DIAS E NOITES, Tobias
Barreto, Editora UFS, 2004, 474p, isbn85-87110-30-X, 978-8587-110398
Euclides de Oliveira,
cronista de primeira e leitor compulsivo de tudo que é bom livro, tem uma rica biblioteca
em sua casa na rua São Cristóvão, na subida da primeira ladeira. Eu morro de
inveja e desfruto de sua prodigalidade literária, quando me sugere e empresta
livros raros.
Emprestou-me
recentemente “Dias e Noites”, de Tobias Barreto, que venho sugando devagarinho.
Temo que minha demora faça-o pensar que me apossei do livro e corte meu acesso
ao seu acervo.
Deus me livre de uma
desgraça dessa.
Segunda-feira, mesmo
querendo ainda ficar com as poesias de Tobias ao meu alcance, devolverei o
livro. Bem que gostaria de desfrutar cada poema demoradamente e evitar fazer o
que tenho feito com frequência: soltar considerações apressadas e por isso
superficiais, que algumas têm me garantido petardos doídos dos autores ou de
seus fãs.
Mas...
Mas os bons poemas,
como os bons amigos, mesmo fisicamente longe da gente, permanecem junto
conosco, como um perfume indelével.
“Ignorabimus” está
entre eles.
“Quanta
ilusão!... O céu mostra-se esquivo
E
surdo ao brado do universo inteiro...
De
dúvidas cruéis prisioneiro,
Tomba
por terra o pensamento altivo.
Dizem
que o Cristo, o filho do Deus vivo,
A
quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio
o mundo remir do cativeiro,
E
eu vejo o mundo ainda tão cativo!
Se
os reis são sempre os reis, se o povo ignavo
Não
deixou de provar o duro freio
Da
tirania, e da miséria o travo,
Se
é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se
o homem chora e continua escravo,
De
que foi que Jesus salvar-nos veio?.
Tobias
Barreto, 1880”
Uma pena que “O Acendedor
de Lampiões” não de Tobias como circulou uns tempos,
injustamente. Mas Jorge de Lima é outro monstro sagrado.
Mas “Ignorabimus” apenas
é suficiente para coroar Tobias como um dos grandes poetas brasileiros.
O poder de fogo do soneto faz com que, numa passagem ligeira, a maioria dos outros poemas em
“Dias e Noites”, pareçam casuais, escritos porque era costume que todo
intelectual escrevesse poesia na época.
Calma!
Há uma diferença que preciso ressaltar, entretanto:
Os demais poemas de Tobias têm um quê especial, aquele
gostinho que só os gênios podem dar à simplicidade das coisas. E que eu não
posso definir, porque não sou nada diante de Tobias ou de você que me privilegia
lendo o que escrevo.
(Antônio FJ Saracura,
Aracaju, 13 de julho de 2013)
LI na ASL em 2021
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