso superficiais, que algumas têm me garantido petardos doídos dos autores ou de seus fãs.

Mas...

Mas os bons poemas, como os bons amigos, mesmo fisicamente longe da gente, permanecem junto conosco, como um perfume indelével.

“Ignorabimus” está entre eles.

 

“Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo

E surdo ao brado do universo inteiro...

De dúvidas cruéis prisioneiro,

Tomba por terra o pensamento altivo.

 

Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo,

A quem chamam também Deus verdadeiro,

Veio o mundo remir do cativeiro,

E eu vejo o mundo ainda tão cativo!

 

Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo

Não deixou de provar o duro freio

Da tirania, e da miséria o travo,

 

Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,

Se o homem chora e continua escravo,

De que foi que Jesus salvar-nos veio?.

 

Tobias Barreto, 1880”

 

Uma pena que “O Acendedor de Lampiões” não de Tobias como circulou uns tempos, injustamente. Mas Jorge de Lima é outro monstro sagrado. 

Mas “Ignorabimus” apenas é suficiente para coroar Tobias como um dos grandes poetas brasileiros.

O poder de fogo do soneto faz com que, numa passagem ligeira, a maioria dos outros poemas em “Dias e Noites”, pareçam casuais, escritos porque era costume que todo intelectual escrevesse poesia na época.

Calma!

Há uma diferença que preciso ressaltar, entretanto: 

Os demais poemas de Tobias têm um quê especial, aquele gostinho que só os gênios podem dar à simplicidade das coisas. E que eu não posso definir, porque não sou nada diante de Tobias ou de você que me privilegia lendo o que escrevo.  


(Antônio FJ Saracura, Aracaju, 13 de julho de 2013)

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